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Estela de Carlotto, durante celebração dos 40 anos do "Índice de Avós" (Foto: Victoria Montenegro / Instagram)

Praça de Maio: “Índice de avós”, que permitiu encontrar 137 netos, completa 40 anos na Argentina

Método científico teve grande importância na luta das Avós da Praça de Maio pela restituição dos netos desaparecidos durante a ditadura militar na Argentina
Redação Página 12
Página 12
Buenos Aires

Tradução:

Ana Corbisier

Um marco da luta pelos direitos humanos na Argentina recebeu sua homenagem nesta terça-feira (22). A deputada e presidenta da Comissão de Direitos Humanos da Legislatura, Victoria Montenegro, convocou para um ato pelo Dia Nacional pelo Direito à Identidade, no Salão Dourado, para comemorar os 40 anos da criação do Índice de Avós, com o qual foi possível encontrar até o momento 137 netos. Do evento participou Paula Logares Grinspon, primeira neta restituída pelas Avós da Praça de Maio, junto a sua avó, Elsa Pavón. “Em Paula e Elsa temos a força para seguir adiante e buscar os netos que nos faltam”, assegurou Montenegro.

No evento organizado pela presidenta da Comissão de Direitos Humanos, Garantias e Antidiscriminação da Legislatura Portenha estiveram presentes, entre outras pessoas, o secretário-geral de La Bancaria, Sergio Palazzo, o secretário de Direitos a ex-deputada Vilma Ripoll, o geneticista Víctor Penchaszadeh atual integrante do Conselho Consultivo do Banco Nacional de Dados Genéticos (BNDG), que em 1982 contribuiu junto com Estela de Carlotto e Chicha Mariani na elaboração do Índice — e a diretora-geral técnica do BNDG, Mariana Herrera Piñero. Ao finalizar o ato, Penchaszadeh e Piñero receberam um diploma em reconhecimento pela incalculável contribuição científica que realizaram para impulsionar a busca dos netos apropriados.

Montenegro destacou quão valioso era o encontro “nestes tempos tão obscuros, tão complexos e às vezes tão dolorosos, para pensar juntos a potência de nossa história, das resistências que vieram antes de nós, que são as Mães e as Avós, com os caminhos que se abriram respondendo a tanto horror de uma forma profundamente humana e amorosa”. Em relação ao 40° aniversário do Índice de Avós, destacou a importância que teve a contribuição científica na luta pela restituição dos netos.

“Hoje, nas escolas, se perguntarmos aos jovens como aparece um neto ou uma neta, há uma resposta quase óbvia, que é pela genética. Mas, quando desaparecemos, essa possibilidade não existia. E houve aqueles que decidiram abrir caminhos e tornaram possível, com o retorno da democracia, que tivéssemos um Banco Nacional de Dados Genéticos,” destacou a deputada pela Cidade, acrescentando: “Em Paula e Elsa encontramos a força para seguir adiante e buscar os netos que ainda nos faltam.”

Como identificar os netos apropriados pelos responsáveis pelo terrorismo de Estado? Essa era a pergunta que, ao final da última ditadura cívico-militar, tirava o sono das Avós. A necessidade de buscar soluções as levou a contatar Víctor Penchaszadeh, um médico pediatra da UBA que se exilou após ser perseguido pela Triple A e continuou seus estudos no exterior, onde se especializou no campo da genética. Em 1982, Estela de Carlotto e Chicha Mariani conheceram Penchaszadeh, que, por sua vez, criou o vínculo com a geneticista norte-americana Mary-Claire King. Assim começou a se desenvolver o chamado Índice de Abuelidade, um procedimento científico que permite determinar uma relação de parentesco sem os pais, através da análise de material genético dos avós e avós, e que possibilitou que, em 13 de dezembro de 1984, Paula Eva Logares Grinspon se tornasse a primeira neta restituída pelas Avós da Praça de Maio.

O caso de Paula 

No início do ato, foi exibido um emocionante vídeo documental sobre a história da família da primeira neta restituída pelas Avós. Em 18 de maio de 1978, em Montevidéu, foram sequestrados Claudio Ernesto Logares e Mónica Sofía Grinspon junto com sua pequena filha Paula, que na época tinha menos de dois anos. Foram trazidos para a Argentina e mantidos em cativeiro na Brigada de San Justo. O casal, até hoje, permanece desaparecido, enquanto sua filha foi apropriada por seis anos pelo subcomissário Rubén Lavallén e sua esposa.

“Desde que fui separada dos meus pais, vivi momentos horríveis, mas, graças ao trabalho da minha avó, da minha família e da Associação Avós da Praça de Maio e de muitas pessoas que faziam parte da equipe, agradeço e celebro estar em casa,” afirmou Paula, destacando a importância que teve e tem a construção coletiva na luta pela Memória, Verdade e Justiça, e na busca pelos netos apropriados durante o terrorismo de Estado.

Além disso, Paula lembrou das mobilizações durante os primeiros meses após o retorno da democracia, nas quais seu caso havia se tornado um ícone na luta pela recuperação da identidade dos netos apropriados durante a ditadura. “O que me surpreendeu, quando já estava com minha avó, foi a quantidade de marchas e manifestações que aconteciam com o meu nome. E não é que todas essas pessoas me conheciam; tinha a ver com crenças e convicções. Isso também está relacionado a tudo o que as Avós conseguiram,” assegurou.

“Nós não queríamos vingança; queríamos que nossos netos soubessem que não os havíamos abandonado, que estávamos procurando por eles. A partir disso, nasceu o Banco Nacional de Dados Genéticos,” lembrou Elsa, mãe de Mónica e avó de Paula, que se emocionou ao recordar sua filha e a quantidade de pessoas que se juntaram à busca por sua neta e pelos demais netos apropriados. “Estou muito feliz de poder viver este momento,” acrescentou.

Informe: Juan Pablo Pucciarelli

Página/12, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Redação Página 12

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