No 45º aniversário do último golpe militar na Argentina, os EUA divulgaram documentos que revelam mais detalhes sobre a relação dos EUA com os conspiradores do golpe.
Um novo lote de documentos desclassificados foi divulgado pelo Arquivo de Segurança Nacional dos EUA nesta quarta-feira (24), fornecendo evidências de múltiplos contatos entre os conspiradores do golpe militar e autoridades norte-americanas, além de mostrar que os EUA apoiaram tacitamente a tomada do poder pelos militares.
“Não há evidências de que os EUA tenham instigado o golpe […]. [Mas] apoiaram-no tacitamente, já que Washington compartilhava a posição dos militares de que o golpe era inevitável, única alternativa ao caos na Argentina”, afirma ao jornal Clarín Carlos Osorio, diretor do Projeto de Documentação do Arquivo de Segurança Nacional do Cone Sul.
Os documentos, observa Osório, “indicam que as autoridades norte-americanas sabiam que a ditadura permaneceria por um período prolongado durante o qual haveria uma repressão sem precedentes”. Além disso, revelam que os EUA comunicaram “discretamente” aos militares, mais de um mês antes do golpe, que Washington reconheceria o novo governo. “Eles queriam se convencer de que o general Videla, o líder do golpe, era moderado”, acrescenta o pesquisador.
Um boletim da Inteligência Nacional dos EUA, de 1º de março de 1976, afirma que “um grupo de congressistas [argentinos] disse à embaixada dos EUA em Buenos Aires que um golpe militar contra a presidente [Isabel] Perón agora é inevitável”. O documento não lista os nomes dos legisladores.
Reprodução
EUA apoiaram tacitamente a tomada do poder pelos militares.
“Se um golpe acontecesse, o comandante em chefe do Exército, general Videla, seria nomeado presidente por uma junta militar. Os civis provavelmente preferem Videla porque ele resistiu a apelos anteriores para uma tomada militar e é amplamente considerado um homem com uma perspectiva política moderada”, acrescenta o documento, mostrando que os EUA estavam bem cientes da situação do país sul-americano.
Os documentos fazem parte de uma série que vem sendo analisada pelo Arquivo de Segurança Nacional, com sede em Washington, ao qual o jornal Clarín teve acesso. Em 2019, foram desclassificadas mais de 43 mil páginas de relatórios relativos não apenas à ditadura, mas ao período anterior e posterior, por se estenderem de 1º de janeiro de 1975 a 31 de dezembro de 1984.
Os documentos incluem informações do Departamento de Estado, Departamento de Justiça, Departamento de Defesa, Departamento Federal de Investigação (FBI, na sigla em inglês), a Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em inglês), entre outras agências.
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