Evita, a voz dos descamisados e dos humildes, a rebelde, a política à prova de tudo, completa nesta semana 100 anos de vida com uma legião de argentinas e argentinos que seguem seu exemplo.
Personagem fora do seu tempo, “Evita eterna, !é a frase que ressoa sempre quando se fala dessa grande mulher latino-americana, cuja vida se apagou muito cedo, aos 33 anos, vítima de um câncer, mas com umas ideias que perduram no rosto dessas jovens que veem nela essa força para seguir lutando.
Em exposições, lançamento de livros, até uma singular performance na emblemática avenida 9 de julho, onde mulheres vestidas como naquela época, à sombra da efigie com seu rosto na fachada do Ministério de Desenvolvimento Social, saíram para reverenciar uma argentina que colocou bem alto o nome de muitas mulheres.
Múltiplas são as histórias e ensinamentos que a esposa do falecido presidente Juan Domingo Perón deixou em sua curta vida, exemplo que na Argentina de hoje se agiganta, com o grito desesperado das mulheres que lutam para deixar atrás o patriarcado, dos pobres que levantam sua voz para ser ouvidos, das jovens que veem na sua figura a inspiração para construir uma sociedade melhor.
Não é a Evita do filme, não é Don Cry for me (Não chores por mim) Argentina, é a Evita viva, a loira de sorriso nobre, a que lutou por igualdade e equidade social, para que as mulheres deste país pudessem exercer pela primeira vez na história seu direito ao voto, a que pôs coração na política e quem, apesar de um câncer que a definhou, saia a defender com unhas e dentes a classe operária.
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Evita Péron
Cem vezes Evita, é o grito coletivo neste dia significativo, em que muitos rendem reverência ao seu exemplo com uma chuva de mensagens nas redes sociais, em que muitos se atrevem a dizer que ela foi, sem dúvida, a mulher do século XX.
Como disse em uma ocasião a ex-presidenta Cristina Fernández, Evita foi em sua época “a mais odiada, porém a mais amada; a mais insultada, porém a mais venerada; a mais humilhada, porém hoje eternamente vitoriosa, mirando à história definitivamente, com o amor de seu povo e o reconhecimento de todos os argentinos”.
Dirigente política e atriz, casou-se com Perón em 1945 e após a ascensão de seu esposo como Chefe de Estado foi presidenta do Partido Peronista Feminino, dirigiu a Fundação Eva Perón e foi declarada oficialmente “Chefa Espiritual da Nação” em 1952.
Desde a véspera, centenas de seguidores do peronismo se reuniram na localidade bonaerense de Los Toldos, aí na casa que a viu nascer, onde com bandeiras, cantos e múltiplas iniciativas passaram a fria noite em uma vigília.
No Twitter sob hashtag #ParaMiEvitaEs, centenas de cibernautas recordam seu legado e a qualificam como um exemplo de “justiça social, luta, consciência de classe, alma, paixão, conteúdo, orgulho, identidade, ícone, referência, transcendência, utopia”.
“Eu não deixei que me arrancassem a alma que trouxe da rua, por isso não me deslumbrou jamais a grandeza do poder e pude ver suas misérias. Por isso nunca me esqueci das misérias do meu povo e pude ver suas grandezas”, disse uma vez esta grande mulher que, visionária, sempre teve claro de que nada valeria um movimento feminino em um mundo sem justiça social.
Sempre teve clara uma ideia que a acompanhou até o final de seus dias: que a luta nunca terminaria enquanto houvesse injustiça.
“Aparento viver em um sopor permanente para que suponham que ignoro o final… É meu fim neste mundo e na minha pátria, mas não na memória dos meus. Eles sempre me terão presente, pela simples razão de que sempre haverá injustiça, e regressarão à minha lembrança todos os tristes desemparados desta querida terra”, foi uma de suas últimas declarações conhecidas.
Hoje, em uma Argentina em crise econômica, onde as desigualdades continuam vigentes, seu nome renasce para se converter em eterna, na voz desses rostos sempre invisíveis que batalham dia a dia por um país melhor, onde não haja desigualdade e todos caibam.
Tradução: Beatriz Cannabrava