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ToggleÀ medida que passam os dias, começam a emergir as numerosas falhas de segurança registradas nas horas que antecederam as chuvas torrenciais do último dia 29 de outubro no sudeste da Espanha, especialmente na Comunidade de Valência, com um saldo provisório de 222 mortos (até o momento da publicação desta notícia) e dezenas de milhares de afetados.
Os principais apontados, por negligência ou falta de perícia em sua atuação, são os responsáveis do governo autônomo valenciano, do direitista Partido Popular (PP), com seu presidente à frente, Carlos Mazón, que no dia em que ocorreu a depressão isolada em níveis altos (DANA) estava em um almoço até às 18h (horário local) com uma jornalista da região, Maribel Vilaplana, quando os alertas já começavam a ser ativados em vários municípios. Por essa razão, ele chegou com duas horas de atraso à reunião com o Centro de Coordenação da Crise da DANA (CECOPI).
Na cadeia de erros detectados, há várias instituições envolvidas que não atuaram de forma eficaz para mitigar os efeitos devastadores do fenômeno climático, provocado em parte pelo aquecimento global.
Também foi revelado que o sistema de segurança da Confederação Hidrográfica do Júcar, dependente do Ministério da Transição Ecológica e presidido pela socialista Teresa Ribera, não alertou sobre o transbordamento do barranco do Poyo, que foi o principal causador das enchentes em cidades como Catarroja, Paiporta, Benetúser, Alfafar, Sedaví e Picanya, as mais afetadas pelo desastre.
Desconhecimento e críticas à realeza
Entre os mais apontados como responsáveis pela crise, está a conselheira de Justiça e Interior, Salomé Pradas, que assumiu que só passou a conhecer a existência de alertas instantâneos, que podem ser enviados aos celulares da população, alguns minutos antes de emiti-los. Ela também foi acusada por vários prefeitos da região de não ter escutado seus chamados de socorro diante da situação desesperadora de suas cidades.
A maioria dos afetados pelas chuvas torrenciais também denuncia o desamparo em que estiveram durante seis dias, sem receber ajuda até a segunda-feira passada (4), em parte devido aos conflitos causados pela visita a Paiporta dos reis da Espanha, Felipe e Letizia, do presidente do governo, Pedro Sánchez, e do próprio Mazón.
Ineficácia de sistema contra inundações pode ter agravado enchentes na Espanha
A Casa Real informou que o rei Felipe VI pretende comparecer nesta terça-feira (12) às cidades afetadas pela DANA, completando assim a agenda que teve de suspender em 3 de novembro após o repúdio por parte dos afetados contra a comitiva oficial.
Enquanto isso, a Espanha registrou o mês de outubro mais chuvoso de sua história, que terminou com as inundações mais letais das últimas décadas no país, segundo informou a Agência Estatal de Meteorologia (AEMET). 30 veículos foram arrastados pela água em Cadaqués, na comunidade autônoma da Catalunha, conforme comunicado na quinta-feira (7) pelo corpo de bombeiros da região, onde o alerta amarelo permaneceu ativado diante da previsão de fortes chuvas.
Busca por desaparecidos em Valência
Apesar do escoamento da água pelos sistemas de esgoto e de as cidades mais afetadas pelas chuvas torrenciais da semana passada estarem, pouco a pouco, sendo limpas, ainda há 32 pessoas registradas como desaparecidas em Valência, e as buscas continuam em rios, na costa e até nos arrozais da região. Portais espanhois apontam ainda 16 corpos sem identificação, o que leva a crer que alguns dos desaparecidos possam estar entre eles.
Em localidades como Paiporta, Benetússer e Chiva, a situação foi crítica, pois o lodo impediu o retorno à certa normalidade, e há temor de que surjam infecções ou epidemias devido às condições de higiene.
Em relação aos confrontos ocorridos em 3 de novembro em Paiporta — quando os reis da Espanha, Felipe e Letizia, o presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, e o da Comunidade Valenciana, Carlos Mazón, foram recebidos com bolas de lama e gritos de “assassinos” e “traidores” — a Guarda Civil informou a detenção de três pessoas, que vivem nos vilarejos próximos à zona da catástrofe e que estavam ajudando nas tarefas de limpeza naquele momento.
Embora o governo espanhol tenha inicialmente acusado “grupos de extrema-direita” de serem os responsáveis pelos ataques, alegando que estavam “perfeitamente organizados”, os detidos não possuem vínculos com grupos ultradireitistas e vivem na região.
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