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Abrindo passagem para ditaduras cruéis, eliminação de líderes sociais ganhou impulso na América Latina

Uma guerra cruel que tem condenado os dois terços da população de nosso continente a miséria, à desnutrição crônica e à perda de sua dignidade humana
Carolina Vásquez Araya
Diálogos do Sul Global
Cidade da Guatemala

Tradução:

A grande contradição de nossos tempos é como, apesar da globalização, o acesso à informação e aos sistema de comunicação eficientes e acessíveis, os povos se encerram na proteção de seu entorno cotidiano e, de maneira progressiva e com profundo ceticismo, vão perdendo a capacidade de reflexão e análise.

Talvez esta seja uma das consequências da degradação ética e moral das organizações políticas, mas sobretudo é resultado das estratégias de inteligência impostas desde o estrangeiro, cujo objetivo é entorpecer a participação popular em decisões que lhe competem e centralizá-las em função de outros interesses.

Desde o século passado, a eliminação de líderes carismáticos e comprometidos com o desenvolvimento de seus povos foi ganhando impulso nos países latino-americanos ao extremo de cercear os movimentos populares, abrindo passagem às mais cruéis ditaduras e obstaculizando qualquer tentativa de independência de nossos países.

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Ao mesmo tempo, e enquanto o império estadunidense golpeava a mês para impor seus interesses e os de seus consórcios, os governantes corruptos recebiam prebendas e encontravam abertos os cofres dos bancos do primeiro mundo para depositar neles as riquezas dos povos

Uma guerra cruel que tem condenado os dois terços da população de nosso continente a miséria, à desnutrição crônica e à perda de sua dignidade humana

Izquierda en Movimiento
Este massacre lento e progressivo se tem perpetrada graças à eliminação física e moral dos verdadeiros líderes populares

Apatia popular

A capacidade cidadã para intervir na tomada de decisões transcendentais, das quais depende seu presente e seu futuro, foi derivando em uma perigosa apatia que permitiu o traspaso de bens públicos para grupos empresariais que enriqueceram de maneira grotesca com sua exploração.

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Desse modo, se consolidaram tanto a debilidade dos Estados como o poder dos grupos econômicos, favorecidos graças à sua influência nos âmbitos político e judiciário.

A partir disso, todas as políticas públicas se associaram a novos sistemas e, sob a consigna de um novo modo de conceber o desenvolvimento – um neoliberalismo tropicalizado – perderam terrenos a educação, os sistemas de saúde pública e as iniciativas de proteção do território e das suas riquezas.

Este novo modelo tem tentado apagar – com métodos violentos e também solapados – a chispa de resistência que ainda brilha em alguns povos do continente.

Muitos dos governos, instalados no poder por obra e graça dos fundos recebidos daqueles que se têm beneficiado da corrupção e do crime organizado, têm regido nossos países de maneira ilegítima embora legal – graças à manipulação legislativa – e terminaram por degradar até a própria ideia de uma democracia real, participativa e inclusiva. 

Somos filhos da guerra

De uma guerra cruel e solapada que tem condenado os dois terços da população de nosso continente a uma miséria injusta, à desnutrição crônica e à perda de sua dignidade humana.

Este massacre lento e progressivo se tem perpetrada graças à eliminação física e moral dos verdadeiros líderes popularestáticas de desinformação e desprestígio elaboradas e divulgadas por aqueles que se apropriaram de nossas terras e de nossas vidas.

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Os discursos populistas das campanhas que hoje culminam com eleições de novos líderes em alguns países do continente não mudaram em mais de um século; são os cantos de sereia de um sistema desumanizado cujo poder se consolida a passos agigantados, confiado na certeza de que à cidadania tiraram tudo: o último alento de esperança e o último ímpeto de rebeldia.

O discurso populista não mudou: é a mentira institucionalizada.

Carolina Vásquez Araya, Colaboradora de Diálogos do Sul da Cidade da Guatemala

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Carolina Vásquez Araya Jornalista e editora com mais de 30 anos de experiência. Tem como temas centrais de suas reflexões cultura e educação, direitos humanos, justiça, meio ambiente, mulheres e infância

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