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Ameaças de ataque nuclear mostram que planeta é dominado por insanos

Quem é culpado e como se permitiu tal cenário? Temos vivido com sob esse perigo há mais de 70 anos sem que ninguém nos pedisse licença
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Em tempos modernos “toda guerra é uma guerra contra civis, e portanto são inerentemente imorais” afirmava o grande historiador Howard Zinn, veterano da Segunda Guerra Mundial, o qual foi visitar as cidades alemãs que bombardeou, pouco depois do fim dessa guerra, e aí chegou a essa conclusão. 

Os “especialistas” estão agora no paraíso ao falar sobre os acertos e fracassos dos políticos e seus estrategistas militares no conflito Rússia-Ucrânia/OTAN/ Estados Unidos enquanto começa a contagem de mortos e feridos. Alguns políticos estadunidenses já estão usando o conflito para pedir ainda mais fundos para o orçamento militar mais gigantesco do mundo, e Trump, elogiando a estratégia de Putin de implantar uma “força de manutenção de paz” na fronteira com a Ucrânia, opinou que “nós poderíamos usar isso em nossa fronteira sul” com o México para frear o ingresso de milhões de imigrantes. Mas este conflito tem um detalhe diferente de outros: em qualquer momento pode tornar-se uma guerra nuclear. Desde o início do conflito, o Apocalipse (não o divino, o humano) está na sala de espera. Desde o primeiro dia, os russos, europeus e estadunidenses já estavam fazendo referências ao uso de armas nucleares. No fim de semana, Putin foi mais explícito ao ordenar um alerta máximo para suas forças nucleares. Biden, por seu lado, justificou as sanções contra a Rússia, argumentando que as únicas duas opções são esse “castigo” econômico ou “uma terceira guerra mundial”.

Quem é culpado e como se permitiu tal cenário? Temos vivido com sob esse perigo há mais de 70 anos sem que ninguém nos pedisse licença

Montagem Diálogos do Sul
Joe Biden tem experiência em boa parte da "loucura" belica que o planeta tem visto

Uma ordem para um ataque nuclear pode ser emitida por um presidente quase instantaneamente e os mísseis podem ser lançados dentro de 5 a 20 minutos. 93% de todas as armas nucleares do mundo estão nos Estados Unidos (com pouco mais de 6 mil) ou na Rússia (quase 7 mil) – as demais estão repartidas entre outros 7 países. Um ataque nuclear pode ser resultado de erros e acidentes e de fato há tantos precedentes disso que é por puro milagre que ainda estejamos vivos. Não se pode mais descartar, sobretudo em conjunturas bélicas entre poderes nucleares. Vale recordar que de todos os estados, só Estados Unidos usou estas armas de destruição massiva. 

Diante disso, é preciso perguntar: quem é culpado e como se permitiu tal cenário? Temos vivido com essa ameaça há mais de 70 anos sem que ninguém nos pedisse licença (nesse rubro não há democracia). É um pouco absurdo que o Conselho de Segurança da ONU, instância criada para frear as guerras e evitar inclusive a destruição mundial por armas nucleares, esteja controlado por ninguém menos que cinco dos principais poderes nucleares. Os loucos estão a cargo do manicômio.

É a loucura mais obscena imaginável. Que a evolução humana culmine com uns quantos políticos, seus generais e outros nas cúpulas tendo em suas mãos o poder de destruir a vida neste planeta, seja por mudança climática ou por um holocausto nuclear, é a loucura mais obscena imaginável. 

São tão inteligentes os encarregados que nos têm constantemente à beira do fim do mundo (e até criaram uma doutrina compartilhada entre os poderes nucleares que se chama “destruição mútua assegurada”, o MAD). Vamos continuar pretendendo que o lugar onde estamos, se verdadeiramente for avaliado de maneira objetiva, científica e racional, não é mais do que um manicômio? 

Diante desta loucura, em meados dos anos sessenta o satirista (e matemático de Harvard) Tom Lehrer escreveu uma canção “pré-nostálgica” para a Terceira Guerra Mundial, com uma parte de sua letra assim: 

Até logo, mamãe
Vou atirar a Bomba
Então não me espere.
Mas enquanto você sua em seu refúgio
Pode me ver
Na TV…

Não há necessidade de que você perca um minuto
Do agonizante holocausto
Já!

O pequeno Johnny Jones
Era um piloto estadunidense
… estava muito orgulhoso
Quando se declarou a Terceira Guerra Mundial
Não tinha medo
Não senhor…

E isto é o que disse
Em caminho ao Armageddon

Recorda mamãe
Vou por um commie [comunista]Então me envie um salame
E trate de sorrir de alguma maneira
Vou buscar você quando acabe a guerra
Em uma hora e meia a partir de agora.

Tom Lehrer.  So long Mom (Canción para la Tercera Guerra Mundial)


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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