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Três presidentes em uma semana: cinco fatos para entender a recente crise peruana

Presidente Francisco Sagasti afirmou que seu compromisso será garantir eleições gerais limpas e transparentes em abril de 2021
Beatriz Contelli
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

Corrupção, três presidentes em apenas uma semana, envolvimento na Lava-Jato, mortos e feridos em manifestações… Como o Peru entrou em um furacão político? 

O país, que tem o maior número de mortos por coronavírus, proporcionalmente à população, enfrenta uma prolongada crise política. 

As tensões se iniciaram ainda em 2018, com a destituição do então presidente Pedro Pablo Kuczynski, conhecido como PPK.

Presidente Francisco Sagasti afirmou que seu compromisso será garantir eleições gerais limpas e transparentes em abril de 2021

Reprodução: Winkiemedia
Francisco Sagasti , atual presidente do Peru

De lá para cá, a região andina vivenciou impeachments e renúncias que culminaram na recente eleição de Francisco Sagasti pelo Congresso. 

Para entendermos os acontecimentos que transformaram o Peru em uma zona instável, elencamos cinco fatos que marcaram o país nos últimos quatro anos. 

Entenda a crise peruana enfrentada por Vizcarra:

1. Lava-Jato peruana

Eleito presidente do Peru em julho de 2016, o mandato de PPK foi marcado por sua renúncia, em março de 2018. Após envolver-se nos desdobramentos internacionais da Lava Jato, o ex-presidente foi acusado de ter recebido U$ 4,8 milhões da Odebrecht. 

As denúncias da famigerada operação resultaram também no suicídio do ex-presidente Alán García (1985-1990 e 2006-2011), que pôs fim à vida após ter ordenada sua prisão preventiva em abril de 2019.

Em outubro do mesmo ano, o Ministério Público peruano pediu 20 anos de prisão para o ex-presidente Ollanta Humala e sua esposa, Nadine Heredia. Eles são acusados de usar dinheiro venezuelano na campanha eleitoral de 2006 e de ter feito caixa dois da Odebrecht para na campanha de 2011.

2. Os filhos de Fujimori 

Ditador do Peru de 1990 a 2000, Alberto Fujimori fechou o Congresso, dissolveu o Judiciário e se aliou aos militares. 

Seu filho, Kenji Fujimori, outros três parlamentares e o advogado de Kuczynski foram filmados pressionando um deputado a votar a favor do presidente em um outro processo de impeachment em troca de investimentos públicos. O vídeo foi vazado pela irmã de Kenji, Keiko Fujimori. 

Keiko é uma personagem de destaque na trama. Após perder, por pequena margem de votos, a eleição para PPK e tendo obtido maioria no Congresso, passou a conspirar abertamente contra o mandatário. 

Atualmente, Keiko está presa, acusada de corrupção e lavagem de dinheiro, mas o fujimorismo continua sendo uma força atuante no Congresso e teve papel ativo na desestabilização de Martín Vizcarra. 

3. Assume o vice

Martín Vizcarra era vice de PPK e assumiu a presidência em 2018. Ele prometeu reformas anticorrupção, dissolveu o Congresso fujimorista, convocou novas eleições e proibiu a reeleição dos membros parlamentares, tornando tumultuosa sua relação com os legisladores. 

Ainda mais opositores do que o Congresso anterior, os deputados eleitos em janeiro de 2020 abriram dois processos para destituir Vizcarra da presidência por supostos casos de corrupção.  

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Em 09 de novembro deste ano, uma nova moção de vacância — como é chamado o processo que determina a saída do presidente — foi aprovada com o argumento de que o mandatário não tinha condições morais de seguir no governo por supostos atos ilícitos ocorridos quando ele foi governador regional de Moquegua, no Sul do país. 

Vizcarra foi acusado de ter recebido 2,3 milhões de soles (o equivalente a R$ 3,4 milhões) em propina por contratos de obras públicas quando era governador. O mesmo nega ter recebido qualquer suborno. 

4. População vai às ruas

Com o impeachment de Vizcarra, Manuel Merino assumiu a presidência, mas seu mandato não foi muito longe. Teve início uma série de protestos no país contra o que foi considerado um golpe de Estado. 

As manifestações, maiores dos últimos 20 anos, resultaram na morte de dois jovens durante manifestações, e mais uma renúncia acontece. 

Merino, que ficou apenas cinco dias no cargo, foi pressionado a renunciar pelo mesmo Congresso que o levou ao poder.

Organizações peruanas repudiaram o uso excessivo da força nas manifestações, consideradas a maiores que o Peru já viu em 20 anos. 

Entre os principais fatores que explicam a onda de protestos está a popularidade de Vizcarra. O político era popular por suas medidas anticorrupção e muitos acreditavam que não seria bom para o país afastá-lo em meio à pandemia. 

5. O quarto presidente em quatro anos 

Enquanto manifestantes cercavam as ruas próximas ao Congresso, o Parlamento buscava saídas para a crise e um novo líder foi escolhido: Francisco Sagasti tomou posse na última terça-feira (17) como presidente do Peru. 

Indo na contramão do discurso de Merino, Sagasti afirmou que formará um gabinete “plural” para o compartilhamento de várias ideias e apontou que seu compromisso será assegurar que as eleições de abril de 2021 sejam “absolutamente limpas”. 

O presidente também declarou que será feito um trabalho para melhorar a segurança dos cidadãos. “A primeira coisa será redobrar esforços para encontrar aqueles que desapareceram [nos protestos] e realizar mais investigações sobre as ações que causaram a tragédia. Não haverá impunidade”, frisou. 

Sagasti é dirigente do Partido Morado, de centro-direita, que votou contra a vacância de Vizcarra. Havia uma pressão popular para que o novo presidente fosse alguém que tivesse adotado essa postura na votação de saída do ex-presidente.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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