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A batalha de Moscou: cidade resistiu mesmo sitiada e desbaratou exército nazista em 1941

O nazifascismo ainda levaria o terror a muitos povos da Terra, mas o “crepúsculo dos deuses” já se delineava no horizonte
Carlos Russo Jr
Diálogos do Sul Global
Florianópolis (SC)

Tradução:

Desde o início da Guerra, os nazistas tinham como estratégia a tomada de Moscou. Hitler calculava que com a queda da capital política e econômica da URSS seria quebrada a resistência do Exército Soviético e a guerra terminaria.

Na operação denominada “Tufão” o comando nazi esperava desbaratar as tropas soviéticas ainda nas vizinhanças da capital (entre Viazma e Briansk) e depois invadi-la e destruí-la. O “Grupo de Exércitos Central” (sic) recebeu reforços e as forças atacantes somavam: 74 divisões, dentre as quais 14 blindadas e 8 motorizadas, 1 milhão e 800 mil soldados e oficiais, 1.700 tanques de guerra, 1.390 aviões, artilharia de mais de 14.000 canhões e morteiros.

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As tropas soviéticas na Frente do Oeste e incluindo suas reservas, contavam com 1 milhão e 250 mil homens, 990 tanques (em grande parte ligeiros), 677 aviões (apenas 20% de novo tipo), 7.600 canhões e morteiros.

O nazifascismo ainda levaria o terror a muitos povos da Terra, mas o “crepúsculo dos deuses” já se delineava no horizonte

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Num discurso pela rádio inglesa, disse Charles de Gaulle: “Não há um só francês honrado que não aclame a vitória da Rússia




A ofensiva alemã

Em outubro de 1941 as tropas nazistas desencadearam a grande ofensiva, desferindo vigorosos golpes sobre as forças soviéticas, que constituíam a primeira linha de defesa de Moscou, a 200 km da capital.

O Comando Soviético tomou medidas enérgicas de defesa como a construção de fortificações nos seus arredores, nas quais trabalharam dia e noite 600 mil voluntários e prisioneiros políticos e comuns. Divisões da Sibéria e do extremo oriente foram trazidas; a defesa antiaérea foi reforçada e 12 divisões de milicianos populares foram preparadas.

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Na retaguarda das tropas fascistas desdobrou-se um intenso movimento guerrilheiro, decisivo no corte de linhas de abastecimento.

Em Viazma, as tropas soviéticas cercadas, no entanto, apresentaram tal nível de resistência que 28 divisões do Exército de Hitler ficaram, inicialmente, imobilizadas. Em muitas frentes, entretanto, o cerco foi rompido.

As forças soviéticas conseguiram se retirar e agruparam-se na linha de defesa de Mojaisk.

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Ao norte de Moscou, o inimigo teve que fazer frente à obstinada resistência das tropas soviéticas do setor de Kalinin. Ao sul, Tula tornou-se um obstáculo intransponível. Todas as tentativas do exército blindado do general alemão Guderian para tomá-la, fracassaram.

A luta chegou a ser realizada casa a casa, quando o Regimento Operário de Tula provocou, às custas de praticamente sua extinção, enormes baixas aos nazistas. Ao preço de grandes perdas humanas e materiais, o inimigo conseguiu finalmente alcançar os acessos próximos de Moscou, praticamente a 80 km da frente de combate.

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O Comitê de Defesa do Estado decretou “estado de sítio”; todo o corpo diplomático foi evacuado, parte das instituições governamentais e fábricas voltadas ao esforço de guerra, transferidas para o leste. Somente o comando político-militar soviético permaneceu em seus postos na capital.

Graças à resistência de Tula, de Viazma, da ação de solapamento guerrilheiro às linhas de suprimento nazistas, o ataque frontal a Moscou teve que aguardar duas semanas para sua preparação, o que permitiu um maior reforço em toda última linha de defesa da capital soviética.

Moscou sitiada, entretanto, não deixou de comemorar o 7 de Novembro, dia da Revolução de 1917.


A Inexpugnável

Moscou seguia sitiada, mas inabalável. Aproximava-se o inverno, o que enfurecia Hitler e seus generais que haviam sonhado com um “Tufão”, uma guerra rápida. As tropas nazistas, apesar de suas perdas, ainda eram, em muito, superiores. Apenas e tão somente, na aviação o comando soviético conseguia manter certa superioridade numérica.

Uma nova ofensiva nazista começou em 15 de novembro de 1941. Dois potentes agrupamentos com 51 divisões, dentre elas, 20 blindadas e motorizadas, assestaram seus golpes ao norte sobre Kline e Solnetchnogorsk, ao sul sobre Tula e Kachira, tentando fechar o cerco a Moscou. Paralelamente, atacavam a oeste da capital, através de Istra e Naro-Fominsk.

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Os combates duríssimos travados foram marcados por atitudes decisivas e heroicas. A 8ª Divisão do general Panfilov conseguiu fechar o acesso dos atacantes à estrada de Volokolamski e 28 combatentes desta mesma Divisão realizaram uma façanha imortal, lançando-se contra dezenas de tanques, num combate que durou quatro horas; nenhum deles sobreviveu, mas, ao final, 18 tanques ardiam e ao seu redor, dezenas de soldados alemães encontram sua sorte.

Soldados de infantaria, tanquistas, cavalaria, fuzileiros navais da esquadra do Pacífico, artilheiros, sapadores, combatentes de todas as armas defendiam com excepcional bravura Moscou impedindo todas as tentativas nazi de ruptura da linha de defesa final.

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Entre todas as capitais europeias atacadas pelo ar pelos hitleristas, a melhor protegida, a que sofreu menos danos materiais e da população, foi Moscou. Ao todo, a aviação soviética e a defesa antiaérea abateram 1.300 aviões inimigos.

Na história da Batalha de Moscou figuram os nomes de 24 pilotos de caça que, ao terem seus aparelhos praticamente inutilizados pelo fogo inimigo, conseguiram arremeter e provocar colisões com a destruição de aeronaves nazis.


A homenagem a uma guerrilheira

Na retaguarda do inimigo, os guerrilheiros reforçavam os seus golpes.

Em uma das estações do metrô de Moscou, há alguns anos, pude reverenciar a escultura dedicada a Zoia Kosmodemiaskaia (teria o nome Zoia inspirado Prestes ao dar esse mesmo a uma de suas filhas, a responsável pela tradução para o português do diário da segunda mulher de Dostoievski?).

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Aos dezesseis anos, a moça despediu-se de sua mãe e de Moscou para juntar-se aos guerrilheiros. Conseguiu ultrapassar a linha de frente e seu grupo, no inverno russo, dedicou-se a incendiar as casas em que os nazistas se abrigavam. Foi presa por uma patrulha e resistiu heroicamente à tortura. Seus carrascos decidiram enforcá-la; enquanto o carrasco lhe colocava a corda no pescoço, ela gritou aos aldeões coagidos a assistir à execução: “Eu não tenho medo de morrer, camaradas. É uma felicidade poder morrer por meu povo!”.


Os últimos redutos e a contraofensiva

Os combates, entretanto, sem ruptura de fileiras, chegaram até a distância de 25-30 km de Moscou. Mas a partir daí não conseguiram avançar um palmo.

No auge da Batalha de Moscou as tropas soviéticas passaram à ofensiva nos acessos de Leningrado e na frente sul, libertando as cidades de Tikhvine e Rostov. Essas ações impediram a chegada de novos reforços.

A contraofensiva lenta, mas implacavelmente, fez a correlação das forças mudar a favor das Forças Armadas Soviéticas.

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Em 5 de dezembro de 1941, contando com forças de retaguarda, teve início a primeira operação ofensiva estratégica das forças soviéticas na Segunda Guerra Mundial, numa frente de 500 km de batalha, indo de Kalinin a Ielets.

Seu objetivo era desbaratar os agrupamentos de choque inimigos e colocar Moscou livre do perigo de invasão. Inopinado e demolidor, às custas de grandes perdas, o inimigo teve que recuar a toda pressa.

Os campos de batalha nas proximidades de Moscou ficaram cobertos de cadáveres de soldados e de oficiais fascistas, de material de guerra alemão destroçado e abandonado. No território libertado viam-se por toda parte traços das destruições e da ferocidade dos alemães e seus aliados.

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Por exemplo, em Kline devastaram a casa-museu de Tchaikovski, em Iasnaia Poliana pilharam o museu de Tolstói e profanaram o túmulo do escritor genial.

A contraofensiva coroou-se por uma brilhante e esmagadora vitória. A operação “Tufão” dos nazistas, em que eles tanto haviam apostado, fracassara. Seus agrupamentos de choque foram repelidos para mais de 200 km de Moscou, após perderem 38 divisões, dentre elas, 15 blindadas e motorizadas.

A derrota abalou seriamente a máquina de guerra nazista, tida até ali, como imbatível. Durante seu avanço as tropas soviéticas libertaram 11 mil localidades, incluindo 60 cidades. A inferioridade das tropas vermelhas fora superada pela superioridade política e moral, pela incorporação de todo um povo na luta Pátria.

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Num discurso pela rádio inglesa, disse Charles de Gaulle: “Não há um só francês honrado que não aclame a vitória da Rússia. Enquanto a força e o prestígio alemães oscilam, sobe ao zênite o sol da glória russa”.

O jornal Star de Washington, reproduzindo fala do Presidente Roosevelt, escreveu: “Os sucessos da Rússia revestem-se de grande importância não só para Moscou e o povo russo, como também para Washington, para o futuro dos Estados Unidos. A vitória renderá homenagem aos russos por terem suspendido a “guerra relâmpago”, pondo em fuga o inimigo”.

A guerra nazifascista ainda levaria o terror a muitos povos da Terra; cobraria muito sangue, mas o “crepúsculo dos deuses” já se delineava no horizonte. Moscou estava salva.

Referências:
General Riábov, V.: “O Grande Feito do Povo Soviético e seu Exército”. Editora Progresso, Moscou, 1983.
Nagorski,A. “A batalha por Moscou”. Ed. Contexto, 2013.

Carlos Russo Junior | Colunista na Diálogos do Sul


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Carlos Russo Jr Carlos Russo Jr., coordenador e editor do Espaço Literário Marcel Proust, é ensaísta e escritor. Pertence à geração de 1968, quando cursou pela primeira vez a Universidade de São Paulo. Mestre em Humanidades, com Monografia sobre “Helenismo e Religiosidade Grega”, foi discípulo de Jean-Pierre Vernant.

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