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ToggleQuase dois meses após anunciarem sua morte por diversos meios de comunicação, Iván Márquez reapareceu na quarta-feira (2) saudando suas tropas da denominada “Segunda Marquetalia” em uma mensagem de áudio interceptada pela inteligência militar e repassada à cadeia radial Caracol.
“Recebam com saudação o abraço do meu coração e meu reconhecimento ‘guerrilherada’ que persiste na luta”, se escuta Márquez dizendo no áudio de quase seis minutos, no qual contesta com ironia aqueles que o deram por morto, citando um conhecido ‘vallenato’ de Alfredo Gutierrez: “Abel Antonio não morre ainda. Abel Antonio morre quando Deus o necessite”.
A Colômbia ficcional de Vargas Llosa e as dificuldades para a paz na “Colômbia real”
No passado 6 de julho, meios colombianos e agências de notícias internacionais acolheram as versões originadas no noticiário televisivo CM&, segundo as quais o líder rebelde havia morrido como consequência das sequelas derivadas de um atentado com explosivos em junho de 2022. Esse ataque, confirmado pela “Segunda Marquetalia”, ocasionou a Márquez trauma cranioencefálico, perda da visão e a amputação de uma de suas mãos.
Seu estado de saúde daí em diante foi um mistério, até que surgiu a versão de seu falecimento, difundida também pelo La Jornada e pela Diálogos do Sul, depois que fontes próximas à guerrilha confirmaram a informação.
No áudio divulgado no dia 2 de agosto, Iván Márquez faz comentários sobre a atualidade política nacional e celebra “que o governo de Petro logre chegar ao primeiro ano de seu mandato em meio a circunstâncias complexas” e a “resistência dos poderosos que com seus partidos políticos, organizações, grêmios e meios de comunicação que se opõem a qualquer reforma”.
Criticou que ainda não se cumpriram as expectativas geradas pelas anunciadas mudanças efetuadas pelo governo e se referiu à necessidade de que se supere a violência “e o conflito social armado” vivido pelo país através da estratégia governamental da paz total.
FARC-EP
Márquez negociou um acordo de paz com a Colômbia ao longo de 5 anos, mas voltou às armas após ameaças de prendê-lo e enviá-lo aos EUA
Comissionado de Paz
Na atualidade, o Comissionado de Paz, Danilo Rueda, mantém aproximações com porta-vozes da “Segunda Marquetalia” para abrir caminhos para uma negociação de paz, propósito que não se consolidou por assuntos jurídicos, pois tanto Márquez como os demais chefes de sua organização firmaram o acordo de paz de 2016 que pôs fim a 60 anos de guerra entre o Estado colombiano e as Forças Armadas Revolucionários da Colômbia (FARC).
Em declarações ao La Jornada, Rueda disse que embora o governo reconheça a origem política dessa força rebelde, “a possibilidade de iniciar diálogos formais depende ainda de que se despeje o caminho legal”. O Comissionado se reuniu com Márquez no começo de 2023, quando o chefe insurgente já havia avançado em seu processo de recuperação.
“Acordo nacional por uma Colômbia forte e justa”, defende Petro em discurso de posse
O hoje “ressuscitado” Márquez encabeçou cinco anos de uma negociação política que deu origem ao mencionado acordo, mas em 2019 decidiu regressar às armas após acumular evidência que havia uma ameaça contra ele para prendê-lo e extraditá-lo para os Estados Unidos.
“Segunda Marquetalia”
A “Segunda Marquetalia” é considerada por analistas militares como uma “federação de frentes guerrilheiras”, cada uma com grande autonomia, que soma aproximadamente 1.800 homens em armas. Pelo menos a metade deles se agrupam em uma estrutura denominada Comandos de Fronteira, de origem paramilitar, que atua no departamento de Putumayo, nos limites com o Equador.
Além de enfrentar o exército, “Segunda Marquetalia” trava uma cruenta guerra com outro grupo dissidente das antigas FARC, conhecido como Estado Maior Central, que está para iniciar diálogos formais de paz com o governo.
Nem em sua emissão do meio-dia nem nas redes sociais, o Noticiário CM&, que informou sobre a morte de Márquez em 6 de julho, se pronunciou sobre a reaparição do líder guerrilheiro.
Jorge Enrique Botero | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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