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ToggleFernando Henrique Cardoso, o pusilânime, serve bem como amostra do que pensa um amplo setor da direita. É uma direita ilustrada, frequentou universidades, escreve nos jornais, pratica política partidária, ascende aos vários níveis e instâncias do poder. Está muito preocupada com os rumos tomados pelo governo de ocupação. Não é para menos: três mil mortos por dia não é brincadeira.
Com as evidências que se tem hoje, não se pode negar a farsa eleitoral de 2018. Hoje mesmo os jornais publicam que 88 oficiais da mais alta graduação agitaram nas redes sociais durante o processo eleitoral. Corrobora com que temos afirmado, que a eleição de Bolsonaro se tratou de uma Operação de Inteligência para captura do poder que envolveu o alto comando das três forças.
A Suprema Corte, por sua vez, deixou claro que o julgamento que afastou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva do pleito foi igualmente uma farsa, uma conspiração que envolveu inclusive uma potência estrangeira.
Não têm como dizer que não sabiam. Foi tudo bem-arranjado, envolvendo o Judiciário, o Legislativo, empresários e associações do agro-negócio, milícias cibernéticas, abuso do poder econômico como nunca se viu, participação da Cambridge Analytica para manipular a opinião pública e, muito dinheiro, inclusive dinheiro de fora: dólares.
“Quem pariu Mateus que o embale”, diria minha sábia avó caipira. Pois é, essa é triste realidade, só a direita é capaz de derrubar esse governo, pois é quem tem dinheiro e poder para quebrar a unidade do Centrão, e, talvez, convencer os militares a retornarem a seus quartéis.
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Essa é a parte mais difícil. Por não ter resolvido a Questão Militar (o conflito entre o poder civil e o poder militar) a elite civil é responsável por terem os militares se transformado numa casta privilegiada que acredita que só eles têm competência para exercer o poder, posto que a elite civil é incompetente e corrupta. Essa casta se preparou durante décadas para capturar o poder.
FHC adverte sobre o desânimo que aparentemente domina as hostes tucanas, e os assemelhados, de que é preciso acordar e partir para a luta para corrigir a má escolha.
É próprio da democracia, argumenta o príncipe da privataria, é hora, portanto, dos que podem ser candidatos dizerem a que se propõem. Ele agrega ainda que, apesar de tudo, é melhor esperar a eleição para não tumultuar o processo. Ainda não se deu conta de que os militares ocuparam o poder para ficar.
Doce ilusão. É preciso quebrar a coluna vertebral desse governo antes das eleições. O governo presidindo as eleições é um perigo, não só pelo manejo da máquina, mas, principalmente, pela utilização das forças armadas, como fizeram em 2018. Quase dez mil militares dentro da máquina governamental é um poderoso cacife na disputa eleitoral.
O governo tem que ser derrubado quanto antes por incompetência no combate à pandemia. Quantos mortos mais teremos nos 17 meses que faltam para as eleições? Não haverá pedra sobre pedra, nenhum bem público sobrará se eles cumprirem o mandato.
Esse governo governa. Governa para o mal, mas governa. A cada manchete que os jornalões dão sobre as diatribes e imprecações, o Diário Oficial da União publica três decretos, medidas provisórias ou portarias que causam danos ao país. A água será privatizada, o saneamento básico, a eletricidade, o gás, a Base de Alcântara, Petrobras, Eletrobrás: não sobrará país nenhum, cara pálida!
Extinção do meio ambiente
Segundo a revista Carta Capital desta semana, em doze meses, só no gabinete de Ricardo Salles, o ministro do Meio Ambiente (MMA), foram cometidas 72 canetadas.
No conjunto 76 reformas institucionais:
- 36 medidas de desestatização;
- 36 revisões de regras;
- 34 medidas de flexibilização;
- 22 medidas de desregulação;
- 20 revogações;
O desmatamento aumentou 216%, alcançando 810 quilômetros quadrados, aprovaram a exportação de madeira nativa, estão propiciando a compra e venda de terras indígenas.
Quem aparece como vilão é o Salles, o demônio da vez… mas são os militares que estão por trás dele. São 33 militares na Funai; 25 no Ibama; 23 no ICMBIO; 5 no Incra; seis no Sesai e 13 no MMA.
São militares sem nenhuma experiência administrativa e tampouco possuem conhecimento técnico especializado requerido para o posto. Inexperientes, mas obedientes. Pura sinecura.
Em abril de 2020, foi criado o Conselho da Amazônia, com general Mourão, que é vice-presidente, na cabeça e mais 19 militares, quatro integrantes da Polícia Federal. Os técnicos que ainda persistem trabalham aterrorizados, sob assédio permanente.
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Um grupo de professores da USP e advogados identificou, a partir de fevereiro de 2020, três mil normas ditadas pelo governo e concluiu que o presidente cometeu crime contra a humanidade e a saúde pública.
CPI do genocídio
O senador Renan Callheiros, em discurso ao tomar posse na CPI do genocídio, digo, da Covid, lembrou que crimes contra a humanidade são imprescritíveis. Assim, sempre haverá tempo para condenar os torturadores, mesmo que seja post mortem, pois é uma questão de segurança jurídica e de dignidade humana.
O cenário novamente se apresenta como de tempestade perfeita.
Bolsonaro candidatíssimo
Não se aproveitando o momento o governo tende a se fortalecer, e o capitão Bolsonaro já está em campanha e montando o cenário para disputar e ganhar a eleição. Ganhar de qualquer jeito, mesmo que seja no tapetão.
Para isso está procurando um partido só para ele. Um partido ônibus. Talvez venha a ser o PRTB, agora órfão com a morte de Levy Fidelix — caso a família que ocupa os cargos de direção se disponham a vender. É um bom negócio. Não tão bom quanto foi atrelar a candidatura em 2018 ao minúsculo PSL.
Montagem Diálogos do Sul
Só a direita é capaz de derrubar esse governo, pois é quem tem dinheiro e poder para quebrar a unidade do Centrão.
O PSL era nanico saiu lucrando e tem hoje a terceira maior bancada na Câmara Federal e posa de partido grande, não quer ser manipulado, nem que outros tirem proveito dos fabulosos recursos com que conta dos fundos Eleitoral e Partidário.
Para o PRTB ou qualquer outro que hipoteque sua legenda ao projeto eleitoral do governo, o cenário é outro, bem diferente daquele de 2018, não dá para repetir a façanha do minúsculo PSL. Este com sua enorme bancada vai disputar reeleição.
O PT, com Lula livre, também terá chance de ampliar sua bancada, ou mesmo manter o mesmo número, terá com certeza um melhor desempenho que o de 2018 quando diminuiu o número de sua bancada.
Isso se as condições fossem simplesmente eleitorais. Ocorre que estamos em guerra e outros fatores devem ser tomados em conta.
É voz corrente, os Estados Unidos não querem Lula. Queriam o Moro, o dócil juiz que arbitrou o jogo a favor do Departamento de Justiça dos EUA, em conluio com a agência Nacional de Segurança e o FBI. Moro não tem mais chance. Desmascarado pela Corte Suprema, foi condenado pelo mundo como autor do maior escândalo judiciário da história.
Por uma questão de imagem que Biden está a construir, tampouco a reeleição de Bolsonaro lhe convém. Está disposto, portanto, a apostar todas as fixas num tercius.
Todos pela terceira via
FHC admite que está difícil. Seu partido, o PSDB, não tem quadro com densidade eleitoral, nem estofo político para enfrentar um trem desse. Eles têm o senador Tarso Jereissati — sua família tem fortuna para bancar com todo o dinheiro do mundo sua campanha, mas duvido que o faça, é muito risco para nada. Os demais, os governadores de São Paulo e do Rio Grande do Sul não chegam a 10% nas pesquisas. Qualquer que seja o candidato vai dividir as forças que poderiam compor com uma frente democrática.
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Ciro Gomes, atrelado ao um PDT que tem nada a ver com aquele de Jango e Brizola, está com um discurso desenvolvimentista, nacionalista, em campanha há quase um ano e não deslancha. Parece que não confiam nele. Ao invés de construir pontes, as está destruindo.
A hora e a vez de Lula
Diante disso, é a hora e a vez de Lula. Já disse antes e repito: Lula deve ir aos Estados Unidos, buscar Obama, seu fã, lembram? Desembarcar em Nova York, ir ao New York Times, ir a Washington e usar seu prestígio para exorcizar sua imagem.
É isso, assumir atitude de estadista, ir lá com as soluções para a pandemia e para o meio ambiente, mostrar sua vitalidade e sua garra. Vai conseguir o apoio de boa parte da opinião pública. Se com isso conseguir pelo menos neutralizar os Estados Unidos com relação à eleição de 22, será já uma grande vitória, um passo firme rumo a vitória eleitoral.
Boa parte da classe media anti-Lula está empobrecida, desempregada e desesperada diante de tanta incerteza. Precisa de alento. Precisa de esperança. Isso já se reflete nas cartas dos leitores dos jornalões que pouco a pouco estão se colocando na oposição.
Tudo isso é possível, desde que a eleição seja presidida por um governo de transição, com os militares de volta a seus quartéis, sem interferir no processo eleitoral.
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Segundo pesquisa do Poder Data, 45% dos entrevistados avaliaram como ruim a presença de militares no governo e na política. É a primeira vez que isso ocorre, porque faltava a percepção de que eles ocupam o governo. Essa percepção aumentou 10% em relação à pesquisa anterior e está em linha ascendente.
Também a percepção de que as forças armadas não trabalham bem está aumentando, os que consideravam ótimo e bom desceram de 45% para 39% e está em linha descendente.
Paulo Cannabrava Filho é jornalista e editor da Diálogos do Sul
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