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ToggleEste derradeiro ano de desgoverno ianque no Brasil pode jogar a economia do país – e a saúde da população – no buraco mais profundo da Terra: as Fossas Marianas
Guedes, o superministro de economia, da escola econômica favorita do ditador chileno Augusto Pinochet, entregou a Telebras, responsável por implementar as Políticas Públicas de Telecomunicações do Brasil, recentemente, usando o mesmo “modus operandi” de Fernando Henrique Cardoso (FHC) nos anos 1990: preço irrisório, demissão em massa de trabalhadores, financiamento amigo por bancos oficiais.
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Em conversa com a revista Diálogos do Sul, o professor de geopolítica da USP André Martin, desmitifica a ideia erroneamente implantada na população de que a privatização da telefonia no país foi positiva e que o serviço oferecido hoje é melhor do que o que seria realizado pela antiga Telesp, privatizada por FHC.
Foto: Otávio Magalhães
“Compra da Telesp pela Telefônica, da Espanha, estava envolvida num projeto muito maior", explica o professor André Martin
Projeto Maior
Aloisio Biondi foi o mais arguto economista com quem tive o privilégio de trabalhar, na redação da Folha de SP. Recomendo a leitura de “O Brasil Privatizado” [Um balanço do Desmonte do Estado], dele – melhor obra sobre o tema.
Confira trecho, pág. 8:
– Esse demônio só liga no número errado. É o terceiro orelhão com defeito em que estou tentando…
– É, tá um inferno mesmo, retruca o Zé, do orelhão ao lado. E completa:
– E olhe que estou sendo forçado a vir fazer ligações no orelhão porque o telefone lá de casa ficou mudo há duas semanas. E disseram que tudo ia melhorar com a tal privatização.
Aloisio Biondi faz muita falta. Mas Martin tem uma história interessante sobre a privatização do sistema telefônico brasileiro, que ele classifica como “singular”.
“A compra da Telesp pela Telefônica, da Espanha, estava envolvida num projeto muito maior. Pouca gente conhece o que realmente envolveu essa transação. Mas ela foi capaz de levar a modesta empresa espanhola – Telefônica – ao ranking das maiores do mundo”.
Cervantes Estratégico
O negócio foi uma festa entre amigos e cúmplices. A Telefônica não tinha capacidade, diz Martin, de operar um sistema complexo como o de São Paulo. Na verdade, sustenta, os castelhanos eram atrasados em diversos aspectos.
Vergonhoso. Mesmo assim, o acordo teria se mantido graças a um suposto acerto muito mais importante, do governo espanhol com o alemão, batizado de “Plano Cervantes”. Este seria o nome do plano secreto que as potências europeias teriam escolhido para corromper a privatização da Telebras em benefício próprio, com apoio oficial.
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“A lógica do processo fica clara quando se percebe que, ao invés de as empresas de fora comprarem produtos feitos no país, elas passam a comprar só de empresas alemãs”, frisa.
Esse plano, diz, teria significado, sem dúvida, o desmanche do Estado de São Paulo como centro dinâmico tecnológico das telecomunicações e revertido a transferência disso para Espanha. “Nada poderia ser mais trágico para o estado e o país junto”, reconhece ele, com pesar.
Falácia do Mercado Autorregulador
Nesse inolvidável legado de FHC, Pindorama entregou graciosamente a Telebras, então maior empresa de ponta ao Sul da América do Sul.
Os diálogos do livro supracitados por Biondi, de São Paulo, se repetiam, no sentido, em todos os pontos cardeais do Brasil. Multidões protestavam contra a queda na qualidade dos serviços de telefonia fixa e móvel, recorda o geopoliticólogo da USP.
Martin lembra que o processo que arrasou a telecomunicação também atingiu as ferrovias: “a Ferrovia Paulista S/A (Fepasa) foi igualmente desmantelada. O Estado entregou tudo para os espanhóis, despudoradamente”.
“São Paulo produzia aqui os carros do Metrô. Hoje 100% deles são importados da Espanha ou da Coréia do Sul, mas nós éramos muito mais adiantados” do que qualquer outro país, lembra.
Massa Crítica
André Martin sustenta que a grande perda do Brasil nesse processo — corrupto até a medula — foi da massa crítica nativa.
“O núcleo forte de uma empresa é sua massa crítica. A empresa consegue reunir, cientistas, engenheiros, corpo de funcionários especializados, de conhecimento prático adquirido no dia-a-dia”, pontua o professor.
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Por exemplo, uma empresa como a Embraer constrói uma massa crítica ao longo dos anos; as pessoas trabalham juntas, começam a entender o que estão fazendo, se propõem a projetar em conjunto, fazem um trabalho duro. De acordo com ele, isso ocorria no Metrô de São Paulo, na Embraer, na Telesp:
“Essa massa crítica foi sugada, desmontada pelos sanguessugas colonizadores.”
Lava-Jato
Outro exemplo bem-sucedido de empresas nacionais eram as grandes construtoras. O Brasil exportava expertise e mão-de-obra para diversos países em desenvolvimento antes do golpe de Estado que destituiu a ex-presidenta Dilma Rousseff.
Nossas empresas de engenharia pesada mostraram-se aptas para concorrer no mercado internacional e “eram grandes empresas de países pequenos que poderiam ameaçar a hegemonia das grandes construtoras dos EUA”, explica o professor.
“Só que a Operação Lava-Jato veio para destruir a reputação desse setor do capital brasileiro”, lamenta o entrevistado. A Odebrecht, por exemplo, era líder de mercado:
“Nossas empresas estavam subindo, mas não resistiram ao peso da Lava-Jato, que veio para destruir esse setor do capital brasileiro. Reconhecidamente, a Odebrecht era reconhecida como dona de uma engenharia de ponta. Destruída pela corrupção da Justiça do Brasil”, observa.
Ouro e Prata da Casa Roubados
Os brasileiros inventaram equipamentos como o identificador de chamada, o bina, e os orelhões, recorda Martin. Assim como os códigos DDD e DDI, que são universais hoje: “fomos literalmente roubados também nisso”.
Além disso, a Telebras gerava lucros, como prova o Centro Tecnológico de DDI, em Santa Catarina. Lá, havia uma unidade de estudos e os espanhóis cooptaram os cérebros para modernizar o serviço telefônico do país deles.
Na concepção do geopolítico, se esses profissionais tivessem sido mantidos na empresa estatal, o benefício seria enorme para todo o país. Estaríamos gerando empregos de qualidade e diminuindo o custo das ligações que, segundo ele, é simplesmente o maior do planeta e chega a ser até vinte vezes maior do que em outras partes do mundo. Curioso não é.
Amaro Augusto Dorneles e Vanessa Martina Silva | Diálogos do Sul
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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