O secretário geral da Organização das Nações |Unidas (ONU), António Guterres, inaugurou a 25ª Conferência das Partes (COP25), órgão máximo da Convenção Marco de Mudança Climática da Organização das Nações Unidas (ONU), com um discurso no qual alertou para uma “catástrofe” sem paliativos se não se agir já e com determinação sobre as causas que provocam a mudança climática, com especial ênfase na redução dos gases de efeito estufa.
“Os sinais não podem ser ignorados”, advertiu e insistiu em que “as decisões importantes têm que ser tomadas agora, já”.
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As delegações dos 196 países que compareceram, entre os quais havia chefes de Estado e primeiros ministros, aspiram pela subscrição de um compromisso para que em 2050 haja zero emissões netas de carbono, entre outros objetivos para a conservação do planeta.
O primeiro a tomar a palavra foi o secretário geral da ONU, que insistiu no momento crucial que se vive e apelou para a responsabilidade e para a consciência das delegações para “não passar para a história como a geração que agiu como uma avestruz enquanto ardia o planeta”.
Entre os muitos objetivos da agenda da Cúpula do Clima, Guterres sublinhou que “a única maneira de reduzir a temperatura global é limitar os combustíveis fósseis. Se não, acabaremos em uma situação catastrófica. A juventude está instando os líderes a que se esmerem para lutar contra a emergência climática”.
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Ressaltou que “as decisões importantes têm que ser tomadas agora. Os dados mais recentes da meteorologia mundial têm revelado que chegamos a limites impensáveis. Passamos e muitíssimo. Os sinais não podem ser ignorados, os últimos cinco anos foram os mais quentes dos já documentados. Há desastres climáticos mais extremos, furacões, secas, inundações, incêndios, derretem-se os casquetes polares. A Antártida se reduz três vezes mais rápido que o previsto”.
Nações Unidas
O secretário geral da Organização das Nações |Unidas (ONU), António Guterres
Situação precária
Guterres reconheceu que apesar dos acordos históricos que foram firmados nas últimas décadas para lutar contra a destruição do planeta, como o Protocolo de Quioto ou o Acordo de Paris, a situação é pior que previam os estudos mais pessimistas. “Estamos muito longe de um caminho sustentável. Vemos alguns modelos sustentáveis, mas não se aproximam da escala que precisamos. Há que mudar a fiscalização dos ingressos ao carbono, acabar com as indústrias que queimam carvão, acabar com os subsídios aos combustíveis fósseis e fazer uma transição para uma economia verde. Não há outro caminho. Três informes importantes nos confirmam que estamos destruindo os sistemas que nos mantêm com vida. As fábricas que queimam carvão continuam sendo construídas. Ou acabamos com elas, ou os esforços contra a mudança climática estão destinados ao fracasso”.
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Depois tomou a palavra o presidente do governo espanhol, o socialista Pedro Sánchez, em sua qualidade de anfitrião, e se comprometeu a liderar essa batalha no seio da União Europeia (UE), mas pondo especial ênfase em fomentar o multilateralismo.
Sánchez sublinhou que há a certeza científica de que o homem está por trás do dano causado ao frágil equilíbrio que permite a vida na Terra e também que depende dele repará-lo e frear o que está por vir. “Hoje, por sorte, só um punhado de fanáticos negam a evidência”, advertiu.
Madri será também durante estes dias a capital do diálogo com a sociedade, através da participação de mais de mil e quinhentos coletivos e organizações, centenas de empresas comprometidas com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e uma “geração inteira de jovens que se nega a calar ante a crescente degradação do planeta”. Em total, cerca de 30 mil pessoas se inscreveram para participar na reunião.
Durante a primeira plenária, na qual tomaram a palavra líderes de todos os continentes, foram escutadas com especial atenção as palavras da presidenta da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, a democrata Nancy Pelosi, que acudiu ao encontro em companhia de mais 16 congressistas e sem representação do governo do presidente republicano Donald Trump, um negacionista da mudança climática e que já anunciou sua retirada do Acordo de Paris.
Pelosi afirmou ao plenário que “estamos aqui para dizer a todos, em nome da Câmara de Representantes e do Congresso dos Estados Unidos, que seguimos envolvidos”.
Os outros grandes contaminadores do planeta, como China, Rússia e Índia, mantêm até o momento uma postura ambígua sobre os objetivos propostos e o caráter urgente de adotá-los para evitar uma catástrofe humanitária.
A Alta Comissionada da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, saudou a inauguração da reunião e afirmou que “os mais afetados pela mudança climática já sofrem múltiplas formas de descriminação, devido ao seu gênero ou sua condição econômica; porque são membros de povos indígenas ou minorias, migrantes ou deslocados internos; por sua idade; ou porque são pessoas com incapacidades” pelo que “devemos remodelar nossa infraestrutura energética global, fazendo com que a energia limpa e segura seja acessível a todas as pessoas”.
O presidente do Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC), Ho Sung Lee, disse que os especialista querem trabalhar “mão a mão” com os políticos e governantes para que não se produza uma “desconexão” sobre o “desafio” da mudança climática e advertiu que “estamos fazendo o contrário” para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, e que se continuamos a não fazer nada algumas das consequências serão “a ameaça da segurança alimentar pelo aumento de competição pelas terras ou as perdas de biodiversidade e ecossistemas”
*Armando G. Tejeda, Correspondente de La Jornada em Madri
**La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.
***Tradução: Beatriz Cannabrava
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