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ToggleO risco de fome em países da África e da Ásia foi afastado na última sexta-feira (22), em Istambul, ao firmarem a Rússia e a Ucrânia – com a mediação da Turquia e da Organização das Nações Unidas (ONU) – um acordo que desbloqueia a saída do trigo, do milho e de outros cereais armazenados em silos na Ucrânia a partir de três portos do mar Negro. Enquanto isso, a Rússia poderá exportar seus grãos e fertilizantes ao serem retiradas, pelos Estados Unidos e seus aliados, as sanções indiretas que impediam que os cargueiros com bandeira russa cruzassem o estreito do Bósforo.
Em síntese, é o que pactuaram na cidade turca os dois países em guerra. Agora, por razões técnicas, só faltam algumas semanas para que este entendimento possa ser posto em marcha.
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O acordo prorrogável, se for respeitado por ambas as partes, terá uma vigência inicial de 120 dias, nos quais serão habilitados corredores para navegação segura. Isso pressupõe um cessar fogo por ambas as partes na zona a ser determinada, desde e para os portos de Odessa, Chernomorks e Yuzhny.
O acordo prorrogável, se for respeitado por ambas as partes, terá uma vigência inicial de 120 dias, nos quais serão habilitados corredores para navegação segura. Isso pressupõe um cessar-fogo por ambas as partes na zona a ser determinada
Para agilizar a navegação por esses corredores seguros, e para proteger-se de um eventual desembarque russo em seus portos, a Ucrânia não vai tirar por completo as minas dos acessos, mas sim a cada duas semanas porá indicadores flutuantes nas rotas marítimas até águas internacionais.
Aí, barcos de guerra da Turquia os receberão e, para que os mercantes não sofram nenhum ataque, patrulharão uma ampla faixa marinha. Como o acompanhamento será feito por satélite, não os escoltarão até chegar aos portos turcos de destino, onde as cargas serão revistadas pela aduana otomana.
Os navios vazios que se dirijam aos três portos ucranianos serão inspecionados pela aduana turca em Istambul, como mostra de confiança, em presença de militares russos, para comprovar que não levam armamento à Ucrânia, exigência da Rússia que foi satisfeita.
Um centro de coordenação das Nações Unidas, com representantes dos exércitos russo, turco e ucraniano, a partir de Istambul assegurará que todas as partes implicadas cumpram os compromissos assumidos. Da mesma forma, o núcleo será encarregado de dirimir qualquer incidente que possa ocorrer e controlar todo o tráfego naval pelos corredores seguros.
Onu News
O risco de fome em países da África e da Ásia foi afastado nesta sexta-feira em Istambul
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“A firma do memorando Rússia-ONU demonstra uma vez mais o caráter absolutamente artificial das tentativas do Ocidente de endossar à Rússia a culpa pelos problemas de fornecimento de grãos ao mercado internacional”, afirmou o chanceler russo Serguei Lavrov por meio de comunicado difundido pelo ministério de Relações Exteriores.
Para Lavrov, “é gratificante que Washington e Bruxelas tenham deixado de pôr obstáculos aos acordos alcançados hoje” e agora, sustenta, “esperamos que em breve sejam tomadas todas as medidas necessárias para o cumprimento efetivo de ditos acordos”.
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O secretário-geral da ONU, António Guterres, destacou que este acordo “trará alívio aos países em desenvolvimento que estão à beira da bancarrota e às pessoas mais vulneráveis que se encontram à beira da fome”. E ajudará a estabilizar os preços mundiais dos alimentos, que já estavam em níveis recorde inclusive antes da guerra”.
Guterres explicou que, durante as difíceis negociações, os mediadores não buscaram que isto ou aquilo fosse bom para os russos ou para os ucranianos, mas se concentraram no que fosse bom para toda a humanidade. “Não há dúvida de que este acordo vai beneficiar todo mundo”, sublinhou.
Por sua parte, o primeiro-ministro da Ucrânia, Denys Shmyhal, em uma reunião do governo, celebrou que “o desbloqueio de nossos portos é uma questão de bilhões de dólares para nossa economia: neste momento nossos agricultores já colheram 6 milhões e meio de cerais da nova colheita e as estimativas apontam que, no total, neste ano, teremos entre 65 e 70 milhões de grãos”.
Na Ucrânia – o que se pode ver em seus meios de comunicação neste sábado – elogiam como grande conquista o fato de que esse país manterá um pleno controle sobre seus portos, o que exclui abrir uma brecha no sistema de defesa que se instalou desde que começaram as hostilidades.
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Durante muito tempo, a segurança dos portos ucranianos impediu que se avançasse para entendimentos, até que a ONU, por insistência do Kremlin, ajudou a desbloquear o outro lado do problema: retirar as sanções ocidentais que dificultavam as exportações de cereais russos.
Em todo caso, Shoigu reiterou que a Rússia não tem a intenção de usar os corredores navais seguros para atacar os portos ucranianos.
“A Rússia assumiu o compromisso, claramente estipulado no documento, de não se aproveitar dos portos que serão livrados das minas e estarão abertos. Nos comprometemos a respeitar isso. E ainda mais, foi fixada uma data concreta em que tudo estará habilitado”, comentou o ministro russo após a cerimônia em Istambul.
Cerimônia atípica
Com o secretário-geral do ONU, António Guterres, e o presidente do Turquia, Recep Tayyip Erdogan, como testemunhas de honra, pela Rússia estampou sua firma o titular de dependência militar, Serguei Shoigu, e pela Ucrânia o fez o ministro de infraestruturas, Oleksandr Kubrakov.
Chamou a atenção, como se pode ver nas imagens de televisão diretamente desde Istambul, que o documento não foi firmado pelos ministros de Defesa da Rússia e da Ucrânia.
A ausência do colega ucraniano de Shoigu, Oleksy Reznikov, derivou em uma cerimônia atípica; apesar do pacto beneficiar ambos os países, seus enviados nunca se sentaram à mesa ao mesmo tempo, como se tratasse de dois atos diferentes.
Dá a impressão que a Rússia e a Ucrânia subscreveram com a ONU e a Turquia os compromissos por separado, mas o importante é que se cumpra o acordo, seja triangulado ou não.
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A televisão pública da Rússia nem sequer mencionou quem firmou pela Ucrânia – “um representante” disse sem mostrar esse momento – centrando seu relato em que Shoigu analisou com seu colega turco, Hulusi Akar, a situação na Síria e no mar Negro, à parte de subscrever mais tarde um acordo que permite que este país exporte seus cereais e fertilizantes.
O que por motivos de protocolo em outras circunstâncias simplesmente teria sido recusado pela afronta a Shoigu, agora o Kremlin o aceitou relutantemente para sublinhar que a Rússia não usa os alimentos como arma.
Juan Pablo Duch, correspondente do La Jornada em Moscou.
Tradução de Beatriz Cannabrava.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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