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“A promessa da América”: Biden declara que resgatará o país de suas múltiplas crises

Encerrada a Convenção Nacional, começa a batalha dos Democratas e aliados durante os próximos 75 dias para desalojar o atual ocupante da Casa Branca
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

A Convenção Nacional Democrata culminou com Joe Biden declarando que resgatará o país de suas múltiplas crises e recuperará “a promessa dos Estados Unidos para todos” como seu próximo presidente.

O espetáculo político, pela primeira vez produzido como evento virtual, chegou ao seu fim no quarto dia com a apresentação do candidato presidencial através das vozes de sua família, seus colegas e de “pessoas comuns” por todo o país.  

Uma e outra vez sublinhou sua “decência” e sua “empatia” com todos, conhecidos e desconhecidos, e que após uma longa carreira política de quase 50 anos – como senador e dois períodos como vice-presidente -, é um dos candidatos presidenciais com maior experiência na história do país – tudo para contrastar com o atual residente da Casa Branca.

Biden aceitou formalmente sua nomeação como candidato presidencial democrata e declarou diante das câmeras – sem público presente, sem conjuntos musicais, sem bolas de gás, com todo o circo de uma convenção física ausente e substituída por essa versão pandemia – que “serei um aliado da luz, não da escuridão….optamos pela esperança sobre o temor” e reiterou que isto se trata de “uma batalha pela alma do país”.

Encerrada a Convenção Nacional, começa a batalha dos Democratas e aliados durante os próximos 75 dias para desalojar o atual ocupante da Casa Branca

La Jornada
O evento virtual, chegou ao seu fim no quarto dia com a apresentação do candidato presidencial através das vozes de sua família

As “quatro crises históricas”

Declarou que há quatro crises históricas, com a pandemia, a pior crise econômica desde a Grande Depressão, a urgência da justiça racial e a mudança climática.

 
“A opção não pode ser mais clara. Julgue este presidente sobre os fatos” e apresentou a lista dos dados do dessarte da saúde pública e da crise econômica.

“O presidente não assume nenhuma responsabilidade, culpa os demais… Não tinha que ser assim”, acusou.

Afirmou ter um plano para enfrentar a pandemia assim como para reativar a economia para beneficiar as maiorias. “Esta campanha não se trata só de ganhar votos, é sobre ganhar o coração e, sim, a alma dos Estados Unidos, ganhá-la pelos generosos entre nós, não os egoístas, ganhá-la para os trabalhadores que mantêm funcionando esse país, e não só para alguns privilegiados de cima”. 

Prometeu um novo sistema de imigração “baseado em nossos valores”, reforçar os sindicatos que “construíram a classe média”, elevar os salários dos trabalhadores essenciais, como também obrigar os mais ricos a pagar sua parte em impostos, e prometeu que “restaurarei a promessa de América para todos”. 

Biden será, se ganhar, o presidente mais idoso na história ao início de seu mandato (completará 78 anos) e, nos fatos, é o candidato da cúpula geriátrica do partido – a presidenta da câmara baixa, Nancy Pelosi, o ex-presidente Bill Clinton e Hillary Clinton, o líder da bancada minoritária do senado, Charles Schumer — algo que ele mesmo reconhece ao se qualificar como uma figura “de transição”.

Sem o talento retórico e o carisma de Barack Obama ou, em seus melhores tempos, Bill Clinton, Biden se apresenta como alguém com a experiência para guiar o país em momentos de crise, de reparar os danos à república ocasionados por Trump, e para buscar um regresso à “normalidade”.

Ao mesmo tempo, ele e a cúpula política democrata entendem, embora ainda se recusem a ceder, as novas forças dinâmicas dentro de seu partido e seus aliados, como a mudança demográfica e suas implicações para o país.

Em parte por isso, foi selecionada a senadora Kamala Harris como a companheira de chapa de Biden – se ganharem, ela seria a primeira mulher e também a primeira negra a ocupar a vice-presidência. 

Mas a convenção foi exitosa em dar expressão à mudança demográfica e geracional, ao impacto de Bernie Sanders e seus aliados em inclinar o partido para a esquerda pela primeira vez em décadas, incluindo abordar o tema agora inevitável do racismo sistêmico, dos imigrantes, da mudança climática e das diversas expressões de violência dentro dos EUA – e ao mesmo tempo oferecer uma imagem de unidade que gira menos em torno de um candidato, mas contra o presidente Trump e suas hostes. 

Essa unidade se expressou através de comentários sobre Biden de sete dos principais candidatos democratas que competiram com ele pela nominação, entre eles Sanders e o multimilionário Michael Bloomberg, como com diversas vozes-latinas, asiáticas, afro-estadunidenses, indígenas, veteranos militares, e um foro do candidato com trabalhadores e grêmios para enfatizar a importância chave dos sindicatos – por todo o país sobre o que esperam de uma presidência de Biden.

O tema deste dia foi “A promessa da América”, e toda a noite foi dedicada a oferecer uma “visão” para cumprir com as expectativas dos estadunidenses.  

A atriz Julia Louis-Dreyfus (que foi premiada múltiplas vezes por seu papel estelar na série Veep, na qual ela é uma vice-presidenta) foi a apresentadora do programa.

Os intervalos musicais estiveram a cargo de The Chicks (agrupação de country-rock originalmente conhecida como as Dixie Chicks), e um dueto com John Legend e Common, e diferentemente de outras noites, esta teve até um autor – o historiador presidencial Jon Meacham.

Com o fim desta convenção começa a batalha frontal dos democratas e seus aliados durante os próximos 75 dias para desalojar o agora ocupante da Casa Branca.  

A campanha de Biden receberá um presente na sexta-feira, quando mais de 70 ex-altos funcionários de segurança nacional republicanos endossaram o democrata ao emitir ferozes acusações contra Trump. Entre eles se encontra o ex-chefe da CIA, Michael Hayden, o ex-diretor do FBI, William Webster e o primeiro diretor da Inteligência Nacional, John Negroponte.

Republicanos

Por sua parte, o Partido Republicano de Trump realizará sua convenção nacional a partir da próxima segunda-feira. Sabe-se que haverá um mosaico de participantes muito diferente dos democratas, incluindo talvez alguns que creem em uma teoria de conspiração no qual Trump está salvando o mundo contra um culto de pedófilos e canibais a serviço de Satanás com vínculos com democratas e algumas estrelas de Hollywood.    

Na quarta-feira, Trump elogiou os integrantes desse grupo ultradireitista que se identificam como QAnon ao comentar que embora não os conheça “entendo que gostam muito de mim, o que aprecio”. E agregou: “tenho escutado que estas são pessoas que amam nosso país”.

E mais uma vez acusou os Democratas “de tentar roubar esta eleição”.

David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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