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ToggleOs Estados Unidos são um país com o qual o México tem que estabelecer relações muito diplomáticas por diferentes motivos, entre eles: a proximidade geográfica, as questões migratórias (cerca de 90% dos e das migrantes mexicanos(as) vão para EUA) e as relações comerciais (Estados Unidos são um dos principais negociadores comerciais do México). Mas… o que espera ao México com a saída de Donald Trump e com a vitória de Joe Biden?
O voto das mulheres latino-chicanas e a agenda de gênero
Nas eleições presidenciais dos Estados Unidos da América neste 2020, o voto das mulheres latinas foi muito importante para que Joe Biden pudesse ser declarado vencedor. Do total das pessoas autodeclaradas de origem latina e de origem afro, aproximadamente 70% das mulheres latinas e 90% das mulheres afro-americanas votaram em Biden.
Outro dado interessante é que do total das pessoas que votaram no Biden, 60% têm entre 18 e 29 anos. Por tanto, o perfil de pessoas que maioritariamente votaram no democrata é feminino, de raça/origem latina ou afro e jovem.
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No total, existem quase 57 milhões de latinos e latinas nos EUA. (aproximadamente a sexta parte do total da população estadunidense), onde mais do 63% é de origem mexicana, isto é, mais de 36 milhões de pessoas.
Em outras palavras, a maioria das pessoas latinas nos Estados Unidos são de origem mexicana e, tomando em consideração o perfil das pessoas que votaram no Biden, a participação política das mulheres chicanas foi relevante para a vitória do candidato democrata.
O resultado dessas estatísticas publicadas pelo jornal The New York Times, parece coerente, pois além do discurso abertamente machista, xenófobo, racista, conservador e anti-aborto de Donald Trump houve, durante a administração dele, cortes nos programas de combate à violência de gênero e planificação familiar. Enquanto Biden prometeu restaurar essas políticas sociais e, particularmente, revogar a Lei da Mordaça Global.
Diálogos do Sul
Os Estados Unidos são um país com o qual o México tem que estabelecer relações muito diplomáticas por diferentes motivos.
Agenda migratória
Durante a administração do ainda presidente Donald Trump houve muita pressão para o governo mexicano e para a nação mexicana, isto é, tanto para as pessoas mexicanas que moram dentro do país como para aquelas que moram fora, em matéria migratória.
É por isso que para muitas pessoas o triunfo do Biden representa um alívio ou respiro, pois ainda que a gestão Obama-Biden também tenha sido caraterizada por ser anti-imigrante (teve índices muito elevados de deportações) foi menos cruel/agressiva do que a gestão de Trump, que parecia desfrutar de dividir famílias, isso sem mencionar os escândalos das denúncias de esterilizações forçadas de mulheres migrantes.
Cabe ressaltar que só não houve altos índices de deportações durante a administração de Trump porque ocorreram mais detenções na fronteira México-EUA e porque o governo estadunidense pressionou o mexicano para fortalecer a fronteira com a América-Central, além da implementação do programa trumpista Remain in México (Permaneça no México).
Nesse sentido, não é estranho que Joe Biden prometesse uma agenda migratória mais progressista, que faça os direitos humanos dos e das migrantes serem respeitados, que esteja contra todo tipo de discriminação ou violência durante as detenções e que facilite a obtenção da cidadania americana pelos dreamers (migrantes que chegam aos Estados Unidos sendo crianças) do programa DACA (programa que foi suspendido durante o governo do Trump).
Agenda ambiental
O presidente eleito também se comprometeu com a luta para combater a mudança climática, estabeleceu objetivos para zerar as emissões de gases-estufa até o ano 2050, disse que vai reintegrar-se ao Tratado de Paris e declarou-se interessado em investir na área das energias limpas para converter os Estados Unidos em um país líder em matéria de ambiental.
No entanto, essas metas poderiam entrar em conflito com a postura do governo mexicano, pois o presidente Andrés Manuel López Obrador já tinha colocado em andamento macroprojetos tais como: O trem Maya, a refinaria das Duas Bocas e o Aeroporto de Santa Lucia. Trata-se de macroprojetos que representam certas irregularidades diante das próprias leis ambientais mexicanas e precisam do uso de energias tradicionais. Nesse sentido, será preciso fazer renegociações.
Tratado de Livre Comercio T-MEC
O tratado de livre-comércio T-MEC ou UMSCA entre México, Estados Unidos e Canadá foi aprovado durante a administração Trump em substituição ao tratado TLCAN ou NAFTA, de 1994.
O tratado entrou em vigor no mês de julho do presente ano. Ainda que o T-MEC tenha sido muito criticado pelo partido democrata, é pouco provável que Joe Biden queira renegociá-lo ou cancelá-lo há só poucos meses da sua implementação no meio da crise causada pelo COVID-19.
Entre as principais mudanças que houve de última hora e que foram muito discutidas pelos democratas no novo tratado destacam-se: a indústria automotriz, os direitos trabalhistas, a produção de aço e de biomedicinas.
A assinatura do acordo foi considerada pelos representantes políticos das três nações como um fato positivo que gerará resultados razoáveis de acordo com a realidade dos países implicados. No entanto, as contrações do PIB calculadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para este ano (-8% nos Estados Unidos, -10,5% no México e -8,4% no Canadá) representarão uma queda lamentável nesses países, tanto no aspecto comercial quanto na geração de empregos e outros âmbitos econômicos, o que tornará difícil avaliar se o T-MEC é um bom tratado ou não.
Em conclusão, apesar de Joe Biden não ser nenhum salvador do México, parece ser que nos esperam quatro anos nos quais serão retomadas políticas econômico-sociais, acordos e tratados ambientais que foram suspendidos no governo de Donald Trump. Mas só isso vai acontecer caso Joe Biden cumpra suas promessas e seu plano de governo.
*Victoria Gualito é mestranda em Integração da América Latina (PROLAM/USP). Bacharel em Pedagogia pela Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM). Atua principalmente nos seguintes temas: Educação, Ensino de Línguas e América Latina.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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