“El tema de (Mikel) Zabalza está muito feio. Eles abusaram no interrogatório. Foi uma parada cardíaca como consequência do saco na cabeça”, assim era relatado em uma conversação telefônica o assassinato do jovem navarro, pelo capitão da Guarda Civil, Pedro Gómez Nieto.
Zabalza que tinha 32 anos, e era motorista de ônibus em San Sebastián, caiu em mãos dos chamados Grupos Antiterroristas de Libertação (GAL), que foram os comandos paramilitares financiados pelo governo espanhol da época do socialista Felipe González, para perpetrar torturas e assassinatos na guerra suja contra a organização separatista vasca ETA.
Pela primeira vez se escutam esses documentos que confirmam o terrorismo de Estado, apesar de nenhum tribunal ter querido admiti-los como prova.
Segundo uma documentação baseada em documentos reais e gravações autênticas de alguns dos protagonistas, Mikel Zabalza foi sequestrado por um comando dos GAL da Guarda Civil, que o confundiu com um militante do ETA, em 26 de novembro de 1985. Foi transferido em segredo ao quartel da Guarda Civil de Intxaurrondo, onde foi interrogado e torturado até a morte.
Sua família denunciou seu desaparecimento e não soube de seu paradeiro até que em 15 de dezembro desse ano seu corpo apareceu flutuando no rio Bidasoa. A conclusão oficial foi de que havia morrido afogado ao cair na água quando tentava escapar de um perseguição da Guarda Civil.
Eram os anos mais duros do terrorismo de Estado contra o ETA, quando estavam à frente, além do ex-presidente González, o comandante da Guarda Civil, Enrique Rodríguez Galindo, falecido há um mês e que foi condenado pelos assassinatos do José Antonio Lasa e José Ignacio Zavala, também vítimas do terrorismo de Estado.
Divulgação
Os documentaristas Miguel Ángel Llamas e Amaia Merino realizaram a pesquisa que converteram no filme Non dago Mikel?
Non dago Mikel?
Agora, quando ainda está impune seu assassinato, os documentaristas Miguel Ángel Llamas e Amaia Merino realizaram a pesquisa que converteram no filme Non dago Mikel? (Onde estás, Mikel?, em euskera).
Na reconstrução dos fatos narram como naquela noite, além de deter Mikel Zabalza também apreendem seus irmãos, Patxi e Aitor, a Ion Arretxe e sua noiva Idoia Aierbe. Todos foram levados para o quartel da Guarda Civil, mantidos incomunicáveis e interrogados com métodos severos. E todos, menos Mikel Zabalza, saíram em liberdade depois de poucos dias.
Durante mais de vinte dias a família o procurou desesperadamente, sem que recebessem nenhum tipo de informação nem da polícia nem das autoridades espanholas. Até que apareceu seu corpo flutuando no rio. A partir daí foi iniciada uma campanha para denunciar o crime, para que se investigasse e para que se fizesse justiça. Mas não houve nenhum esclarecimento.
Além disso, naqueles anos os jornalistas de El Mundo, Manuel Cerdán e Antonio Rubio, publicaram a transcrição literal das gravações que agora se mostram no documentário e as apresentaram como provas no julgamento; no entanto não foram admitidas pela justiça sob o argumento de que “não apresentam uma mínima qualidade que convença”.
A citada conversação foi entre o capitão Gómez Nieto e Luis Alberto Perote, então coronel do Centro Superior de Informação da Defesa (CESID, o então centro de espionagem do Estado espanhol), que além disso confirmou que existia um informe detalhado sobre o que havia ocorrido naqueles dias no quartel de Intxaurrondo.
Os fatos são tão obscuros e tão secretos que inclusive quando o diretor do documentário, Miguel Ángel Llamas começou sua pesquisa, em 2011, foi detido pela Polícia Nacional e passou um ano e meio na prisão por sua vinculação com o portal de Internet Apurou.org, que era usado como meio de comunicação onde se denunciavam as violações aos direitos humanos e as torturas contra membros do ETA ou de organizações sociais e políticas próximas ao grupo separatista.
Diante das novas descobertas, a porta-voz de EH-Bildu no Congresso dos Deputados, Mertxe Aizpurua, explicou que ia pedir ao presidente do governo atual e também socialista, Pedro Sánchez, que reconheça no Congresso dos Deputados que na Espanha se praticou a tortura.
De fato sua pergunta específica será feita na sessão de quarta-feira e dirá: “Reconhece, como presidente do governo, que existiu a prática da tortura por parte das Forças e Corpos de Segurança do Estado?”
Já que, explicou: “estamos ante uma realidade que deve ser esclarecida e reconhecida sem nenhum tabu nem desprezo”. Também será pedido o comparecimento no Senado do ministro do Interior, Fernando Grande Marlaska, para que explique esses fatos e esclareça se existem mais documentos relacionados com o caso.
Armando G. Tejeda, Correspondente de La Jornada em
La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava
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Madri.
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