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Trump prometeu a maior deportação em massa da história dos EUA (Foto: Reprodução / Facebook)

Trump inicia formação de governo com “experts” em atacar imigrantes, China e América Latina

Time composto por figuras como Stephen Miller prova que Trump está disposto a aplicar medidas anti-imigrantes logo nos primeiros dias de governo
Jim Cason, David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Beatriz Cannabrava

O presidente eleito Donald Trump indicou que fechar a fronteira com o México e iniciar deportações em massa de imigrantes indocumentados estarão entre suas principais e imediatas prioridades. Por isso, figuram entre suas primeiras nomeações para o governo Stephen Miller — o arquiteto de suas políticas anti-imigrantes tanto atualmente quanto durante seu primeiro mandato — como vice-chefe de gabinete para políticas, e Tom Homan — ex-chefe da Agência de Imigração e Alfândega (ICE) — como seu “czar fronteiriço”.

As nomeações de Homan e Miller — a segunda ainda não anunciada pelo presidente eleito, mas confirmada pelo vice-presidente eleito J.D. Vance e outros nesta segunda-feira (11) — foram recebidas como uma confirmação de que, desde o primeiro dia de presidência, Trump pretende começar a cumprir suas promessas antimigratórias. Em uma mensagem na rede X, Trump anunciou que Homan será responsável pela “fronteira sul, fronteira norte e toda a segurança marítima e aérea”. Ele acrescentou que Homan “será encarregado de todas as deportações de estrangeiros ilegais de volta aos seus países de origem”.

Homan iniciou sua carreira na Patrulha de Fronteira e chegou a ser chefe de aplicação da lei e deportações durante o governo do ex-presidente Barack Obama — que muito antes de Trump ganhou o apelido de “deportador-chefe” pelo número elevado de deportações e expulsões de migrantes durante seu governo.

Como chefe interino da ICE no primeiro ano e meio da primeira presidência de Trump, Homan foi responsável pelo aumento dramático das deportações e implementou a medida de separar à força pelo menos 5 mil crianças de suas famílias imigrantes. Questionado recentemente pela CBS News se foi o autor dessa medida, Homan respondeu: “não redigi o memorando para separar famílias. Assinei o memorando”. Perguntado se a medida deveria ser reconsiderada, ele respondeu: “precisa ser considerada, absolutamente”. Acrescentou que talvez, no próximo governo Trump, não será necessário separar as famílias, pois “poderão ser deportadas juntas”.

Deportações em massa

Trump prometeu a maior deportação em massa da história do país. Porém, analistas assinalam que implementar tal operação seria muito caro. O American Immigration Council, em um relatório divulgado no início de outubro, calculou que deportar cerca de 13 milhões de imigrantes custaria aproximadamente 968 bilhões de dólares. Mas Trump, em um de seus primeiros comentários após vencer as eleições, reafirmou que o custo não importa, “precisa ser feito”.

A promoção de Miller a vice-chefe de gabinete na Casa Branca também envia o sinal de que o presidente deseja colocar em prática as deportações em massa e obter os recursos quanto antes. Segundo o próprio Miller e outros, entre as propostas já elaboradas estão o uso da Guarda Nacional para realizar prisões em massa, a instalação de campos de detenção para imigrantes indocumentados e a declaração de “emergência nacional” para empregar fundos e pessoal governamental não autorizado para esse propósito.

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A equipe de Trump já elaborou ordens executivas que poderiam ser assinadas em 20 de janeiro de 2025, dia em que Trump toma posse. Entre essas ordens, estão as que permitem a “expulsão expedita” de indocumentados e a reimplementação da “emergência” sob o chamado Título 42, que também facilita as expulsões. Miller também afirmou que o novo governo pretende restaurar o programa “Fique no México”, que obrigaria os imigrantes que solicitam asilo a esperar no México enquanto seus pedidos são processados — embora especialistas digam que isso requer a aprovação do governo mexicano.

Alguns indicam que será muito difícil implementar essas medidas. Trump tem repetido que está usando como modelo para sua proposta a medida empregada pelo presidente Dwight Eisenhower em 1954, conhecida como Operação Wetback, a maior operação de deportação da história do país, implementada pela Patrulha de Fronteira com operações militares para prender, deter e deportar cerca de 1,3 milhão de mexicanos indocumentados. Muitos foram deportados em vagões de gado a partir de Los Angeles e outras cidades até a fronteira.

Direitos e ações judiciais

Defensores dos direitos dos imigrantes, como a União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU), já preparam ações judiciais para tentar bloquear a implementação dessas medidas, como conseguiram até certo ponto durante o primeiro governo Trump. Enquanto isso, advogados de imigração tentam se preparar para o que um deles qualificou, em entrevista ao La Jornada, como “um tsunami” para as comunidades imigrantes.

Embora caiba assinalar que mesmo antes da chegada de Trump as deportações aumentaram — de fato Biden deportou mais indocumentados em 2023 do que Trump em qualquer ano de seu primeiro mandato —, o que está sendo ameaçado agora é um ataque anti-imigrantes sem precedentes.

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Essas medidas, segundo Miller, poderiam ser acompanhadas por planos para anular diversos programas de proteção temporária para indocumentados. Entre eles, um programa que permite a solicitantes de asilo de Cuba, Venezuela, Haiti e Nicarágua a entrada temporária nos Estados Unidos enquanto aguardam o processamento de seus casos. Também está em análise a eliminação do programa DACA, que concedeu legalização temporária aos chamados Dreamers — aqueles que foram trazidos para o país como menores de idade por familiares — e outro programa, o “Status de Proteção Temporária” (TPS), concedido a imigrantes de certos países considerados perigosos.

Dois senadores próximos a Trump, Lindsey Graham e Ted Cruz, também propuseram modificar as leis para que filhos de imigrantes indocumentados nascidos nos Estados Unidos não recebam automaticamente a cidadania — mas isso requer uma mudança na Constituição dos EUA.

Processo acelerado

Enquanto isso, continua de maneira acelerada o processo para preencher cargos-chave do próximo governo Trump, após a primeira nomeação de Susie Wiles, copresidente da campanha do republicano, como chefe de gabinete — a primeira mulher a ocupar esse cargo na história.

Segundo a mídia, Trump tem uma “sala de situação” instalada em sua mansão Mar-a-Lago, na Flórida, onde avalia “dossiês digitais” de possíveis candidatos para posições-chave em seu governo.

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Lá, ele é acompanhado por um grupo reduzido, que inclui, em momentos distintos, o vice-presidente eleito J.D. Vance, e dois bilionários, Elon Musk, dono da Tesla, X e SpaceX, e Howard Lutnick, chefe da empresa de serviços financeiros Cantor Fitzgerald e copresidente da equipe de transição.

Esta equipe de transição anunciou também nesta segunda-feira que a deputada federal direitista Elise Stefanik será embaixadora na Organização das Nações Unidas e que o ex-deputado federal Lee Zeldin liderará a Agência de Proteção Ambiental, onde buscará desmantelar regulações ambientais e promover a ampliação da produção de combustíveis fósseis, conforme Trump prometeu em campanha.

Rubio como secretário de Estado

Trump pretende nomear o senador cubano-americano Marco Rubio, um crítico do ex-presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador e feroz opositor dos governos de Cuba e Venezuela, como o próximo secretário de Estado, segundo múltiplas reportagens da mídia estadunidense (embora ainda não confirmado oficialmente). Rubio tem uma longa trajetória como “falcão”, especialmente contra governos de esquerda nas Américas, além de Irã, China e outros, e não esconde suas críticas ao governo de Andrés Manuel López Obrador.

“Fico feliz em ver que o presidente mexicano, que entregou seções de seu país aos cartéis de drogas e é um apologista da tirania em Cuba, de um ditador assassino na Nicarágua e de um narcotraficante na Venezuela, não estará nos EUA esta semana”, tuitou o senador em 7 de junho, após López Obrador anunciar que não compareceria à Cúpula das Américas em Los Angeles em 2022. O mandatário mexicano se recusou a participar porque o anfitrião, os Estados Unidos, não convidou todos os países do hemisfério, ao excluir Cuba, Venezuela e Nicarágua.

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O senador da Flórida, que foi brevemente pré-candidato republicano à presidência em 2016 antes da nomeação de Trump, também propôs sanções estadunidenses contra o México pelo acordo do país vizinho de receber médicos cubanos, e porque a Pemex enviou petróleo para a ilha de onde seus pais emigraram em 1956.

Rubio, que também foi o republicano de mais alto nível no subcomitê sobre o hemisfério ocidental do Comitê de Relações Exteriores do Senado, adotou uma postura mais cautelosa em relação à presidente Claudia Sheinbaum. Após sua eleição, Rubio expressou que “enquanto os Estados Unidos continuam enfrentando uma crise sem precedentes contra o fentanil e a migração ilegal, espero que a presidente eleita Sheinbaum enfrente esses temas com firmeza. Os Estados Unidos devem estar preparados para enfrentar desafios contínuos no futuro das relações entre Estados Unidos e México com o crescimento do crime transnacional, da corrupção e do narcoterrorismo”.

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Já sobre o genocídio palestino em Gaza, o parlamentar declarou: “Insto Sheinbaum, como a primeira presidente judia do México, a apoiar nossos aliados israelenses após o ataque terrorista injustificado do Hamas e a condenar energicamente aqueles líderes – tanto em nossa região quanto no mundo – que estão rompendo laços com o Estado judeu de Israel”.

Críticas ao governo mexicano

No final de agosto, Rubio enviou um tuíte declarando que “as reformas do presidente López Obrador e da presidente eleita Sheinbaum são uma ameaça aos valores democráticos de nossa região”, depois que ele e vários outros senadores expressaram sua “preocupação” com a reforma judicial no México. Rubio não só questionou os encarregados pela relação bilateral do lado mexicano. Em 2015, bloqueou a nomeação de Roberta Jacobson como embaixadora no México por seu papel em ajudar na negociação diplomática para a normalização das relações com Cuba durante os dois últimos anos da presidência de Barack Obama.

O senador também criticou o Departamento de Estado, a secretaria que, ao que parece, ele irá comandar, por interpretar que o órgão tentou frear os planos de Trump para restaurar as sanções contra Cuba que Obama havia revogado. “As pessoas de carreira no Departamento de Estado, no Tesouro e em outros lugares não são favoráveis à mudança dessa política”, disse ele a Trump. Três dias depois, o então presidente Trump viajou a Miami e reverteu a abertura a Cuba. Rubio criticou ainda a política do presidente Joe Biden à Venezuela. Quando o governo Biden levantou as sanções sobre o petróleo da Venezuela, Rubio declarou: “outro fiasco de política externa da equipe Biden-Harris”.

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Até o fechamento desta edição, a nomeação de Rubio ainda não havia sido confirmada pela equipe de transição de Trump, embora New York Times, Politico, Reuters e CNN tenham informado que a decisão já foi tomada, mas adiantando que Trump poderia mudar de ideia no último momento.

A seleção de Rubio é curiosa, pois ele foi um crítico feroz de Trump durante a campanha pela nomeação republicana em 2016, tomando posições muito diferentes das de Trump em política externa. Por exemplo, Rubio promoveu com sucesso uma lei em 2024 que exige um ato do Congresso antes que um presidente possa ordenar a retirada dos Estados Unidos da Otan – algo que Trump frequentemente ameaça.

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Mas Rubio oferece vantagens para o presidente eleito. Sendo o primeiro republicano a conquistar mais de 45% do voto latino (54% dos homens latinos), Trump poderia anunciar que está nomeando o primeiro secretário de Estado latino da história. Além disso, aos 53 anos, Rubio também representa uma geração de republicanos mais jovem do que o presidente eleito.

Entretanto, as reuniões de gabinete poderiam ser um pouco complicadas, já que Trump é famoso por criar apelidos para todos os seus opositores, e o que usou para Rubio em 2016 foi “little Marco” (o pequeno Marco), e resta saber se continuará o chamando assim.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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