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Foto: Comando Sul / X

Argentina acusa Irã de atentado a Amia como reflexo da aliança entre Milei e EUA

Conforme lembra o sociólogo Jorge Elbaum, a chefe do Comando Sul, Laura Richardson, visitou a Argentina recentemente: "alinhamento geopolítico"
Stella Calloni
Diálogos do Sul
Buenos Aires

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Junto com as advertências do governo do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu sobre um possível ataque iraniano – depois que suas forças bombardearam o consulado iraniano em Damasco (capital da Síria) –, a Câmara de Cassação da Argentina, após um longo silêncio, confirmou as penas contra os principais investigadores do sangrento ataque contra a Associação Mutual Judaica (Amia) em julho de 1994. Foi admitido que a investigação era escandalosa, havendo armadilhas, mentiras e circulação de dinheiro para tentar desviar a culpa e acusar o Irã e a Síria. Além disso, acrescentou o primeiro ataque (1992) na embaixada de Israel, o que nunca foi comprovado.

O ataque ao Amia deixou 85 mortos e 300 feridos, e a tragédia na embaixada deixou 22 mortos. Na mesma noite de 18 de julho de 1994, quando aconteceu o incidente ao Amia, chegou um avião com importantes funcionários da inteligência israelense, que sem nenhuma investigação, acusaram o Irã de ser o responsável pelo ataque.

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Era evidente que queriam apontar o dedo aos diplomatas iranianos. Até o então presidente da Delegação de Direita das Associações Israelenses Argentinas, Rubén Berajas, junto com o juiz encarregado do caso Juan José Galeano, que liderava aquela investigação, deram 400 mil dólares a Carlos Telleldín, vendedor de carros usados, para que acusasse diplomatas e policiais iranianos da província de Buenos Aires e desta capital.

Todos os detidos tiveram que ser libertos posteriormente. Segundo o analista Raúl Kollman, do Página/12, o dinheiro para essas movimentações foi fornecido pelo Serviço de Inteligência do Estado (Side) e pela fiscalização das autoridades judiciais do governo do ex-presidente, já falecido, Carlos Menem (1989-1999).

Julgamento constrangedor e Javier Milei

Após o constrangedor julgamento, “o juiz foi condenado a quatro anos de prisão, os procuradores Eamon Mullen e José Barbaccia a dois anos de suspensão, o antigo chefe do Lado, Hugo Anzorreguy, há quatro anos e meio; o ex-número dois da inteligência Juan Carlos Ancheza, a três anos de prisão; bem como três anos e meio para Telleldín e dois anos para sua esposa”.

Todos esses funcionários foram denunciados pela organização de familiares e amigos das vítimas. No entanto, em outra decisão, dois dos três juízes de cassação disseram novamente – essencialmente com base em relatórios de inteligência – que o Irã ordenou os ataques a Amia e à embaixada israelita nesta capital.

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Kollman acrescentou que, neste momento, de acordo com o alinhamento do governo de Javier Milei com os Estados Unidos e Israel, “redigiram uma decisão que, inevitavelmente, será usada para a ofensiva dos EUA e de Israel contra (do seu ponto de vista retrógrado) o regime Teerã. Nesta resolução, destacou a juíza Ángela Ledesma, que se recusou a fazer qualquer consideração sobre a responsabilidade do Hezbollah ou do Irã, tendo em conta que este tema não faz parte do objeto dos recursos apresentados”.

O que chama a atenção neste momento é ver a mão por trás dessa decisão judicial abrupta e o que o presidente Javier Milei acabou destacando, após ser premiado em Miami pelos rabinos da seita sionista que pertence à Chabad Lubavitch, através de um comunicado enviado comemorando a decisão que “pôs fim a décadas de adiamento e encobrimento do caso Amia, determinando que os ataques contra a embaixada israelita e o fundo mútuo foram perpetrados pelo Hezbollah, sob os auspícios de organizações estatais da República Islâmica do Irã“.

“Tentativas de acobertamento”

Isto “revela as repetidas tentativas do Kirchnerismo para encobrir a responsabilidade do Irã e adiar esta decisão histórica, traindo o país em 2013 com a assinatura do chamado ‘Memorando de Entendimento‘, um pacto que promoveu e garantiu a impunidade terrorista”.

Por outro lado, o sociólogo, jornalista e primeiro presidente da Apelação Argentina, Jorge Elbaum, afirmou que a decisão “é mais um exemplo do alinhamento geopolítico do atual governo e de seus operadores judiciários em relação à visita da semana passada da chefe do Comando Sul dos Estados Unidos, Laura Richardson, e a convivência com governos de direita em todo o mundo, ou seja, Estados Unidos e Israel”.

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“Há um aspecto fundamental que é a ocultação e a falta de empatia com os familiares das vítimas. Ontem, anunciaram que tomaram conhecimento desta decisão através dos jornais locais. A Câmara nem teve a delicadeza de lhes enviar o debate ou o parecer”, acrescentou. Tudo o que aconteceu é visto como uma armadilha preparada por Israel.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
Stella Calloni Atuou como correspondente de guerra em países da América Central e África do Norte. Já entrevistou diferentes chefes de Estado, como Fidel Castro, Hugo Chávez, Evo Morales, Luiz Inácio Lula da Silva, Rafael Correa, Daniel Ortega, Salvador Allende, etc.

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