Época de turbulências e perigos vive a República Bolivariana da Venezuela. Inimigos externos e internos, abertos ou encobertos operam, tratando de nos esfacelar. Faz um ano, no dia 23 de fevereiro (23F), tensionaram até quase romper a tênue linha. Através dos estados Bolívar (fronteira com o Brasil) e Táchira (fronteira com a Colômbia), tentaram uma invasão armada à República, repelida por um povo valente. Essa batalha em meio da guerra criminal irrestrita que enfrenta o país foi ganha, sem dúvida alguma, graças aos heróis conhecidos e anônimos que a enfrentaram.
Preocupa a outra batalha travada cotidianamente, aquela que afeta a moeda, o território, a segurança e a mobilidade cidadã. A Colômbia, não a Colômbia bolivariana, mas a Colúmbia DC, responde aos interesses anglossionistas, expansionistas, que visam a pilhagem, a ocupação, a “extensão do espaço vital” (Ratzel). Eles nos aplicam a geometria inversa e de ocupação, reorganizando os espaços com micro táticas e operações. Perfuram a fronteira, tornando-a líquida, fundindo o tecido social à sua lógica criminal com redes múltiplas, difusas em pequenas unidades semi-independentes que operam com sinergia generalizada: paramilitarismo. Novas táticas de guerra não linear, amorfas, sem flancos, móveis, cambiantes e preparadas para tudo. É o modelo sionista israelense de invasão.
Redes criminais expressadas no contrabando, no ataque e desaparição do bolívar (moeda), desterritorialização, expulsão, ocupação e deslocamentos de pessoas, crimes transfronteiriços e transnacionais, assassinatos, tráfico de seres humanos, narcotráfico, economia subterrânea e transculturação. São manobras complexas, caóticas, que geram adormecimento e normalização da violência, fazendo-a cotidiana.
Foto: Marco Weissheimer
“Há uma batalha travada cotidianamente que afeta a moeda, o território, a segurança e a mobilidade cidadã”
A intoxicação do território intangível da venezuelanidade e o aturdimento total de nossos vínculos sociais e comunicacionais, ocasiona um dano espiritual desenhado para a destruição social massiva. Desgarram o espírito da nação, atacando o Ser da República, seu substrato, sua carne, a Bolívar, base de nosso gentilício.
Enfraquecem-nos para nos anarquizar. Tratam de frear a revolução iniciada por Bolívar e reimpulsionada política, social, cultural, jurídica, econômica e historicamente por Chávez. Nos desalentam e aturdem para nos desviar do rumo coletivo bolivariano. Essa luta está mais viva do que nunca.
O neoliberalismo nos espreita em forma de ocupação silenciosa. Volta ao consenso de Washington no econômico e no geopolítico à Doutrina Monroe, controlando as fronteiras e administrando-as geopoliticamente. A imposição da ilegalidade de fato mantém separados os países latino-americanos, controlando seu território, população e recursos.
Corresponde não somente aos heróis e heroínas do 23F defender a pátria e responder à oligarquia colombiana e transnacional com suas mesmas armas: leis inexpugnáveis, poder judicial íntegro que castigue aos traidores, Banco Central que defenda a moeda e ações frente as instâncias multilaterais que desnudem o assédio e a ocupação criminosa não só no plano territorial, mas também jurídico, monetário, comercial, militar e cultural. Estaríamos assim cumprindo com o mandato do Libertador: “a nação que primeiro quebre a lei, é a única que se pode chamar de infratora e é a única responsável por esse atentado. O inimigo que se serve das mesmas armas com que é ofendido, não faz senão defender-se. Esta é a lei mais antiga e a mais universalmente conhecida e praticada”.
Simetria na ofensiva. Responder os ataques da Colômbia mediante um sistema estratégico não linear e não serial. Aplicar-lhes inteligência de enxame, que nos permita consolidar definitivamente o trunfo épico transcendental do 23F. Nossa resposta deve obedecer à institucionalidade histórica do 5 de julho de 1811 (Independência) frente à geometria do imperialismo de acumulação por despossessão e evitar nos converter, uma vez liquidificados, na retaguarda estratégica da corporatocracia mundial.
Maria Alejandra Diaz, Advogada constitucionalista venezuelana, integrante da Assembleia Nacional Constituinte (ANC).
Tradução: Anisio Pires
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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