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Cristina Kirchner: "A História me absolveu e absolverá, e os senhores ela condenará"

Foi a primeira vez que uma vice-presidenta eleita prestou declarações, acusada de suposta corrupção, quando faltam só oito dias para assumir seu posto
Maylín Vidal
Prensa Latina
Buenos Aires

Tradução:

Em um ano marcado por constantes processos contra ela, a ex-presidenta argentina Cristina Fernández afirmou ontem (03) em seu primeiro julgamento oral que a história já a absolveu e a absolverá.
Em um fato inédito, foi a primeira vez que uma vice-presidenta eleita prestou declarações, acusada de suposta corrupção, quando faltam só oito dias para assumir seu posto.

Fernández havia advertido na véspera que “se alguém tinha dúvida da existência do lawfare (notícia falsa) ou não sabia de que se tratava, a leitura que acaba de fazer o senhor presidente deste tribunal onde nos nega a transmissão ao vivo e em direto desta audiência, isto é uma aula prática do lawfare na Argentina”.

Trata-se de perseguir dirigente políticos, sublinhou a ex-presidenta ao dar sua declaração sobre o processo conhecido como Vialidad, no qual é acusada de corrupção em obra pública e de ser parte de uma associação ilícita durante sua gestão.

Foi a primeira vez que uma vice-presidenta eleita prestou declarações, acusada de suposta corrupção, quando faltam só oito dias para assumir seu posto

Twitter Cristina Fernández
"Este tribunal seguramente é do lawfare e já escreveu a condenação. Não me importa”, disse a ex-presidente, “a mim me absolveu a história".

“Não lhes parece importante? Não lhes parece importante a acusação que dizem que fui chefa de uma associação ilícita, sério, não lhes parece importante para transmitir?”, perguntou. 

Finalmente, não foi transmitida ao vivo sua defesa, tal como ela havia pedido, diante da negativa do Tribunal Oral Federal 2. Câmeras de televisão de dois canais tentaram transmitir o início de suas quase quatro horas de exposição, mas o sinal foi cortado, enquanto no Twitter centenas de usuários pediam para escutar a Cristina. 

Em sua intervenção, Fernández desbaratou com argumentos toda a trama que se armou contra ela, com a cumplicidade da mídia e do Poder Judicial, referiu-se à forma como se divulgou algo tão íntimo como conversas privadas com seu ex-ministro Oscar Parrilli, sem que os juízes, responsáveis pelas garantias dos cidadãos, tomassem qualquer iniciativa.

A próxima vice-presidenta, que denunciou os atropelos contra ela e uma perseguição política e judicial sem precedentes, desmontou tudo o que foi exposto e especialmente se sentiu a força de sua voz ao se referir aos seus filhos, cuja parte conseguiram televisionar os canais C5N e Crónica.

“E sem falar da perseguição a Máximo e Florencia Kirchner, que cometeram um dos erros terríveis, ser filhos de Néstor (Kirchner) e Cristina Fernández. Minha filha foi fotografada e fizeram uma montagem diante de milhões de dólares como se tivéssemos roubado”, remarcou a vice-presidenta eleita. 

Da mesma forma, mostrou como nestes últimos anos passaram buscando a rota do dinheiro K, em referência a supostos milhões de dólares. 

“O dinheiro da sucessão, dos prazos fixos, não estava em nenhum paraíso fiscal nem em nome de testas de ferro, estava em uma conta em nome da minha filha, no banco Galícia, em um banco nacional deste país e, é claro, pude explicar que o dinheiro nunca saiu durante anos de prazos fixos, tudo precisado em minhas declarações juramentadas e nas de Néstor”, manifestou.

Em outro momento, referiu-se a que sempre que foi convocada para declarar esteve aí, inclusive quando o juiz Claudio Bonadío a fez prestar oito depoimentos em uma mesma manhã e recordou que o promotor Carlos Stornelli passou nove meses em desacato.

“Até isso tivemos que suportar. Nove meses demorou um promotor para se apresentar. Utilizam a função de promotores ou de juízes para cometer delitos”, enfatizou. 

Além disso, referiu-se à multiplicidade de acusações contra ela ao sublinhar que a acusam de ser chefa de quatro associações ilícitas. “De verdade, não sei como tive tempo para governar, só criando associações ilícitas, duas familiares e duas com empresários”, ironizou. 

Em suas quase quatro horas de exposição, Fernández apontou que tudo isto sempre acontece só com os governos peronistas, referindo-se aos que seguem os postulados do falecido ex-presidente Juan Domingo Perón.

“Sempre acontecem essas coisas na Argentina contra os peronistas. No passado e nestes quatro anos”, agregou após sublinhar que neste país todo peronista com dinheiro é considerado corrupto. “Agora, se não é peronista, mas multimilionário, presume-se que é honesto”. 

Ao entrar no tema da acusação, a ex-presidenta sublinhou que não é outra coisa senão a construção midiática através de roteiros que pouco têm que ver com o Direito e com os fatos, e em várias ocasiões acusou a Corte por não fazer nada diante de um juiz (Bonadío), que incluso destruiu sua casa com uma invasão nunca vista durante três dias.
“Não é a abertura, entendam, havia que condenar um governo, o de Néstor Kirchner que desendividou o país, cancelou o Fundo Monetário Internacional, havia que trazer de novo o FMI e havia que convencer que quem os o desendividou era chorro (ladrão) e só veio para isso”, agregou .

Quase ao final, a ex-presidenta, com seu verbo afiado e contundente dirigiu-se ao tribunal para dizer que seguramente já tem a condenação escrita. 

“Este tribunal seguramente é do lawfare e já escreveu a condenação. Não me importa”, disse. “A mim me absolveu e me absolverá a história, e aos senhores a história os vai condenar”.  

Ao se levantar, Fernández foi interrompida pelos juízes que lhe perguntaram se pensava responder perguntas. “Perguntas?”, disse, “perguntas vão ter que responder os senhores, não eu”, concluiu. 

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Maylín Vidal

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