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UCA: a extinta universidade que opera ataques contra movimento estudantil na Nicarágua

Em 1995, organização se dedicou a aniquilar os focos de ativismo de luta que pudessem obstaculizar o projeto mercantil de educação neoliberal
Yasser Arellano
Oclae
Manágua

Tradução:

Em 23 de julho de 1960, foi criada com a anuência da genocida ditadura somozista a extinta Universidade Centroamericana (UCA). A ditadura viu a possibilidade de formar um agrupamento estudantil pró-somozista que fizesse contrapeso ao movimento estudantil revolucionário, recém massacrado de 23 de julho de 1959.

Em contrapartida, em 1968 foi publicada a “Mensagem da Frente Sandinista de Libertação Nacional aos Estudantes Revolucionários”, ideias que deram clareza intelectual e identidade ideológica e de classe, depois manifestada na participação dos universitários na luta guerrilheira que libertou a Nicarágua em julho de 1979 de uma das mais cruéis e longas ditaduras da América Latina.

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Por volta de 1995, as autoridades da extinta UCA aplicaram o modelo de educação neoliberal e tentaram neutralizar as lideranças estudantis sandinistas, membros da União Nacional de Estudantes da Nicarágua (UNEN). Naqueles anos, a instituição dedicou-se a “perseguir, sancionar e destruir” qualquer rastro de sandinismo, segundo relata o acadêmico Germán Van de Velde em um de seus recentes artigos, intitulado “A extinta UCA”. Como se fosse pouco, desarticular a UNEN tinha como objetivo aniquilar os focos de ativismo de luta que pudessem obstaculizar o projeto mercantil de educação neoliberal.

Inspirados em suas origens somozistas, pró-ianques e neoliberais, no ano de 2018 a extinta UCA criou um coletivo de redes midiáticas para desinformar e apelar à violência. Assim, a “Companhia de Jesus”, junto com a Embaixada dos Estados Unidos da América do Norte, em Manágua, puseram em marcha a Primeira Etapa do Manual de Gene Sharp para depor governos.

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Afortunadamente, a tentativa de Golpe de Estado contra o Governo Sandinista da Nicarágua faliu, depois que a juventude e os estudantes junto ao povo se mobilizaram nas ruas para defender as conquistas sociais da Segunda etapa da Revolução Popular Sandinista. Não conseguiram o esperado, mas o apelo ao ódio contra a juventude sandinista universitária e a educação pública motivou um grupo de violentos criminosos a sequestrar, destruir, queimar e roubar universidades públicas, entre elas uma das 10 melhores da América Central, a Universidade Nacional Autônoma da Nicarágua, Manágua (UNAN – Manágua), segundo a QS Word University Rankings 2023.

Em 1995, organização se dedicou a aniquilar os focos de ativismo de luta que pudessem obstaculizar o projeto mercantil de educação neoliberal

Foto: Pablo H/Wikimedia Commons
Em agosto de 2023, o Ministério de Governação da República da Nicarágua cancelou a personalidade jurídica da Universidade Centroamericana

A UCA e o neofascismo

Em 20 de abril 2018, as ideias neofascistas alimentadas e transmitidas pela extinta UCA e outras organizações levaram ao incêndio do Centro Universitário da Universidade Nacional em León (ocidente da Nicarágua), onde queimaram – assassinaram – o estudante Cristhiam Emilio Cadenas. Dezenas de crimes como estes estão amplamente documentados, ainda que intencionalmente ocultos pela imprensa internacional.

Passaram-se mais de cinco anos desde aqueles acontecimentos que atentaram contra o direito humano à vida, à paz e à educação. A identificação dos autores dos atos avançaram. Neste 18 de agosto de 2023, o Ministério de Governação da República da Nicarágua cancelou a personalidade jurídica da pró-ianque Universidade Centroamericana (UCA) depois de um rigoroso processo de investigação que demonstrou que esta instituição encabeçara a promoção do terrorismo, da violência e da destruição em 2018. A isso se somam outros delitos por incumprimento das responsabilidades definidas para as universidades na lei N 1115 ao não informar os estados financeiros de 2020, 2021 e 2022.

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Depois de tornar-se público o cancelamento desta universidade, desinformações e mitos se difundiram rapidamente por meio das redes sociais e meios comerciais de comunicação internacional. Em um primeiro momento apelou-se falsamente à consciência racional dizendo que a extinta UCA representava uma das melhores universidades do país. No entanto, segundo a Revista Forbes, em uma publicação de fevereiro deste ano (2023) esta universidade não figurava no ranking das 10 melhores universidades da Nicarágua, nem da América Central.

Direito à educação

Para assegurar o direito dos estudantes à educação superior e à continuidade de seus estudos, o Conselho Nacional de Universidades (CNU) criou a Universidade Nacional Casimiro Sotelo Montenegro, agora como instrumento para a transformação e a contínua restituição do direito dos nicaraguenses à educação pública e gratuita.

As falácias se espalharam como pólvora, a ponto de, sem fundamento, o Instituto Internacional da UNESCO para a educação superior na América Latina e Caribe (IESALC) chamar a nova universidade pública na Nicarágua como “uma ação que atenta contra o direito à educação de milhares de estudantes”. Realmente incompreensível.

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Por que é falsa a “argumentação” da IESALC? A resposta é simples. Desde 2007 os nicaraguenses vivem dias sem precedentes, a Educação Superior Pública neste país centro-americano supera os 200 mil estudantes, matrícula antes nunca registrada. Rege este subsistema de educação a Política Pública (PP) de Educação Inclusiva do Governo de Reconciliação e Unidade Nacional (GRUN), financiada e assegurada pelo Estado com o Orçamento Geral da República.

A própria UNESCO reconhece que o modelo de Educação Inclusivo é um dos mais avançados na região, pois se concentra no desenvolvimento da pessoa, da família e da comunidade. Este modelo mostrou ter êxito com programas como o de Universidade no Campo (UNICAM) com presença nos 153 municípios do país, incluídas as duas regiões autônomas dos povos originários e afrodescendentes. Universidades comunitárias, agrícolas desde os saberes indígenas e interculturais próprios das regiões autônomas também são financiadas e reconhecidas pelo Estado.

Contra o mito e a desinformação a realidade prevalece. Na Nicarágua milhares de jovens têm assegurado seu direito à educação de acordo com suas realidades: seja rural, indígena ou tradicional nas regiões mestiças e justamente agora ampliada com a criação da nova Universidade Nacional Casimiro Sotelo Montenegro.

Manágua, Nicarágua | 28 de agosto de 2023


Referências

Germán Van de Velde. (2023). A extinta UCA na Nicarágua. https://cuadernosandinista.com/2023/08/18/la-extinta-uca-en-nicaragua/

Ministério de Governação aprova cancelamento de personalidade jurídica da Universidade Centroamericana (UCA). (2023). https://www.lagaceta.gob.ni/la-gaceta-n%C2%BA-151-viernes-18-de-agosto-de-2023/

UNAN – Manágua entre as dez melhores universidades da América Central (2023). https://www.unan.edu.ni/index.php/relevantes/unan-managua-entre-las-diez-mejores-universidades-de-centroamerica.odp  

Mensagem da FSLN aos estudantes revolucionários. (1968). https://cedema.org/digital_items/2165

Lembrando Cristhiam Emilio Cadenas. (2023). https://diariobarricada.com/2023/04/20/recordando-a-cristhiam-emilio-cadenas/

Nota de imprensa da UNESO IESALC. https://www.iesalc.unesco.org/2023/08/24/unesco-iesalc-deplora-la-reciente-incautacion-de-los-bienes-de-la-universidad-centroamericana-de-managua-en-nicaragua/

Nota de imprensa do Conselho Nacional de Universidades da Nicarágua | Criação da Universidade Nacional Casimiro Sotelo Montenegro. https://www.cnu.edu.ni/nota-de-prensa-creacion-de-la-universidad-nacional-casimiro-sotelo-montenegro/

Comunicado do Conselho Nacional de Universidades No.10-2023 | Continuidade Educativa da extinta UCA. https://www.cnu.edu.ni/comunicado-no-10-2023-continuidad-educativa-extinta-uca/


Yasser Arellano | Secretário Executivo da Organização Continental Latino-americana e Caribenha de Estudantes (OCLAE)
Tradução: Ana Corbisier


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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