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"Teremos que nos defender e resistir", diz líder Mapuche após ameaças de Piñera

“O governo insiste em resolver mediante as armas a demanda histórica e legítima das comunidades mapuches por recuperar suas terras ancestrais”
Aldo Anfossi
La Jornada
Santiago

Tradução:

Depois que na semana passada o governo do presidente Sebastián Piñera anunciou que envolverá o exército no conflito com a nação mapuche na Araucanía, dirigentes e organizações de resistência indígena disseram estar prontas para enfrentá-lo, assim como também para negociar uma solução ao enfrentamento com o estado chileno

O governo disse que os militares realização patrulhas em conjunto com as polícias e que integrarão “postos de comando” de coordenação estratégica na denominada “macrozona sul” do país, um território de 72 mil quilômetros quadrados que envolve as regiões do Biobío, a Araucanía e Los Rios, onde acontecem ações de resistência indígena há duas décadas, mas que se incrementaram significativamente em anos recentes, destinadas principalmente a combater e expulsar grandes empresas florestais que controlam quase 4 milhões de hectares de bosques nativos que foram substituídos por plantações de pinheiros e eucaliptos, espécies exógenas. 

Héctor Llaitul Catrillanca, porta-voz e co-fundador da Coordenação de Comunidades em Conflito Arauco-Malleco (CAM), uma organização insurgente Mapuche, declarou em um entrevista ao diário eletrônico “Interferência” que o “acordo nacional” acerca do conflito Mapuche proposto por Piñera, baseado em exigir ao Parlamento que aprove leis mais punitivas, somente conseguirá agravar a repressão porque “não estão dizendo nada a respeito de justiça para o povo mapuche. Essa é uma solução que levará a que o conflito seja mais profundo, mais encarniçado, mais agudizado”.

“O governo insiste em resolver mediante as armas a demanda histórica e legítima das comunidades mapuches por recuperar suas terras ancestrais”

Mapuche.info
Dizemos ao governo que estamos dispostos a resistir, bala por bala se for necessário

Defesa dos territórios

Acerca do envio das Forças Armadas para o território, Llaitul disse que “se vierem nos agredir, teremos que defender-nos e resistir de alguma maneira. Essa tem sido uma característica de nosso povo. É uma situação que analisamos entre as comunidades, estamos nos juntando, fazendo muito trawün (assembleias, encontros), articulando as forças, apelando à unidade para a resistência, nisso estamos nós”

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O dirigente, que cumpriu penas de prisão e que em 2017 foi envolvido em uma montagem ilegal preparada e realizada afanosamente pelos Carabineiros para envolvê-lo em delitos como a internação de armas, afirmou que o movimento de resistência Mapuche está disponível para conversar e entrar em acordo com o estado chileno sobre a restituição de todas as suas terras ancestrais e para conseguir a autonomia/soberania sobre elas.

“Se vierem nos agredir, teremos que defender-nos e resistir de alguma maneira. Essa tem sido uma característica de nosso povo“.

Mas advertiu que “nós não vamos conversar para dar continuidade às políticas de integração ou políticas sociais, que no nosso julgamento são puras migalhas e que, no fundo, não resolvem em nenhum sentido o que são as demandas de nossa gente por território e autonomia.

Outra referência territorial “as comunidades e o Lof (forma de organização social do povo mapuche) em Resistência que conformam a Franja Lafkenche (habitantes da costa do território araucano)”, emitiram uma declaração assinalando que “o governo insiste em resolver mediante as armas a demanda histórica e legítima das comunidades por recuperar suas terras e que “desde a Franja dizemos ao governo que estamos dispostos a resistir, bala por bala se for necessário.

E chamamos nosso povo a fortalecer o weichan (luta do território rebelde) e o caminho próprio que como mapuche traçamos para “avançar para a libertação nacional”.

Aldo Anfossi especial para La Jornada desde Santiago do Chile.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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