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Temporais como no litoral paulista eram raros e recorrência é resultado da crise climática

"Se não podemos evitar esses eventos extremos, pelo menos podemos preparar a população", afirma o climatologista e meteorologista José Marengo
Nara Lacerda
Brasil de Fato
São Paulo (SP)

Tradução:

O temporal de proporções catastróficas que atingiu o litoral de São Paulo no fim de semana causou prejuízos incalculáveis para as famílias e cidades afetadas. Pelo menos 46 pessoas morreram e dezenas estão desparecidas. Foi a maior chuva já medida no Brasil. Um fenômeno considerado de “grande perigo” pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

Embora o evento climático represente um recorde, ele não foi necessariamente o mais forte já ocorrido em território nacional. Há relatos de tempestades semelhantes, ainda que não tenham sido medidas. No entanto, para encontrar algo assim, é preciso voltar décadas no tempo. O que acende o alerta agora, além da intensidade, é a recorrência desses desastres, que está aumentando.

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Em artigo publicado pela MetSul, o meteorologista Luiz Fernando Nachtigall, faz um relato histórico sobre o tema. Ele explica que os volumes de água que atingiram o litoral paulista são raros em todo o planeta e normalmente estão ligados a passagens de ciclones tropicais, o que não aconteceu em São Paulo.

Foram 680 milímetros em Bertioga e 626 milímetros em São Sebastião, os locais mais afetados. Em outros municípios da região, como Guarujá, Ilhabela, Ubatuba, Caraguatatuba, Santos, Praia Grande e São Vicente, choveu menos, mas ainda assim, acima de 100 mm/dia, o que já é considerado de alto risco pelo Inmet.

“É muito possível que, no passado, já tenha havido acumulados de chuva maiores sem que tenha havido medição para documentar. O dado de Bertioga é, portanto, a maior chuva já registrada e documentada no Brasil, mas não necessariamente a maior já ocorrida”, afirma Nachtigall. 

"Se não podemos evitar esses eventos extremos, pelo menos podemos preparar a população", afirma o climatologista e meteorologista José Marengo

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Troncos de árvores e água do mar barrenta na praia de Boiçucanga, em São Sebastião, após deslizamentos no litoral norte de São Paulo




Petrópolis

Cerca de um ano antes do evento do último o fim de semana em São Paulo, a cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro, foi assolada por um temporal que somou 534.4 milímetros em 24 horas, com consequências que perduram até hoje.

Ainda segundo o artigo, o recorde oficial anterior foi observado em 1991, quando choveu 404,8 milímetros em 24 horas na capital de Santa Catarina, Florianópolis. Há também um dado não oficial sobre um temporal que atingiu o município paulista de Biritiba Mirim em 1947, com acumulado de 622,5 milímetros de água. 

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“De fato, é algo que está acontecendo mais frequentemente”, afirma o climatologista e meteorologista José Marengo, coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).


Vulnerabilidade

Segundo ele é importante chegar a soluções para evitar os desastres, que são resultado do evento climático e da vulnerabilidade da população em áreas de risco.

“Essa ameaça está aumentando em todo o mundo como consequência do aquecimento global. O risco climático está aumentando no presente e, no futuro, com as mudanças climáticas, pode ser maior. Precisamos estar preparados. Se não podemos evitar esses eventos extremos, pelo menos podemos preparar a população para ficar ciente que chuvas intensas podem gerar desastres e matam.”

Marengo pontua que mais de 24 horas antes da tempestade, o Cemaden havia alertado a defesa civil e o poder público sobre o risco. Em diversas localidades do planeta, as previsões informadas são suficientes para que o poder público coloque em prática ações de alerta e até de remoção da população.


Frequência ampliada

A Coordenadora de Resiliência e Baixo Carbono da organização ICLEI, Keila Ferreira, também observa que os desastres estão ficando mais frequentes. Ela ressalta que proteger a população em situações dessa natureza demanda planejamento objetivo e integrado, que dialogue com políticas para mudanças climáticas, desenvolvimento social e direitos humanos.

“Entendemos que os eventos estão cada vez vindo com potencial muito maior. Sabemos das fragilidades das infraestruturas urbanas, que não têm capacidade de dar resposta para isso. Compreendemos que existe hoje no Brasil um sistema de monitoramento muito mais eficaz. Aí compreendemos a necessidade de recebimento desse alerta e de que forma esse alerta chega à população. Porque é preciso preparar a pulação para um processo de desastre.”

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A especialista afirma que as ações devem englobar previsões e mapeamentos de riscos como medidas de planejamento. É necessário ter um diagnóstico das principais ameaças de cada cidade, levando em consideração realidades geográficas e sociais, e implementar políticas específicas para as regiões.

São recomendações que valem para todo o poder público, mas principalmente para as prefeituras, explica Santana. Segundo ela, os governos municipais devem ter eixos norteadores para prevenção, preparação, mitigação, resposta e recuperação desses desastres. As metas a curto, longo e médio prazo são essenciais. “Sabemos que não vai acabar por aqui. Sabemos que os desafios vão continuar”, diz ela.

Nara Lacerda | Brasil de Fato
Edição: Nicolau Soares


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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