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Diante de repressão e mortes no Equador, indígenas não irão recuar, diz Jaime Vargas

"Temos vivido dias de muita agitação, nos surpreendemos de nossa própria capacidade de luta e resistência", diz o presidente da Conaie
Redação Prensa Latina
Prensa Latina
Quito

Tradução:

A Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie) se declarou hoje em resistência nacional contra as medidas econômicas dispostas pelo Governo e contra a repressão policial desatada em mais de uma semana de protestos. 

A organização deu a público a determinação em um comunicado firmado por seu presidente, Jaime Vargas, que anunciou a decisão em assembleia com centenas de membros de comunidades ancestrais, que lideraram uma greve nacional na véspera em repúdio à eliminação do subsídio aos combustíveis e outras reformas prejudiciais para os setores pobres da população. 

“Temos vivido dias de muita agitação, nos surpreendemos de nossa própria capacidade de luta e resistência e temos demonstrado ao mundo que o movimento indígena e o povo equatoriano somos um só punho (…). Nossa palavra está posta isto não vai parar até que o FMI (Fundo Monetário Internacional) saia do Equador”, assegurou

O texto assinalou que o executivo, liderado pelo presidente Lenín Moreno tem respondido às demandas com violência, repressão, tratando o povo como inimigo e sem respeito às zonas de resguardo humanitário, agredidas com gases lacrimogêneos. 

Da mesma forma, denunciou a proibição de criar corredores humanitários para trasladar feridos aos hospitais durante a reação repressiva das forças da ordem pública, por meio de bombas lacrimogêneas, armas de fogo e golpes, entre outros meios, o que considera um massacre. 

“O que se vive neste país não tem nome. Não há memória na história recente de uma repressão tão atroz e violenta sobre o povo que reclama seus direitos”, sentenciou a Confederação. 

"Temos vivido dias de muita agitação, nos surpreendemos de nossa própria capacidade de luta e resistência", diz o presidente da Conaie

Comunicación Conaie
Mais de 5000 perssoas de distintas comunidades do Canton Pujili concentrados

Contexto

Nesse contexto, alertou que a luta não é só por hoje ou só contra a liberação dos preços da gasolina extra e do diesel, mas “para evitar que nos hipotequem o futuro e que paguemos com fome e pobreza de duas e três gerações o que não pararmos a tempo hoje”. 

A Conaie ratificou que não haverá diálogo com o executiva nacional, até que cumpra requisitos mínimos de separar do cargo a ministra de Governo, María Paula Romo; e o titular de Defesa, Oswaldo Jarrín, assim como derrogar o decreto 883, que eliminou o subsídio aos combustíveis, após o qual subiram as passagens no transporte público e o preço dos alimentos da cesta básica.

O apelo às bases e ao povo, é para manter e reforçar a luta contra o “pacotaço” e a repressão violadora do direito à mobilização. 

Mortes

A Conaie também denunciou hoje a morte de participantes na greve geral realizada em todo o país, depois de uma semana de mobilizações contra as medidas econômicas dispostas pelo governo. 

“Com profunda dor e indignação comunicamos ao Equador que na repressão desmedida e brutal da quarta-feira, 09 de outubro, contra o Movimento Indígena, dirigida pelas políticas repressivas do Governo de Lenín Moreno, sua Ministra de Governo, María Paula Romo e seu Ministro de Defesa, Oswaldo Jarrín, confirmamos que existem companheiros que perderam a vida”.

Após declarar-se em luto, a direção da organização esclareceu que nos próximos dias emitirá um informe completo sobre as vítimas mortais, feridos e desaparecidos, diante do ocultamento de informação por parte das autoridades nacionais e alguns meios de comunicação. 

Segundo alertou a Conaie, estão sendo realizadas coordenações com diversas organizações de direitos humanos, com o fim de continuar com os processos necessários e pertinentes para que esse delito de lesa humanidade não fique impune. 

A denúncia da Conaie derruba declarações feitas pela ministra de governo, María Paula Romo, que em um balanço das jornadas de marchas contra as reformas tributárias e trabalhistas dispostas pelo executivo, afirmou que não há mortos nos enfrentamentos registrados entre mobilizados e as forças da ordem. 

Os protestos começaram no dia 3 de outubro, quando entrou em vigor o Decreto 883, mediante o qual ficou eliminado o subsídio à gasolina extra e o diesel, o que provocou um aumento imediato nas tarifas do transporte público e no preço dos alimentos de primeira necessidade. 

Em repúdio à regulação, que foi parte de um pacote de medidas qualificadas como um “pacotaço”, por considerável parte da população, foram realizados em toda a nação greve de transportes e múltiplas mobilizações.

Indígenas e trabalhadores exigem que a administração nacional revogue o Decreto 883, enquanto que o governo insiste em um diálogo com propostas de supostos paliativos para os danos ocasionados, iniciativa que os grevistas não aceitam.

Intelectuais e artistas do Equador se unem em manifesto por seu país

Intelectuais e artistas equatorianos expressaram hoje preocupação ante a situação interna derivada de medidas econômicas dispostas pelo governo.

Um Manifesto, firmado por dezenas de escritores, poetas, artistas, jornalistas, atores e trabalhadores das diferentes áreas da cultura do país, onde já foram vividos sete dias  de manifestações com repressão policial. 

No texto, os subscritores declararam que os povos indígenas constituem uma força social, fundamento da história nacional, cujos imaginários e formas artísticas impregnam as práticas culturais de amplos setores do povo equatoriano e são fator decisivo na preservação da identidade e do futuro do Equador. 

Da mesma forma, consideraram que o protesto destes dias, surgido das comunidades e províncias para estender-se no nível nacional, mostra o profundo descontentamento não só dos povos indígenas como protagonistas, mas do povo equatoriano afetado pelo golpes de uma política econômica excludente, imposta pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

“(…) temos sido testemunhas de um incremento da repressão às organizações indígenas e a diferentes setores sociais; violência que já provocou vários mortos, dezenas de feridos, alguns de suma gravidade, crianças atacadas com gases lacrimogêneos e centenas de detidos arbitrariamente”. 

Em seu critério, a ação policial e militar desatada durante a semana de mobilizações (…) faz recordar a que era levada a cabo pelas forças repressivas do Cone Sul durante as ditaduras militares. 

“A posição de setores tanto do governo como das câmaras empresariais e das Forças Armados, tem estimulado a violência e a discriminação étnica e regional”. 

Nesse contexto, assinalaram como condição indispensável para promover um diálogo entre as organizações sociais e o governo a suspensão do pacote econômico imposto pelo FMI, o levantamento do Estado de Exceção e do Toque de Recolher, o recuo de militares e policiais e o fim da repressão, descrita como brutal. 

Ao mesmo tempo, alertaram que nas conversações devem participar todos os setores do Equador. “Hoje é fundamental construir caminhos para recuperar uma democracia que responda às necessidades do povo”. 

*Tradução: Beatriz Cannabrava

**Prensa Latina, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

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