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ToggleNa última dia 29, teve lugar em Lima um importante evento regional que passou despercebido para um bom número de peruanos. A 22ª Conferência Presidencial Andina foi ocultada pela “Grande Imprensa”, que optou por dedicar suas primeiras páginas aos 30 meses de prisão ditados pelo Juiz Gómez contra Yennifer Fernández, ou às movidas da inconsistente representação parlamentar empenhada em interpelar e censurar o Ministro da Habitação como parte de seu ritual. Depois, virá o titular do Interior.
O Pacto Andino, conhecido também como O Acordo de Cartagena, está chegando ao meio século de existência. Foi formado no final dos anos sessenta e buscou integrar em uma comunidade de interesses e afinidades os países de nossa região, unidos pela Cordilheira dos Andes. Concorreram, no início, Venezuela, Colômbia, Equador, Bolívia e Chile, mas nem todos miraram esse processo com o otimismo requerido.
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Nos anos 70, quando a CAN pôde alçar voo, impulsionada sobretudo pela empenhada e soberana política exterior independente alentada por Juan Velasco Alvarado, perdeu o chão. A queda do processo peruano de então foi um duro golpe que não lhe permitiu superar a barreira do tempo.
Em 74, o regime fascista de Pinochet retirou o Chile do Pacto Andino, enquanto que, desde 75, Morales Bermúdez freou as inquietações integracionistas que animaram sua essência. Venezuela, nesse marco, optou por retirar-se da Comunidade, e o auspicioso acordo passou por um prolongado letargo.
Virtualmente, entre esses anos e agora, a CAN viveu quase na ponta dos pés. Se não morreu, isso pode ser atribuído a dois fatores: o trabalho burocrático do escritório de Lima, que desenvolveu uma atividade de rotina que manteve vivo o Acordo; e a atividade empenhada do Grupo Trabalhista Andino, integrado pelos trabalhadores, e no qual cumprira esforçadamente suas atividades Carlos Ortiz Cornejo, o representante peruano da CGTP.
Foto: Bolívar Parra/Presidência da República | Fotos Públicas
Reincorporação de Venezuela e Chile e integração da Argentina converteriam Acordo Andino na coluna vertebral da zona sul do continente
Pacto Andino versus Aliança do Pacífico
Os governos neoliberais da região desdenharam do Pacto Andino, e orientados por Washington preferiram ver a Aliança do Pacífico como se fosse a verdadeira alternativa de integração. Esta aliança, na verdade, esteve representada basicamente por governos de um mesmo signo.
Em seu maior esplendor, foram as administrações de Santiago, Lima, Bogotá e México as que manejaram a batuta. Desse modo, Sebastián Piñera, Alan García, Álvaro Uribe e Peña Nieto assumiram o protagonismo de uma unidade que nunca chegou a se concretizar.
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Como os que integravam essa “Aliança” eram todos países ribeirinhos, adjacentes ao mar, apareceram então como os da “costa”, contrapostos aos andinos considerados como “os da serra”. Também houve no tema um certo grau de racismo, dissimulado, por certo, porém mais ou menos ostensivo.
O encontro do dia 29 em Lima teve dois propósitos: transferir a Presidência Pro Tempore da Comunidade a Pedro Castillo, junto com o mandatário equatoriano Guillermo Lasso; e debater e analisar a situação que enfrentam os países membros da Comunidade.
O reconhecimento de Castillo na Presidência da CAN tem um certo sabor simbólico. Ocorre no momento em que se entremeiam dois processos. Por um lado, o presidente peruano sofre o assédio galopante da tríade de Poder construída entre a Promotoria da Nação, a Grande Imprensa e a ultradireita política; e, por outro, se registra um significativo incremento do estimado cidadão nas enquetes de opinião manejadas, no entanto, pelos opositores do regime. Como reconhecem inclusive certos analistas políticos, Castillo cresce ao mesmo tempo que é atacado.
O reconhecimento do professor peruano haverá de cair muito bem para ele porque, depois de tudo, é um sinal de alerta em um momento difícil, quando o inimigo esfrega as mãos e afia facas com a ideia de cortar cabeças a curto prazo. Mas não é, tampouco, um fato decisivo. Para o Chefe de Estado peruano, constitui um desafio que só poderá encarar se perfilar melhor sua mensagem e suas ações concretas.
Gustavo Petro
A figura do evento de Lima foi sem dúvida Gustavo Petro. Com simplicidade e modéstia louvável, deu verdadeiras aulas de política a todos os que ouviram sua mensagem, que só foi transmitida pelo Canal 7 da TV, e não encontrara o menor eco na imprensa escrita.
O novo mandatário colombiano olhou o mundo com um critério verdadeiramente internacionalista, e advogou pelo fim da guerra que hoje acontece em território ucraniano e que é artificialmente alongada pelos fãs belicistas da OTAN; propôs uma integração ativa; uma nova política antidrogas orientada a enfrentar o narcotráfico e o crime organizado, em novas condições; proteger o meio ambiente e a biodiversidade; e promover um acelerado processo de industrialização.
Estas metas não são ilusórias, mas requerem fortalecer a CAN. A reincorporação da Venezuela e do Chile e a integração da Argentina converteriam o Acordo Andino na coluna vertebral da zona sul do continente. Complementaria a UNASUR e seria uma peça chave para o fortalecimento da CELAC. 7 países da América do Sul concertados em uma só vontade de desenvolvimento seriam uma força decisiva no cenário do nosso tempo.
Em circunstâncias como esta, o sonho do Libertador parece coalhar: “Unidade, unidade, unidade, deve ser nossa divisa!”, nos disse Bolívar. E isto não é um mito do passado, mas sim o desafio de hoje e, sobretudo, uma projeção de futuro.
Gustavo Espinoza M., colaborador da Diálogos do Sul em Lima, Peru.
Tradução: Beatriz Cannabrava.
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