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ToggleAté quem o elegeu (o governo dos militares)
merece outro governo…
Luiz Fernando Veríssimo
O que está a ocorrer na área econômica merece muita atenção e reflexão e, no nosso entender, corrobora com a tese de que está mais que na hora de substituir este governo de ocupação por uma Comitê de Salvação Nacional.
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Nesses dias analisamos as manifestações do FMI, do Banco Mundial e da imprensa especializada dos EUA e da Inglaterra sobre tentativas de analisar a situação atual e projetar a situação pós-pandemia. Um exercício de futurologia sem saber qual será, realmente, a duração da pandemia e seus efeitos na economia no mundo.
O que fica claro nessa análise é que o governo de ocupação que assola o Brasil desde 2016 está realmente na contramão do que ocorre no planeta. Vendo as informações, eu me perguntava: “caramba! Já que esses caras estão tão submissos aos Estados Unidos, por que não adotam aqui as mesmas medidas adotadas lá pelo Comitê de Crise e em execução pelo FED?”.
Vejam as manchetes desta quinta-feira, 16 de abril.
Os bancos farão pacote de R$ 50 bilhões pra os setores afetados pela crise.
Em todo o mundo, é o Estado quem assume essa obrigação. Nos EUA, o FED está praticando a maior intervenção jamais pensada no capitalismo globalizado. Lá, foram liberados cerca de US$ 3 trilhões (2 trilhões do Executivo) administrados pelo FED.
Aqui, foram 1,3 trilhão para os bancos. Bancos que aqui obtêm os maiores lucros do mundo. Com a decisão, vão ganhar ainda mais dinheiro, faturando com uma crise que não é só econômica, é crise que mata as pessoas.
Claro que vão faturar. Vocês acham que eles vão pôr esse dinheiro na sua empresa ou na sua conta individual de graça?
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Quero ver a que juros os bancos vão liberar esse dinheiro. Teria o governo vontade de subsidiar os juros? Minha gente… o governo é o próprio sistema bancário na pessoa do superministro da Economia. Esse Paulo Guedes aprendeu a condenar os pobres à miséria e à morte com o ditador Augusto Pinochet, no Chile.
Agência Brasil
Paulo Guedes e o governo de ocupação que assola o Brasil desde 2016 está realmente na contramão do que ocorre no planeta
Como funcionam as novas regras
Fizeram um consórcio capitaneado pelo BNDES com os bancos Itaú, Bradesco e Santander — os três maiores — mais o Banco do Brasil (ainda estatal, mas não muito). Preveem a admissão de bancos menores (menores, mas nem tanto).
O plano é socorrer setores mais sensíveis, como energia, companhias aéreas e indústria automobilística, quase tudo nas mãos de capitais estrangeiros.
Energia. O setor de energia elétrica era capitaneado pela Eletrobras e empresas públicas estaduais, como a Cesp, a Cemig, assim por diante. Desde a posse ilegítima de Michel Temer, o governo de ocupação tem anunciado e praticado a privatização do setor elétrico. A última transação foi transferir a propriedade da Eletropaulo para a Enel, empresa estatal de energia da Itália. A China também tem feito boas comprar no setor de produção e distribuição de energia.
Não foi feito o investimento inicial. Foram anos e anos de formação de engenheiros e técnicos, de construção de usinas hidroelétrica exemplos para o mundo — e vendidas a preço de banana. Com a privatização, assume uma empresa financiada por bancos, inclusive pelo estatal BNDES, que, no dia seguinte, está faturando, cobrando mais caro a energia para nosso povo, pois tem que mandar lucros para seus donos lá fora. É o que aconteceu. Estamos todos com a conta de luz mais cara.
Cias. Aéreas. A Latam é chilena; a Azul é de um estadunidense e a Gol, fundada pela família Constantino, é de 38 empresas, entre elas, até dezembro de 2019 estava a Delta Airlines, dos EUA.
Autos. O setor automotivo está integralmente nas mãos do capital estrangeiro. Essas montadoras podem muito bem ser socorridas por suas matrizes. Deixar de mandar lucros, dividendos, pagamento de patentes por um tempo e investir localmente. Isso eles não fazem.
O buraco é mais fundo
O Tesouro admitiu, no início da semana, que está com dificuldade para rolar a dívida pública, ou seja, está difícil encontrar compradores para os títulos públicos. Diante disso, eles pretendiam fazer com que o BC pudesse comprar títulos públicos, o Senado acabou de vetar.
Boa pergunta: quem é que vai querer comprar títulos públicos de um país cujo governo está sendo taxado de incompetente pelos principais jornais do mundo?
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A dívida pública, de R$ 611 bilhões, que estava em torno de 76% do PIB, em fevereiro, com a paralisação da economia e queda na arrecadação poderá chegar ainda este ano a 90,8%, diz o Banco Central. Anteriormente, as previsões apontavam uma dívida de 80% do PIB para 2022 e 100% a partir de 2023.
Em 2024 se completará dez anos de déficits orçamentários em linha ascendente, com pico nos quatro últimos anos. Em relação ao PIB que diminui, isso fica mais dramático. O dilema do Banco Central é, precisamente, como financiar um rombo em torno de R$ 150 bilhões.
Exemplo argentino. Lembro que a Argentina em situação parecida pediu moratória. Não tinha como pagar e mesmo assim manteve a prevalência do capital financeiro. Os Kirchners renegociaram com os fundos abutres e conseguiram mover a economia, mas tampouco romperam com a lógica do capital, como queria o vice-presidente de Cristina, Amado Boudou. Veio Mauricio Macri e acabou de enterrar o país. Terão os dois Fernandes (Cristina e Alberto) que hoje estão no governo a coragem de entregar a condução da economia a um Boudou?
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Eis a grande questão da Argentina. Romper ou não romper com o capital financeiro e estabelecer uma verdadeira soberania nacional.
É urgente evitar o caos
Temos que evitar o caos! A única maneira, como já defendi e sigo defendendo, é trocando este governo ilegítimo já por uma Frente de Salvação Nacional.
Se não, vejamos
A Carta de Conjuntura No 47 (2º semestre de 2020) do Ipea, órgão de governo, analisa os efeitos da pandemia no comércio exterior numa perspectiva do biênio 2020/2021. No melhor dos cenários, o comércio diminuirá 6,5%, no pior, 22%. Na média, fica entre 11% e 20%.
Nas projeções feitas após 25 de março de 2020, o PIB mundial ficaria entre menos 1,5% e menos 2.2%. Nos Estados Unidos, menos 2,5% e, no Brasil, entre menos 1,8% e menos 5,5%; a Argentina entre 3,1% e 6,7%,
Países cujo PIB é majoritariamente do setor de serviços, uma queda das atividades desse setor estará entre 50% e 100%. O impacto no PIB poderá ser entre 15% e 30%; na média, 25%, incluindo nessa média os países onde a agricultura e a mineração têm mais peso na economia.
Recordemos que em razão do qui pro quo entre russos e sauditas sobre a produção do cru, o petróleo despencou a US$ 20 e até menos em algumas praças. Não vai subir com a mesma velocidade com a que baixou. É o que mostra o comportamento do comércio dessa commodity.
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O Brasil está entre às duas pontas, se imaginar um gráfico da queda. Depende exclusivamente da exportação de grãos e minério e na outra ponta do petróleo. O impacto de queda do PIB, por mais otimista que seja o cenário, entre menos 20 e menos 30 pontos percentuais.
Todas essas estimativas derivam de cálculos fundados na conjuntura e nos modelos adotados pela OMC, FMI e Banco Mundial. É a matemática deles: a cada mês, o PIB poderá cair 2%.
Em outras palavras, é o cenário do status quo, da manutenção das políticas que são ditadas por esses órgãos-chave do funcionamento do capitalismo no mundo e do qual o Estado brasileiro faz parte.
Além disso, no Brasil há a agravante de mais de um decênio de recessão persistente, criando um quadro de depressão. Como superar a crise na balança de pagamentos num cenário em que os países ditos centrais (do capitalismo), para protegerem suas economias, vão impor o protecionismo?
A queda nas exportações no mundo está estimada entre 10% e 20%. Os países do Sul sempre tiveram problema com o protecionismo da União Europeia e dos Estados Unidos. Eles pregam abertura de mercado pra os outros, mas no frigir dos ovos estão sempre resguardando sua base econômica, seus camponeses que produzem para o mercado interno e para exportação.
Nenhuma das condições para as variáveis otimistas está dada no cenário brasileiro e tampouco no cenário estadunidense. Não obstante, nos Estados Unidos, com a experiência de ter enfrentado severas e múltiplas crises, o FED está assumindo a dianteira.
Eles não brincam em serviço. O que se pode esperar é a radicalização do América First com maior fechamento da economia, prejudicando seus parceiros tradicionais e o seu quintal, a Nossa América.
Com relação à China, ambos sabem, Estados Unidos e China sabem que um não pode viver sem o outro. Eles são os dois maiores parceiros no comércio mundial.
Bons de diagnóstico, péssimos de prognóstico
No Brasil, esperar investimento é demasiadamente temerário. Investimento interno? De quem? Em quais setores? E o livre mercado? Vão intervir? Seguramente não.
Investimento em carteira muda de direção com a maior facilidade. Investimento direto é pura enganação, pois até agora só entrou para a compra de ativos nacionais e empresas, assim mesmo em boa parte financiada pelos bancos oficiais.
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Diante desse quadro tenebroso, que é que recomendam os sabichões do IPEA?
Repetem a mesma cartilha de sempre, sem a mínima criatividade:
– Maior alinhamento à OMC;
– Abertura do mercado;
– Investimento em carteira
– Investimento direto;
São bons em diagnóstico e péssimos em prognósticos.
Esquecem que o Brasil preferiu a OCDE, o clube de países ricos, abandonando a OMC, onde tinha um tratamento privilegiado como os demais países em desenvolvimento. Nem a China abandonou a OMC.
O governo de ocupação estará se julgando maior do que a China? Ou estará sob as ordens do Comando Sul dos Estados Unidos, já que é um governo de militares para militares? Até o ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta, por seguir orientações da OMS, caiu. E isso sendo esse ministro tenente médico do Exército, como a ele se referiu o general Mourão, membro da junta militar que nos governa.
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Mencionar a OMS traz à tona as últimas façanhas do bilionário Donald Trump. Sua índole assassina fez com os EUA retirassem o apoio financeiro à Organização. A OMS vive do patrocínio dos países membros da ONU e está desempenhando um papel da máxima relevância no acompanhamento da evolução da pandemia no âmbito mundial e orientando os Estados sobre as melhores atitudes a serem tomadas. Tirar o apoio nesse momento é muita irresponsabilidade.
Mas, o que se pode esperar de um homem que abandona seus próprios marinheiros contaminados no confinamento de um barco de guerra; que mantêm bloqueios genocidas contra Irã, Cuba e Venezuela?
Em matéria de política exterior, um governo de Salvação Nacional tem que voltar ao seio dos BRICs e ter um relacionamento de respeito mútuo com os Estados Unidos, fazendo valer os princípios da autodeterminação dos povos e da não-intervenção de um Estado sobre outro, princípios consagrados na Carta da ONU.
Paulo Cannabrava Filho, jornalista e editor da Diálogos do Sul
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