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Foto: Presidência do Peru / Facebook

Com 4% de aprovação popular, Boluarte alimenta caos para justificar golpe militar no Peru

Objetivo de Boluarte é suspender as eleições gerais no Peru, agendadas para 2026, e implantar um regime fascistoide similar ao atual, mas ainda mais repressivo
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul Global
Lima

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Assim ficou o regime de Boluarte após o agravamento da crise de segurança cidadã, registrada nas últimas semanas em Lima e no interior. O “Estado de emergência” decretado na capital não serviu para nada.

Um professor foi baleado em Ate Vitarte na porta de um colégio; um ônibus foi atacado em Comas e o motorista foi assassinado; outros crimes ocorreram em Los Olivos, Carabayllo, Barrios Altos e El Agustino, localidades todas sob a tutela das Forças Armadas e da Polícia, objetivamente sem resultados.

Em contrapartida, o Congresso não aceitou revogar as leis contestadas pela população. E, vergonhosamente, alguns se somaram à bancada fujimorista, fechando fileiras em defesa da 32.108, um dos dispositivos unanimemente repudiados. Parece que certos congressistas, movidos por interesses subalternos, não percebem que o governo não combate a corrupção por descuido ou incapacidade, mas por cumplicidade com ela. E que as disposições legais aprovadas apoiam essa intenção.

De fato, são tipificados crimes de tal maneira que ficam isentos de penas altas aqueles imputados a um segmento delinquente vinculado à Máfia que nos governa; e se reservam sanções mais altas àqueles que são vinculados a ações destinadas ao povo.

Objetivos “terroristas”

A eles são atribuídos objetivos “terroristas“, e são acusados de pretender “desestabilizar o país”, quando não simplesmente de estarem inflados pelo ódio ao regime imperante. Discursos como os dos congressistas Montoya, Cueto ou Rospigliosi não fazem mais que alimentar esse rumo, que desqualifica e desacredita o próprio governo.

O Peru sabe que o titular do Interior ofereceu sua renúncia ao cargo caso sua “estratégia pacificadora” não funcionasse. Como obviamente isso ocorreu, todos esperam que ele saia, mas hoje a demanda se estende: exigem que caia o Gabinete e também a “Presidenta” e os Congressistas. O “que todos se vão” volta a soar como um refrão constante em todos os lugares.

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Novas Jornadas de Luta estão planejadas para outubro e novembro. E todas buscam unir em um só grupo transportadores, donos de lojas, comerciantes, donas de casa, estudantes, trabalhadores, profissionais e outros segmentos da sociedade. Entretanto, o governo age como quem ouve chover.

Não lhe importa o que pensam as pessoas, mas só o que desmereça sua própria imagem. Parece que incentiva o desgoverno e, mais ainda, que busca criar um clima de caos que justifique um Golpe Militar que, finalmente, suspenda as eleições gerais e apoie um regime fascistoide similar ao atual, mas ainda mais repressivo.

Bilhões de dólares

Por enquanto, planeja-se gastar 3,5 bilhões de dólares na compra de 24 aviões de guerra porque algum comando militar leu em algum lugar que o Chile quer invadir o Peru para se apoderar das águas do Lago Titicaca. E Dina busca comprar seu “Avião Presidencial” para suas viagens ao exterior. Quantas escolas ou hospitais poderiam ser melhorados com essa enorme soma?

Mas como nem tudo é doce, Boluarte já está perdendo a calma. Um sintoma disso foi registrado há 100 dias, quando suspendeu abruptamente seus encontros com a imprensa. Mas hoje isso se agravou e se expressa em cada intervenção que faz em eventos nos quais participa, rigidamente escoltada por seguranças, efetivos militares e franco-atiradores.

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Ali, entre sarcasmos, zombarias e impropérios, ela descarrega sua ira contra os moradores que, em qualquer parte do país, lhe demonstram desprezo e rejeição. Mas, além das palavras, suas ações operam: o “operativo castrense”, que ela pôs em marcha para ir à Procuradoria da Nação para depor na última terça-feira (15), revela por completo o seu pavor.

Só faltou tirar os tanques para a rua para “proteger a segurança presidencial”, como disse um alto comando. E é que o medo vai nas alturas. Hoje se sabe que são 500 os uniformizados encarregados da “proteção” da Presidenta e seus ministros. O que seria deles sem esses guardas?

Em favor das quadrilhas criminosas

Essa segurança não existe para nenhum dos povos afetados pela corrupção, a extorsão ou a pilhagem em qualquer uma de suas modalidades. Para transportadores, comerciantes, professores e muitos outros, a segurança cidadã não conta para nada. Pelo contrário, fica cada vez mais evidente um fato: o governo atua em função dos interesses das quadrilhas criminosas, e não da população.

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Por isso, a essas quadrilhas protege e ampara, enquanto reprime os moradores com balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo e carros de combate. É que se trata de um Estado Policial típico que procura se converter em Estado Militar.

Tudo isso configura um maior descrédito para um governo que hoje tem apenas 4% de aceitação cidadã e ameaça cair ainda mais. Nu e em derrota, ainda pode gritar por sua orfandade, mas isso não o faz mais forte. Ao contrário, acelera sua queda.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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