Diz a lenda que antes da tormenta se costuma ouvir o rugido dos deuses. Neste caso houve rugidos, sim; mas não tormenta. Os deuses do Olimpo Parlamentar gritaram antes, mas não desataram sua ira. A “Grande Imprensa” disse que falaram em voz baixa. No entanto, não se pode negar que o enrarecido clima político nacional se agravou ainda mais.
Em realidade, ocorreram três fenômenos que incidiram significativamente para que isto suceda: a conduta dos porta-vozes da ultradireita que “esquentaram” o cenário com acusações violentas e extremas; o papel dos meios de comunicação empenhados em uma guerra de demolição contra o Chefe do Estado; e a ofensiva da Promotoria e outras estruturas desse tipo que insistem em acumular denúncias contra tudo o que seja próximo ao Presidente, no cantado ânimo de desacreditá-lo, até fazê-lo cair.
Está na moda isso que alguns chamam de Lawfare, termo que serve para descrever um procedimento perverso mediante o qual se elabora um conjunto de presumidos delitos, se organiza um poder persecutório e se escolhe uma vítima à qual se busca destruir a qualquer preço.
Trata-se de uma variante da judicialização da política, que começou em nosso continente quando se acusou a Lula da Silva, no Brasil, e se chegou a condená-lo a penas infamantes e sem nenhuma sustentação real.
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Quando passou o vendaval e foi possível reconstruir os fatos, se pode estabelecer a falsidade das acusações esgrimidas contra quem fora o primeiro Presidente Operário desse enorme país. Depois de alguns anos em injusta prisão, Lula reivindicado assoma hoje como o mais popular dos políticos e o próximo Chefe do Governo na Pátria de Prestes.
É claro que a ultradireita já fracassou em suas várias tentativas de desestabilizar o regime de Pedro Castillo. Na realidade, nunca lhe faltou desejo de alcançar esse objetivo. O que lhe faltou foram razões e, como consequência, força, entendida como um resoluto apoio cívico.
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Durante doze meses – logo serão treze – seus porta-vozes, dentro e fora do Poder Legislativo, se empenharam a fundo para conseguir esse propósito. Por isso, não se pode mesquinhar reconhecimentos nem adjetivos a congressistas e políticos defasados que levantam a voz e usam imprecações violentas e agressivas, não para convencer ninguém, mas para mostrar o ódio e a impotência que lhes consome as entranhas.
Eles, que acusam ao Presidente do Conselho de Ministros de “incitar a violência” e fazem discursos filisteus, não só incitaram a violência na tarde e noite de 5 de abril de 2022, mas, além disso, a levaram à prática semeando o pânico, a soçobra e o caos no centro de Lima, como uma forma de expressar seu “protesto” contra o Governo.
Como se recorda, causaram grandes prejuízos, inclusive a centros comerciais os quais nunca repararam. Não obstante – e apesar de que muitos autores desses latrocínios foram identificados – nenhum foi detido nem processado, ficando em evidência a parcimônia de um Governo que objetivamente não sabe se defender.
Não só fizeram uso da violência nessa sombria circunstância, mas a exercem constantemente através de bandos neonazistas, como “La Resistencia” e outros grupos sediciosos, que atacam moradias, golpeiam pessoas e perseguem adversários por ruas e avenidas, contando para isso com uma espécie de impunidade garantida por segmentos do Poder Judicial, que acabam por desconsiderar denúncias apresentadas contra eles sob argumento de uma incrível “falta de provas”.
O papel da imprensa nessa ofensiva tem sido evidente. As e os apresentadores de TV nos canais mais vistos é por certo indicativa. Milagros Leiva, Beto Ortiz, Phillips Butters, Rosana Cueva, Mávila Huerta e outros não cumprem sua função apresentando notícias, mas dedicam os programas que comandam para “convencer” aos que podem de uma “razão” que não lhes assiste.
Reprodução – Twitter
A todos se busca usar como “colaboradores eficazes” que possam acusar Castillo de ser “o Chefe supremo de uma Organização Criminosa”
Mas na maioria dos casos, o fazem valendo-se de uma linguagem procaz, simplesmente obscena, sem o menor respeito pela investidura presidencial. Ofendem ao Chefe do Estado com injúrias que não seriam toleradas em nenhum outro país.
E o Ministério Público se soma a tudo isso, sem respeito algum pelos procedimentos legais formalmente reconhecidos. Não só acusa por toda parte, mas além disso, parece entregar aos meios de comunicação informação reservada – e sem investigar – para que seja difundida e divulgada de forma escandalosa.
Por isso os “dominicais” mostram “primícias” em torno das quais especulam grosseiramente. Assim se estendeu a investigação a toda a família do Chefe do Estado, incluindo sua esposa e filhos.
E a todos se busca usar como “colaboradores eficazes” sob uma única condição: que acusem Pedro Castillo de ser “o Chefe supremo de uma Organização Criminosa”. Desse modo, os livrará de qualquer culpa ou sentença que lhes pudesse ditar.
Neste marco, o único que falta – e seria a chave de ouro – é que o chamado “Camarada José” se entregue e se acolha à “colaboração eficaz”, afirmando que “coordenava ações” com Castillo.
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É claro que o governo “põe a sua parte” para se desacreditar. A negativa de ratificar o Acordo de Escazú em defesa do Meio Ambiente, a ruptura com o Estado de Sajarahui e a designação de Rodríguez Mackay para a Chancelaria somam pontos para a desconfiança e estimulam o rugido que antecede a tormenta.
Não obstante, tudo tem servido para que os campos se perfilem mais nitidamente. As pessoas, as organizações sociais e as forças mais avançadas vão tomando finalmente consciência da imperiosa necessidade de fechar a passagem ao Golpismo.
Gustavo Espinoza M., colaborador da Diálogos do Sul em Lima, Peru.
Tradução: Beatriz Cannabrava.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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