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Argentina | Tribunal anula causa contra Cristina, enquanto Macri vai para banco dos réus

Os escândalos judiciais contra o ex-presidente Macri, juízes e promotores, que acionaram perseguições à ex-presidenta, se avolumam a cada dia
Helena Iono
Diálogos do Sul Global
Buenos Aires

Tradução:

O TOF-8 (Tribunal Oral Federal número 8) votou, por unanimidade, por ausência de crime e absoluta falta de provas, a anulação da causa contra a ex–presidenta Cristina Kirchner e os demais acusados pelo promotor Alberto Nisman e pela DAIA (Delegação de Associação de Israelitas Argentinos).

Cristina Kirchner, como seu ex-ministro da Relações Exteriores, Héctor Timerman (falecido enfermo pela perseguição e injustiça), ao assinar o famoso memorando de entendimento com o governo do Irã na época, presidido por Mahmoud Ahmadinejad, com o intuito de retomar a continuidade das averiguações do atentado à AMIA, foram acusados por Nisman (sustentado pelo poder de fato, das corporações financeiras) por “traição à Pátria” e “encobrimento de terroristas”.

Na sequência o suicídio de Nisman (narrado no livro. “Quem matou Nisman”, do escritor Paulo Duggan), às vésperas das eleições presidenciais de 2015, completou o cenário do lawfare que deflagrou na vitória eleitoral de Maurício Macri.

Como já extensivamente exposto e denunciado no último depoimento público da própria Cristina Kirchner, essa foi uma das maiores montagens do lawfare contra o peronismo-kirchnerista na Argentina, para proteger interesses do capital internacional e dos Fundos Abutres, abrindo alas à jamais vista e impagável dívida contraída pelo governo Macri com o FMI.

Cristina Kirchner: “A História me absolveu e absolverá, e os senhores ela condenará”

Esta primeira derrota do chamado Partido Judicial-Midiático, do lawfare, ocorre no mesmo momento em que na cúpula restrita de cinco juízes que votam na Corte Suprema, se expressa uma crise: afastamento do juiz Rosenkrantz da sua presidência, peleja, críticas internas, evidenciando uma pressão externa na esfera judicial para que prevaleça a constituição, a objetividade, a transparência, e o fim da Macri-dependência dentro do poder Judiciário atual; há significativos juristas constitucionais, pela verdade, atuantes por uma Reforma Judicial proposta pelo executivo de Alberto Fernandez que se encontra à espera da aprovação no Congresso.

Fala-se, inclusive, na ampliação do número de juízes na Corte Suprema. Falando em batalha judicial, os movimentos populares pressionam também para que a líder e prisioneira política, Milagro Salas, há cinco anos presa, seja livre. Trata-se da deputada do Parlatino, vítima da injustiça de “Cambiemos”, e que deveria ser libertada em tempos de democracia.

O fim da causa do Memorando com o Irã, que é produto também da persistência de lideranças como Cristina Kirchner, juristas e advogadas como Graciana Peñafort, políticos kirchneristas que pagaram com anos de inocência na prisão, produzirá avanços no governo dos Fernandez para restabelecer a confiança no seu Projeto de Soberania e Justiça Social, após o golpe sofrido nas recentes eleições legislativas primárias.

Da mesma forma como o ex-presidente Lula, livre, após 560 dias de resistência, Vigília e luta na prisão de Curitiba, e todos os seus processos derrubados, não só se agigantou nos números de maior aprovação eleitoral, mas alargou passos rumo aos sindicatos, ao campo, à mídia popular, sem descartar aliados dignos do campo popular.

Os escândalos judiciais contra o ex-presidente Macri, juízes e promotores, que acionaram perseguições à ex-presidenta, se avolumam a cada dia

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Um juiz, Martin Bava, convocou o ex-presidente Macri a depor num inquérito no qual é acusado de espionagem ilegal

A outra cara da moeda: o ex-presidente Macri no banco dos réus

Um juiz, Martin Bava, convocou o ex-presidente Macri a depor num inquérito no qual é acusado de espionagem ilegal contra os familiares das 44 vítimas da tripulação do submarino Ara San Juan desaparecido em novembro de 2017 durante o seu governo.

Neste caso há provas concretas irrefutáveis; mas antes de ser emitida a ordem judicial, Macri já se encontrava em Miami. Um curioso esquema comum a todos os implicados nas contas milionárias no offshores do Pandora ou Panamá Papers: ir-se aos EUA, e ausentar-se na hora de depor, como no caso do ministro Guedes. 

Em denúncia de perseguição judicial, Kirchner destroça lawfare e judiciário argentino

Os escândalos judiciais contra o ex-presidente Macri e juízes e promotores, vários deles prófugos, que acionaram e encobriram perseguições à ex-presidenta Cristina Kirchner e membros do seu governo, procuradores e juristas, se avolumam a cada dia. 

A última é a revelação de que cerca de 50 advogados defensores de perseguidos e prisioneiros, a maioria kirchneristas, eram expiados telefonicamente pela AFI (Agência Federal de Inteligência) dentro da prisão, a mando de juízes afins e pessoalmente relacionados com o então presidente, Macri, revelando crime constitucional. Vêm à tona que os mesmos implicados na armação dos famosos “Cadernos”, D’Alessio e Stornelli, fazem parte do mesmo esquema.  Leia Página12.

Logicamente, estas notícias não são divulgadas na grande mídia, Clarín, La Nación e TN. Ao contrário, são fatores de grande excitação para a sua campanha de proteção aos referidos atores em xeque-mate: executivos políticos, encabeçados por Macri, juízes e promotores afins a “PRO-Cambiemos”, revelando um esquema sinistro como nos piores anos da ditadura, com novos instrumentos midiáticos poderosos, redes sociais, fakenews e robôs, instigando o ódio, a desconfiança para desestabilizar o governo.

As tendências golpistas não perdem tempo para tirar proveito da insegurança social gerada no terreno minado na Argentina pela impagável dívida externa da era Macri e pela pandemia que avassalou o mundo. 

Documentário sobre atentado contra a Amia, na Argentina, expõe Lawfare contra Cristina

A crise global e sistêmica do capitalismo financeiro, concentrador e improdutivo, evidente nos EUA (sobretudo com a ascensão da China) tem a ver com surtos e ameaças da direita global.  A retomada de governos populares na América Latina, e a proximidade de Lula da Silva no gigante chamado Brasil, tudo, torna-se fator de histeria golpista, como se evidencia no Peru, na Bolívia e no Chile. O pêndulo do poder financeiro internacional oscila entre duas cartadas: a suave, da “terceira via” sorridente, ou a do golpe com violência.

As revelações do Pandora Papers, poderão ser parte da outra cara do império, ou servir à alternativa de Biden versus Bush e Bolsonaro/Guedes, para manter as corporações financeiras e as privatizações intactas. Ambas saídas, a da “terceira via”, como a da direita fascista, serão ameaças permanentes enquanto perdurar a ausência de uma sólida união das forças progressistas e de esquerda em torno a um projeto econômico-social soberano, nacional-estatizante, com povo consciente, em movimento, organizado, e capaz de rebater estruturalmente o lawfare. 

Neste 17 de outubro — em que coincide o dia das mães na Argentina junto com o Dia da Lealdade peronista, data histórica na qual uma enorme multidão ocupou as ruas de Buenos Aires contra a deportação e prisão do coronel Juan Perón em 1945 na Ilha Martin Garcia, quando Secretário do Trabalho, por haver concedido vários direitos aos trabalhadores — , o povo peronista-kirchnerista deu o primeiro sinal mais importante, de retomada do seu protagonismo nas ruas, depois de um longo período de paralisação forçada pela pandemia. Marcharam rumo à Praça de Maio junto ao movimento das Madres dos lenços brancos, e ocuparam as praças nos bairros e cidades de todo o país.

Nesta data como neste 18 de outubro, quando outra manifestação organizada pelas centrais sindicais da CGT, estará somando forças para pôr um freio à tentativa golpista da direita e impulsionar medidas mais contundentes do governo nacional e popular de Alberto/Cristina Fernandez. 

Não há dúvidas de que as recentes mudanças no Gabinete de ministros e novas medidas de impacto econômico e social anunciadas nestas últimas semanas, estarão contempladas no debate e nas expectativas destas mobilizações pelo Dia da Lealdade. Serão temas para uma próxima matéria.

Helena Iono, colaboradora da diálogos do sul desde Buenos Aires


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Helena Iono Jornalista e produtora de TV, correspondente em Buenos Aires

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