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Gustavo Petro em discurso de abertura da COP16 (Foto: Juan Cano / Presidência da Colômbia / Flickr)

Descarbonizar economia, controlar IA e trocar dívida por ação climática: o chamado de Petro na COP16

Realizada na Colômbia, COP16 registrou público recorde; Petro reforçou urgência de responsabilizar potências por crise climática e de criar novas formas de produção que respeitem a vida e a natureza
Camilo Rengifo Marín
CLAE / Centro Latino-Americano de Análise Estratégica
Bogotá

Tradução:

Ana Corbisier

O presidente Gustavo Petro insistiu, durante a inauguração da COP16, a cúpula mundial sobre biodiversidade que se realiza na cidade colombiana de Cali, na necessidade de trocar a dívida dos países mais pobres por ações que permitam combater a mudança climática.

Petro alerta na COP16: “Começou a extinção da biodiversidade e da vida”
Petro alerta na COP16: “Começou a extinção da biodiversidade e da vida”

Em um discurso de cerca de 20 minutos, o mandatário quis ressaltar a beleza da Colômbia e como esta pode ser fundamental para ganhar a guerra contra a mudança climática. E disse, de maneira enfática, que são “iludidos” os que consideram que não começou a extinção da biodiversidade e da vida.

“É fundamental hoje trocar dívida por ação climática. Não pode existir o risco como critério de medida da taxa de juros, nem taxar os empréstimos. Baixar o risco na dívida do terceiro mundo é hoje substancial. Se os fundos de capital e os fundos de pensões dos países ricos baseiam sua rentabilidade nas economias dos países pobres, deixarão a humanidade sem os instrumentos para superar a climática”, asseverou o chefe de Estado.

Não é uma ideia nova do mandatário já que se trata de um dos apelos que fez durante várias instâncias internacionais, entre elas as Nações Unidas.

“As economias arriscadas são as que podem exterminar a vida hoje, as que mais emitem CO2 na atmosfera, são as economias fósseis petroleiras, carboníferas e gasíferas, são as economias poderosas dos Estados Unidos, da China e da Europa. Por que cobram sobretaxas na taxa de juros dos países que ainda hoje absorvemos como esponjas o CO2 da atmosfera por nossas selvas e bosques, por meio de nossa biodiversidade?”, questionou Petro.

“Pela história os países biodiversos temos também acumulado as culturas da humanidade”, acrescentou o mandatário.

Inicia en Cali, Colombia, la COP16 por la biodiversidad en el planeta
COP16 pela biodiversidade no planeta.

“Somos o coração do mundo”

“Somos o centro entre a América do Norte e a América do Sul, somos o centro entre a China e a Indonésia e Madagascar e a Europa sem biodiversidade. Talvez poderíamos nos chamar de o coração do mundo, porque somos o coração da vida do planeta. E então, disseram-me os indígenas da Sierra Tayrona, que era o presidente do coração do mundo e que nossa luta era pela vida”, afirmou Petro.

O chefe de Estado insistiu em que a inteligência artificial não deve ser usada pensando na guerra, e menos ainda nas energias sujas, e sim em benefício da humanidade. “Mas não é a humanidade a culpada, seria uma falsidade ideológica, uma realidade deformada e fantasmagórica, dizer o que não é certo. Quem são os donos da inteligência artificial e quem desencadeia o colapso climático são os mesmos”, ressaltou.

Asseverou que “são alguns ricos poderosos que hoje são donos de redes e de inteligências sem vida, que querem escapar para Marte em suas naves de sonho, enquanto deixam suas culpas na terra destruída”, comentou o mandatário.

A mudança das finanças

O presidente Petro afirmou que é necessária uma mudança nas finanças internacionais que, a seu ver, hoje estão ligadas à cobiça e à morte. “Quem disse que a vida planetária pode ser salva por meio de projetos bancários, isto é, projetos ligados à taxa de juros, a projetos que dão lucro e preenchem as cobiças? Por aqui, ligar a superação da crise climática ou a regulamentação da inteligência artificial à cobiça só nos leva ao abismo”, garantiu.

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“Com os impostos sobre a mega riqueza depredadora, com a troca da dívida por ação climática, passamos a novos modos de produção, a um relacionamento diferente entre os seres humanos frente à produção e à riqueza, a uma maneira diferente de conceber e experimentar a riqueza, que se baseia já não nas energias fósseis da morte, e sim nas limpas que necessitam mais do sentir do que do ter. Mais de acumulação da cultura do que das coisas”, acrescentou o presidente Petro.

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“Já não é uma batalha por saques, por escravos ou conquistas. É a grande batalha da vida da qual a Colômbia quer fazer parte por ser o coração do mundo, o país da beleza”, concluiu o mandatário.

Com uma convocação recorde de mais de 21 mil delegados pré-inscritos, a COP16 torna-se a maior reunião na história desta cúpula de biodiversidade, atraindo representantes de quase todos os países do planeta.

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“Não se pode consolidar a paz em um território sem a inclusão da diversidade, sem a inclusão dos saberes específicos, sem fazer também Paz com a Natureza. E por isso desta experiência, desta busca vital, que como disse o presidente Petro também está hoje no coração do mundo, a Colômbia é o anfitrião desta COP16 para convidar o mundo a buscar esta Paz com a Natureza”, afirmou Susana Muhamad, presidenta que assume a COP16 e ministra do Ambiente da Colômbia.

A presidenta que assume a COP16 assegurou que a conservação da biodiversidade está profundamente ligada à ação climática, e que devido ao uso extrativista de recursos naturais são geradas hoje 50% das emissões de gases de efeito estufa, e ao mesmo tempo é isto o que está causando também 90% da perda de biodiversidade.

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“Recuperar poderosamente os ecossistemas e a natureza pode contribuir em quase 40% para estabilizar o clima e o ciclo do carvão”, enfatizou. “Oxalá a COP16 em Cali seja este primeiro objetivo, este primeiro lugar onde as formigas, sem falar, juntam-se para mobilizar a vida e mobilizar a Paz com a Natureza”, concluiu Muhamad.

Um apelo à descarbonização

Petro assegurou que é fundamental hoje trocar dívida por ação climática. “Não pode existir o risco como critério de medida da taxa de juro, nem tampouco taxar os empréstimos. Baixar o risco na dívida do terceiro mundo é hoje substancial. Se os fundos de capital e os fundos de pensões dos países ricos baseiam sua rentabilidade nas economias dos países pobres, deixarão a humanidade sem os instrumentos para superar a crise climática”.

“Só trocando o risco país por ação climática poderemos financiar o plano Marshall que detenha no planeta a crise climática: que descarbonize a totalidade da economia. Cobram uma taxa de risco daqueles que absorvem o CO2 que os mega ricos do planeta lançam na atmosfera: isso é um verdadeiro contrassenso mortal”, disse Petro.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Camilo Rengifo Marín

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