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Críticas da esquerda brasileira à resistência de Venezuela e Nicarágua são injustificáveis

Lava Jato, foi uma clara ingerência norte-americana contra a soberania brasileira, até conseguir sua meta que era derrubar Dilma Rousseff
Beto Almeida
Diálogos do Sul
Brasília (DF)

Tradução:

Quanto mais agressivas são as medidas do império e seus asseclas europeus contra Venezuela e Nicarágua, com sanções econômicas, políticas e guerra midiática implacáveis, repetem-se declarações de lideranças da esquerda brasileira contra os governos legítimos de Nicolás Maduro e Daniel Ortega, esgrimindo argumentos falsos que, via de regra, coincidem com aqueles lançados contra os dois países caribenhos pelo governo dos EUA e sua desmoralizada agência de política imperial, a Organização dos Estados Americanos, portadora de sinistra folha corrida de apoio a ditaduras e golpes de estado na região,  ao longo de décadas.  

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O curioso é que os argumentos lançados pela Casa Branca contra governos populares no Brasil, incluindo a criação da Lava Jato, uma clara ingerência norte-americana contra a soberania brasileira, até conseguir sua meta – a derrubada Dilma Rousseff, a prisão de Lula e a destruição de empresas nacionais de engenharia – são lançados pelos mesmos agentes da estratégia dos EUA, contudo, agora, contra dois países com governos de esquerda, que se preparam, uma vez mais, como o fazem regularmente, para realizarem eleições em novembro próximo. 

Muitos destes dirigentes de esquerda no Brasil, e alguns da América Latina,  que reclamaram dos ataques imperiais com falsas acusações contra governo progressistas nacionais, agora repetem vários destes argumentos que a guerra midiática patrocinada pelos EUA lança contra a Revolução Bolivariana e a Nicarágua Sandinista.

Lava Jato, foi uma clara ingerência norte-americana contra a soberania brasileira, até conseguir sua meta  que era derrubar Dilma Rousseff

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Nicarágua e Venezuela são os grandes alvos do império estadunidense nos últimos anos

Campanha da Legalidade

Certamente, é importantíssimo mencionar que quando os governos populares aqui eram alvo de falsas acusações de uma mídia internacional comandada por Washington, sobretudo acusações  – nunca provadas e agora desmentidas –  de prática de corrupção, essas mesmas lideranças, com justiça, se diziam, e eram, vítimas de uma guerra desinformativa desestabilizadora internacional, alertando  – corretamente  –  que eram ações preparativas de um golpe de estado para internacionalizar o petróleo. E, de fato, o golpe aconteceu em 2016, derrubando Dilma Rousseff e prendendo Lula, e pavimentando o caminho para  a rapina do petróleo e outras riquezas nacionais. E não houve resistência a este golpe. 

Foi muito frequente ouvir alguns slogans da esquerda, entre eles “Não vai ter golpe”, quando, desgraçadamente,  o golpe se desenrolava aos olhos de todos, sem que o governo sequer convocasse uma cadeia de TV e Rádio para chamar a população a defender a Legalidade, como fez o governador Leonel Brizola, em 1961, derrotando o golpe com a sua Rede da Legalidade. Mesmo tendo o poder de convocar uma cadeia nacional comunicativa para chamar o povo, o governo Dilma não o fez, sendo deposto sem uma acusação sequer de irregularidade, sem chamar uma greve, uma campanha popular em defesa da democracia.

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Por tudo isto, soa ainda mais incoerente que agora, algumas  lideranças da esquerda brasileira, critiquem, de público, aos governos da Venezuela e da Nicarágua, que estão sob cerco e sob ataque ilegal do exterior, por usarem todas as ferramentas da legalidade nacional para resistir ao pretendido golpe dos EUA E, algumas destas lideranças, acusam Maduro e Ortega de não permitirem a liberdade de expressão, quando ambos os países estão com seu calendário eleitoral em marcha,  com a participação de  vários partidos de oposição, nos dois países, que concorrerão nas eleições marcadas para novembro próximo. 

Passividade ou Resistência?

Seria razoável criticar os bolivarianos e sandinistas por não se manterem passivos ante ações de ingerência externa financiada pelos EUA, conduta aliás que foi aqui predominante, quando estruturas do estado brasileiro foram utilizadas e penetradas por agentes estatais dos EUA, com a mais inaceitável e vergonhosa tolerância por parte das autoridades brasileiras, que poderiam ter feito uso de instrumentos legais de defesa da democracia, previstos na Constituição, para chamar a sociedade brasileira a resistir ao Golpe, aliás, como é feito hoje pelos governos da Venezuela e da Nicarágua, rigorosamente dentro da legalidade, para combater atos ilícitos organizados do exterior? O que querem essas lideranças da esquerda brasileira, que  a Venezuela, sob coerção imperial há mais de 20 anos, e a Nicarágua, alvo constante de desestabilizações, país invadido várias vezes pelos EUA, por parte da Casa Branca, fiquem inertes, passivas, e se submetam a estas pressões ilegais externas que visam impor o que chamam de alternância de poder, que, na verdade, é a interrupção dos processos revolucionários dos dois países? Por que acreditar agora na linha editorial dos sócios da TV Globo em outras latitudes que atacam Maduro e Ortega, como atacaram Lula e Dilma?

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Corretamente, dentro da Constituição, o governo sandinista faz cumprir a legislação que proíbe o financiamento de partidos políticos e meios de comunicação por governos exteriores! Qual a dúvida destes dirigentes de esquerda brasileiros? Querem que os sandinistas sigam o exemplo da passividade que norteou e balizou a queda do governo Dilma?  Acreditam que os sandinistas devem deixar impunes os crimes contra a soberania nacional nicaraguense? E por que criticar a Venezuela Bolivariana, agredida por confisco de ativos financeiros pela “democrática” Inglaterra, de receita petroleira pelos  EUA, com sua imagem falsificada e desfigurada por uma guerra mediática implacável por aqueles mesmos agentes que criaram a Fake News do Mensalão e da Lava Jato?  O governo Nicolás Maduro também mantém diálogo com a oposição, ao mesmo tempo em que organiza o processo eleitoral para novembro, com participação pluripartidária, como também se caracteriza o processo eleitoral da Nicarágua. Quem é o agredido nesta história, senão a soberania venezuelana? É legítimo ou não o direito de defesa da Revolução Bolivariana?

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Quando os governos populares no Brasil eram alvo de guerra midiática que fabricou as campanhas do Mensalão , do Petrolão e da Lava Jato, a esquerda nacional, coerentemente, denunciou a falsificação destas agressões. Mas, agora, quando as mesmas fontes de guerra midiática atacam Venezuela e Nicarágua, para fazer crer que esses dois países, que regularmente realizam eleições, com participação pluri partidária,  são ditatoriais, alguns dirigentes da esquerda brasileira, fazem uso de dois pesos e duas medidas, e se associam ao coro organizado pelo império que condena os governos de Nicolás Maduro e Daniel Ortega.

Maduro e Ortega defendem conquistas revolucionárias, com apoio popular

Esses governos estão defendendo, com os instrumentos legais aprovados na Constituição, as suas conquistas revolucionárias, entre elas a erradicação do analfabetismo, algo que o Brasil , mesmo depois de 14 anos de administração progressista,  não foi priorizado, e sequer foi definida uma meta para ser alcançada. Razão pela qual, no Centenário de Paulo Freire, o Brasil ainda não derrotou o chaga do analfabetismo. Mas, se dá ao direito, por algumas vozes de esquerda, de criticar aqueles povos que erradicaram o analfabetismo e que resistem na defesa da nacionalização do petróleo, das suas empresas estatais, das riquezas minerais, de legislações trabalhistas avançadas, de programas sociais generosos, que estão de pé na Venezuela e na Nicarágua, enquanto a aqui, não soubemos derrotar o golpe, nem fomos capazes de impedir a subida do agente estrangeiro ao Palácio da Alvorada, nem temos sido capazes de barrar a demolição do estado nacional e dos direitos sociais.  

Venezuela e Nicarágua precisam e merecem apoio para resistir às criminosas agressões dos EUA. Aliás, como está bem definido em declaração oficial do Foro de São Paulo em relação esses dois países!


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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