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ToggleChile é o modelo perfeito do sucesso do neoliberalismo. Não sou eu quem diz isso não, são frases de Paulo Guedes, o superministro da Economia do governo de ocupação no Brasil.
A Santiago de hoje é o exemplo mais concreto do fracasso das políticas neoliberais.
Um milhão e 200 mil pessoas nas alamedas de Santiago. Nem a Globo, nem os jornalões puderam ignorar, e fotos e vídeos mostram a multidão, pacífica e desarmada, pedindo a renúncia de Sebastián Piñera e uma nova Constituição.
Mais de um milhão numa cidade que tem pouco mais de 5 milhões de habitantes. A população do Chile não chega a 20 milhões.
Veja as atitudes de Piñera, se não é o testemunho mais eloquente das mentiras que diziam os neoliberais e a imprensa venal sobre o Chile.
Primeiro cedeu na questão do ensino, concedendo bolsas àqueles sem condições de arcar com os custos da educação que deixou de ser universal e gratuita. E o que o financista fulano colocado no Ministério da Educação por Paulo Guedes pretende fazer com o ensino público no Brasil. Querem que a juventude, como nos Estados Unidos, passem a vida devendo, e trabalhem para pagar dívidas.
Nessa questão, cedeu só um pouco, o povo continua nas ruas pedindo ensino gratuito e, mais que tudo, comida barata, salários dignos. A pobreza hoje é estrutural para 90% da população chilena.
Agência Pública
Protestos no Chile
O que fez Piñera?
Concedeu aumento do salário mínimo e das aposentadorias e liberou uma espécie de bolsa família pra mitigar a fome dos mais marginalizados. É ou não é uma clara admissão de que a pobreza foi consequência das políticas do governo, não por obra de um deus qualquer.
O que o presidente do Chile está admitindo é o equívoco das medidas adotadas que são exatamente aqueles que nosso superministro da economia do governo de ocupação quer aplicar.
O povo saiu em protesto e foi violentamente reprimido. O próprio presidente confessou que perdeu o controle sobre as forças policiais que saíram fuzilando as pessoas nas ruas as vistas de todo o mundo. Hoje com as tecnologias da comunicação já se tornou impossível esconder essas coisas. O presidente decretou toque de queda para trancar as pessoas em casa. Só agravou a situação.
Qual foi a resposta do governo? Confessou que perdeu o controle da situação e pediu socorro à ONU.
Qual foi a resposta do povo? Mais de um milhão de pessoas nas alamedas de Santiago. Impossível fuzilar um milhão. Mas foi preciso intervenção de tropas especiais do Exército para barrar os carabineiros, os pacos, meganhas no Brasil, que queriam continuar matando gente. Recebemos um vídeo que mostra isso.
Vale recordar, que os militares que praticaram crimes de lesa humanidade durante a ditadura de Pinochet foram julgados e condenados. Com o restabelecimento da democracia, o chefe do Estado Maior das forças armadas reconheceu a culpa e pediu desculpas à Nação, e se colocou às ordens do poder civil.
Na Argentina também, os generais assassinos, torturadores foram julgados e condenados por seus crimes.
Só no Brasil os militares não só não fizeram autocrítica como louvam o período ditatorial e assumiram o poder para praticar as políticas que não deram certo nem no Chile, na Argentina, em lugar nenhum do mundo.
Argentina
Nossa editora Vanessa Martina está na Argentina cobrindo o processo eleitoral, testemunhando outro fracasso indiscutível das políticas que querem aplicar no Brasil.
Argentina era um país de classe média. A classe operária era classe média pelo seu nível de renda e de consumo e acesso aos serviços público. O país não tinha analfabetos nem favelas, possuía universidades de excelência e mão de obra altamente qualificada.
A partir dos anos 1980 as políticas neoliberais do Consenso de Washington foram minando todo o setor produtivo e educacional, com as privatizações deixando o povo sem poder aquisitivo para enfrentar as elevações constantes dos preços dos alimentos, dos transporte, da saúde, assim por diante.
O resultado se pode medir hoje. 52% dos jovens na pobreza e na desesperança. Analfabetismo funcional em porcentagens tão altas como a do Brasil que chega a 70% da população.
Na Argentina e no Chile continuaram apostando nas políticas de contenção de gastos e arrocho salarial mas, chegou ao limite do suportável para a população. É o que mostram as revoltas populares.
Na Argentina, não há um só dia em que não haja uma grande manifestação de massa contra essa política. Greve geral levou o governo de Macri fazer algumas concessões, cosméticas no entanto, que como as do Chile se derreteram.
Mudanças estruturais
O povo quer mudanças estruturais, quer livrar-se da ditadura do capital financeiro e do pensamento único. O povo quer ter o direito de estudar, comer, e pensar.
Na Argentina o povo vai devolver o poder aos peronistas. Líquido e certo, não tem outra.
No Chile, incógnita. Difícil prever. O povo quer Constituinte. Desenhar um novo Chile, diferente daquele herdado do Pinochet. Não só o modelo econômico como a própria Constituição do Chile são os mesmos. O povo está nas mostrando que cansou, quer outro Chile.
O que tem em comum esses países de Nossa América?
Veja bem, Argentina, Brasil e Chile fizeram uma transição da ditadura para a democracia a meias. Encararam o problema só do ponto de vista político, não foram ao cerne do problema que era a ditadura do capital financeiro, a ausência de pensamento alternativo e a submissão ao Império.
O momento, para nossos povos, é sumamente crítico e muito delicado. É como que sobre o fio de uma navalha. Não se pode perder de vista que a estratégia do Império, e daquele clube de bilionários que pretende governar o mundo, é a estratégia do Caos.
Evitar o caos deve ser o objetivo da estratégia de defesa das forças populares. Trocar de presidente não resolve por si só a parada. No Brasil em 2018 tivemos a sétima troca com o governo de ocupação dos militares e a situação só se agravou.
Então, minha gente, não me cansarei de repetir. Para começar a andar é preciso primeiro recuperar, em cada um de nossos países, a soberania. A partir daí construir um projeto nacional de desenvolvimento autônomo e ecologicamente sustentável.
Se não, tudo fica como dantes no quartel de Abrantes.
*Paulo Cannabrava Filho é editor de Diálogos do Sul
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