A “motosserra”, que o presidente de extrema-direita Javier Milei prometeu usar para destruir tudo o que obstaculizasse seu projeto de dissolução do Estado, tornou-se visível na sombria semana passada, quando ele demitiu a chanceler Diana Mondino por ter votado, na Assembleia Geral das Nações Unidas, contra o bloqueio imposto pelos Estados Unidos a Cuba há mais de 60 anos.
Isso abriu a porta para Milei ameaçar a chancelaria com uma auditoria (ideológica) no corpo diplomático, o que levou Mónica Frade, deputada nacional da Coalizão Cívica, a apresentar um projeto de declaração em repúdio a essa medida. “Os que não pensam como o presidente não podem continuar”, afirmou um funcionário do governo.
“Este governo é fascista”, diz Frade, apoiada por vários deputados de distintos partidos, e acrescento que o que está sendo denunciado é “um franco controle despótico do livre pensamento e, por isso, uma campanha de caráter persecutório contra aqueles que não se ajustam às diretrizes do pensamento libertário”.
Mondino já foi substituída em várias ocasiões pela irmã do presidente, Karina Milei, secretária-geral da presidência, que na realidade decide quem fica e quem sai do governo. Por exemplo, ela viajou à França e se reuniu com o presidente Emmanuel Macron e sua esposa, assim como com empresários franceses. Karina Milei foi de uma “médium” que fazia a comunicação entre o irmão e seu cachorro morto, Coan, para o mundo da política, sem nunca ter feito parte dele. Há quem a chame de “Rasputin” de Milei.
Milei nomeia milionário aliado a Israel com chanceler
A nomeação do novo chanceler, o embaixador nos Estados Unidos, Gerardo Werthein, um empresário multimilionário ligado ao governo de Israel, está causando uma grande inquietação. Dois ministérios-chave – Segurança e Defesa – estão nas mãos de Patricia Bullrich e Luis Preti, aliados fortemente a Israel e aos Estados Unidos.
No sábado (2), o presidente do Comitê Nacional da União Cívica Radical (UCR), Martín Lousteau, denunciou que um grupo de desconhecidos invadiu na última sexta-feira a sede partidária, destruindo móveis, computadores e saqueando arquivos.
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Isso acontece justo quando Lousteau, junto com Facundo Manes, acompanhado por militantes do centenário partido que reivindicam a figura do ex-presidente Raúl Alfonsín, assumiram o comando partidário, separando-se daqueles que se apoderaram da diretoria e se uniram na Coalizão Cambiemos com o ex-presidente Mauricio Macri, que encabeçava a direitista Proposta Republicana (Pro). Isso permitiu a Macri utilizar o único partido que, junto com o peronismo, tem presença em todo o país, para chegar ao governo de 2015-2019. Também apoiaram Macri em sua aliança com Milei.
As diferenças internas na UCR vieram à tona no bloco de deputados do Congresso, pois acabavam votando os projetos anticonstitucionais apresentados por Milei. Por isso, Lousteau e Manes encabeçaram a ruptura e confirmaram o “resgate” da UCR, razão pela qual foram várias vezes ameaçados.
Este não foi o único fato violento. Em 1º de novembro, ocorreu um ataque à Universidade Nacional Madres de Plaza de Mayo, considerado “um novo atentado: pessoas não identificadas invadiram o local e roubaram documentos digitais”.
Enquanto isso, a paralização nacional do Transporte foi cumprida 100% em todo o país, acompanhada pelas universidades — condenadas ao não financiamento pelo governo — e por setores da Saúde, que denunciam que foi suspensa a entrega de medicamentos às pessoas com HIV e às mulheres grávidas, e que tampouco chegam remédios ou equipamentos aos hospitais públicos.
A situação geral é desesperadora. O anuncio da subida do preço da gasolina e de todos os serviços públicos prenuncia uma semana em que se multiplicarão os conflitos.
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