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ToggleHá justamente 55 anos, em 6 de abril de 1967, escutou-se um dos discursos mais perigosos da história desta nação. É um discurso que, apesar de seu autor ter sido elevado ao Olimpo estadunidense onde vivem as figuras heroicas do país e onde tem seu próprio dia feriado oficial, nenhum presidente ou líder político (com um par de exceções) se atreve a mencionar e menos ainda citar.
Tanto dentro do país como no estrangeiro, reduz-se King à sua versão oficialmente aprovada de um tipo de santo dedicado aos direitos civis e sua mensagem limitada quase exclusivamente ao seu famoso discurso sobre igualdade racial conhecido como “Eu tenho um sonho” de 1963 em Washington. Mas quatro anos depois desse grande discurso, o reverendo Martin Luther King falou de outro sonho e convocou à luta por uma revolução nos Estados Unidos.
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“Estou convencido de que se queremos colocar-nos do lado acertado da revolução mundial, temos que empreender como nação uma revolução de valores. Temos que começar depressa a virada de uma sociedade orientada para as coisas a uma sociedade orientada para as pessoas. Quando as máquinas e os computadores, o afã de lucro e os direitos de propriedade são considerados mais importantes que as pessoas, é impossível conquistar os trigêmeos gigantescos do racismo, do materialismo extremo e do militarismo(…)”, declarou King desde o pódio da Igreja Riverside em Nova York.
Rowland Scherman – Wikimedia Commons
"Já não podemos gastar mais em adorar o deus do ódio ou ajoelhar-nos ante o altar da represália", proclamou Martin Luther King
Verdadeira compaixão
“A verdadeira compaixão é mais que atirar uma moeda a um mendigo; não é algo caprichoso e superficial. Consiste em ver que um edifício que produz mendigos necessita de reestruturação. Uma verdadeira revolução de valores pronto verá com inquietude o patente contraste entre pobreza e riqueza. Com justa indignação, verá o outro lado dos mares e observará os capitalistas do Ocidente investirem somas enormes na Ásia, África e América do Sul, só para levar aos lucros sem nenhuma preocupação pela melhoria social dos países, e dirá; ‘não é justo’. Verá nossa aliança com os proprietários de terras da América Latina e dirá: ‘não é justo’. A arrogância do Ocidente de sentir que tem tudo que ensinar aos demais e nada que aprender deles simplesmente não é justa (…) Nossa única esperança hoje em dia reside em nossas habilidades de recuperar o espírito revolucionário e sair a um mundo às vezes hostil para declarar nossa hostilidade eterna à pobreza, ao racismo e ao militarismo”.
Ao proclamar-se nesse momento contra a guerra no Vietnã e as façanhas imperiais de seu país – ante a oposição de seus próprios assessores, críticas severas pelos principais meios nacional e ameaças de seu governo – advertiu que os Estados Unidos “jamais poderá ser salvo enquanto destrua as esperanças mais profundas do homem por todo o mundo”.
“Este apelo a uma irmandade mundial que eleve a preocupação pelo próximo além da tribo, raça, classe e nação de cada um é na realidade um apelo a um amor incondicional, que abarque toda a humanidade. Já não podemos gastar mais em adorar o deus do ódio ou ajoelhar-nos ante o altar da represália. Os oceanos da história se tornam turbulentos com as marés cada vez mais altas do ódio (…) Hoje ainda nos sobre uma alternativa: a coexistência não violenta, ou a co-aniquilação violenta. Temos que passar da indecisão à ação. Se não agirmos, seguramente seremos arrastados pelos longos, escuros e vergonhosos corredores do tempo reservados para aqueles que têm poder sem compaixão, poderio sem moralidade, e força sem visão…”
Um ano depois, enquanto impulsionava sua campanha nacional vinculando a luta pelos direitos civis à justiça econômica e ao anti-imperialismo, King foi assassinado. Seu discurso de 4 de abril de 1967 é cada vez mais contemporâneo, e portanto, seu convite, seu sonho a lutar por uma mudança a fundo de seu país continua sendo cada vez mais perigoso para os defensores dos pesadelos.
O texto: https://guides.lib.berkeley.edu/c.php?g=819842&p=5924547
Áudio do discurso Beyond Vietnam, de Martin Luther King
David Brooks é correspondente do La Jornada em Nova York.
Tradução por Beatriz Cannabrava.
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