A delegação sindical internacional que presta solidariedade à Colômbia como observadora do processo eleitoral deste domingo (29) esteve presente na véspera, em Bogotá, para uma coletiva de imprensa, momento em que alertou para os riscos de fraude e violência contra a oposição por parte do atual governo. Há cinco milhões de cédulas inscritas cujos eleitores já morreram e inclusive estariam cobrando auxílio oficial superior a 800 mil dólares.
Uma das evidências mais latentes da suposta “liberdade de expressão” existente no país, denunciada pelos dirigentes, foi o completo silêncio dos monopólios midiáticos a respeito dos graves problemas enfrentados pelos trabalhadores, como a precarização e o desprezo aos direitos. O não comparecimento de jornalistas destes grandes meios é mais uma forma de invisibilizá-los.
“Os jornais e meios de radiodifusão trataram de invisibilizar o estallido social (levante popular) que refletiu, entre 2019 e 2021, o inconformismo com 30 anos de política neoliberal. Neste processo ocorreram 83 assassinatos e 93 amputações de olhos. Isso tudo em um país em 21 dos 50 milhões de habitantes sobrevivem com somente três dólares diários, que 17 milhões de pessoas comem duas vez ao dia, e um milhão, uma única vez”, denunciou Francisco Maltés, presidente da Central Unitária dos Trabalhadores (CUT) da Colômbia. Para Maltés, como a “fraude está latente no processo eleitoral, a presença de observadores ganha ainda mais relevância”.
Foto: ComunicaSul
Rita Berlofa, Marcio Monzane, Iván Gonzales, Francisco Maltés, María José Cano e Diana Gómez
“É grave que observadores eleitorais internacionais sejam barrados de entrar na Colômbia. Fiquei duas horas retida na alfândega sob a argumentação de que eu seria uma ameaça ao país. Precisamos estar vigilantes a esses abusos e arbitrariedades”, acrescentou María José Cano, representante da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras da Argentina (CTA-Autônoma). O clima de arbitrariedade é nítido, ressaltou, sendo “completamente inadmissível que trabalhadores sejam perseguidos por fazerem uma determinada opção política e tenham seus empregos colocados em risco”.
Em nome da Confederação dos Trabalhadores da Colômbia (CTC), Diana Gómez reiterou a importância da unidade e da mobilização para fazer frente aos atropelos e desmandos de um Estado que desrespeita direitos básicos. “Daí o significado da presença desta representativa delegação internacional”, sublinhou.
Iván Gonzales, dirigente da CSA (Foto: ComunicaSul)“Estamos aqui acompanhando as eleições porque entendemos que o momento político que vive o país precisa desta presença diante do histórico de violência, de criminalização e perseguição dos movimentos sociais e políticos alternativos”, declarou o coordenador político da Confederação Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras das Américas (CSA), Iván Gonzales. A entidade representa 49 centrais sindicais de todo o continente, desde os Estados Unidos até a Argentina, filiando 55 milhões de trabalhadores de 22 países.
“Capacidade de mobilização”
“Neste momento, é fundamental a demonstração que o povo colombiano está dando de capacidade de mobilização e de apresentação de uma proposta política que rompa com a herança de domínio das oligarquias e da agenda neoliberal dos últimos 30 anos”, apontou Iván. “Nós estamos aqui acompanhando o processo de votação, monitorando com as nossas centrais filiadas no país, a CTC e a CUT, em comunicação permanente com o movimento sindical internacional. Porque os cenários são complexos – e podem não ser tranquilos – o que faz com que necessitemos estar alertas e convocar a todos para um acompanhamento solidário”, acrescentou.
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Para isso, o dirigente da CSA aproveitou a oportunidade para “destacar a importância do acompanhamento da mídia alternativa”. “O trabalho que está sendo feito por comunicadores populares e alternativos como os da Agência ComunicaSul, por exemplo, para levar o que está pensando o povo, o que realmente está acontecendo, a partir de um olhar popular. É fundamental. E este trabalho nos próximos dias continuará sendo muito importante, este relato de como o povo colombiano vai defender a democracia. Damos nosso parabéns à ComunicaSul por estar acompanhando este momento histórico”, assinalou.
(Foto: ComunicaSul) Representante da Central Única dos Trabalhadores do Brasil e diretora-executiva da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf/CUT), Rita Berlofa enfatizou a importância das mulheres integrarmos a delegação, “sempre lembrando daquele mantra de que a mulher deve estar onde ela quiser. E nós mulheres queremos estar aqui hoje enquanto observadoras internacionais para tentar garantir que a democracia seja respeitada”.
Rita Berlofa relatou que tem observado em “várias reuniões e conversas as ameaças que o povo colombiano vem sofrendo, tentando desta forma evitar que vote em determinado candidato”. “Essas ameaças partem tanto de empresários como de membros do governo e até do Exército. Eu, como brasileira, não deixo de expressar a preocupação com similaridades que possam ocorrer nas nossas eleições em outubro. E como disse aqui para o povo colombiano, não se deixe intimidar, não se deixe ameaçar e faça valer o seu voto. Porque o único momento em que o trabalhador pobre tem o seu voto com o mesmo valor do milionário é agora na hora de colocar o seu desejo na urna. Então é importante que todos não se deixem enganar por fake News nem se deixem intimidar por ninguém e faça valer o projeto de governo que queremos. Temos que fazer valer a democracia porque só em democracia poderemos almejar ter desenvolvimento econômico, redução das desigualdades sociais que assolam nossos países, almejar ter paz e a dignidade que todo o cidadão merece”.
(Foto: ComunicaSul) Márcio Monzane, secretário regional da UNI Américas (Sindicato Nacional do Setor de Serviços) e membro da delegação internacional da CSA como observador na Colômbia recordou que o processo de observação começou nas eleições parlamentares de março na Colômbia, quando se fizeram presentes aproximadamente 90 sindicalistas de 11 países do continente.
“Naquele momento o que observamos foi uma preocupação muito grande sobre os instrumentos e mecanismos de votação, que faltavam garantias neste sentido. Muitas delas vistas como riscos foram comprovadas e se adotou um processo para solucionar esses problemas. Tanto que a coalizão progressista Pacto Histórico recuperou quase mais de 500 mil votos que não foram contabilizados”, pontuou Monzane.
”O que estamos vendo agora é que esse processo ganha outra dimensão: começa a ter interferência externa que não permite ou cria dúvidas sobre o resultado das eleições, o que também é um problema. O presidente da República falando de fraude, o presidente do Congresso falando de fraude, o chefe do Exército afirmando que o candidato da oposição tinha relação com os narcotraficantes, e outros elementos Importantes que colhemos aqui escutando as organizações de direitos humanos e a representação dos partidos progressistas. Então são essas preocupações. Que isso não aconteça amanhã. Fazemos um chamado a um processo democrático do qual o Estado colombiano seja o garantidor”, concluiu Márcio Monzane.
*A reprodução deste conteúdo é livre, desde que citada a fonte e a lista de entidades e organizações que apoiam esta cobertura, como no rodapé a seguir.
Esta cobertura é feita pela Agência ComunicaSul graças ao apoio das seguintes entidades: da Associação dos/das Docentes da Universidade Federal de Lavras-MG, Federação Nacional dos Servidores do Poder Judiciário Federal e do MPU (Fenajufe), Confederação Sindical dos Trabalhadores/as das Américas (CSA), jornal Hora do Povo, Diálogos do Sul, Barão de Itararé, Portal Vermelho, Intersindical, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Sindicato dos Bancários do Piauí; Associação dos Professores do Ensino Oficial do Ceará (APEOC), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-Sul), Sindicato dos Bancários do Amapá, Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Sindicato dos Metalúrgicos de Betim-MG, Sindicato dos Correios de São Paulo, Sindicato dos Trabalhadores em Água, Resíduos e Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp Sudeste Centro), Associação dos Professores Universitários da Bahia, Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal do RS (Sintrajufe-RS), Sindicato dos Bancários de Santos e Região, Sindicato dos Químicos de Campinas, Osasco e Região, Sindicato dos Servidores de São Carlos, mandato popular do vereador Werner Rempel (Santa Maria-RS), Agência Sindical, Correio da Cidadania, Agência Saiba Mais e centenas de contribuições individuais.
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