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Peru: fascistas lideram movimento para declarar vaga a presidência e derrubar Castilho

O afã de “vagar” um mandatário é relativamente novo no Peru e foi inventado por Keiko Fujimori. No país já começam as mobilizações em defesa do governo
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul
Lima

Tradução:

Quando Patricia Chirinos propôs a vacância do Presidente Pedro Castillo teve dois propósitos: converter o pedido em notícia, para impedir que o fosse a mensagem que havia posto nas redes pedindo queimar no forno seus opositores; e neutralizar a possibilidade de ser investigada ou sancionada por tamanho despropósito. Se alguém ousasse incriminá-la por essa fogosa ideia, alegaria uma “represália” e uma “perseguição” pelo pedido de vacância. 

Em outras palavras: dois pássaros com um só tiro: livrar-se das críticas, e vitimizar-se se alguém pretendesse difundir sua ardente esperança, prelúdio de sua proposta golpista.

Porque se trata de uma proposta golpista, aquela que pretende “Vagar” o Presidente da República por uma presumida “incapacidade moral” para exercer suas funções.  

A proposta já foi apresentada, com 29 assinaturas. Mas, se fosse pouco, vai acompanhada da ação de grupos de fascistas e por apelos ao caos, como os que formula Martha Moyano ante os transportadores.  

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Como se recorda, o afã de “vagar” um mandatário, é relativamente novo no Peru. Nunca foi proposto antes de 2017, e quem o introduziu no cenário foi Keiko Fujimori quando teve a ideia de “vagar” PPK em dezembro desse ano. 

Embora não tenha conseguido seu propósito, pela deserção de seu irmão Kenji e seus seguidores, provocou uma ferida de morte ao mandatário de então, que se viu forçado a renunciar quando apareceu um segundo ataque, em março de 2018. 

A “Grande Imprensa” e alguns de seus porta-vozes, deram um jeito de atribuir a Martín Vizcarra essa ladina ação; mas não é assim. Vizcarra estava no Canadá quando a bancada Keikista (73 de 130) sustentou e votou a moção, que não foi aprovada por uma precária diferença de votos.  

O afã de “vagar” um mandatário é relativamente novo no Peru e foi inventado por Keiko Fujimori. No país já começam as mobilizações em defesa do governo

Presidência do Peru
O Presidente do Peru Pedro Castillo.

Depois Keiko, unida a Manuel Merino e a um setor golpista da AP, a usou contra Vizcarra em 2020, dando lugar a uma grave crise, da qual o país ainda não se repõe. Foram dias duros, violentos e difíceis que deixaram uma sequela de morte — ¨ Inti e Brian —  além de ingentes danos materiais e humanos.

Derrotada em 2021 pela terceira vez nas urnas, Keiko volta ao mesmo, e agora sonha com uma terceira “vacância” que — acredita —  lhe abrirá as portas para uma quarta candidatura presidencial. Se fosse bloqueada, porque hoje nem seus aliados a aceitam, ela estaria disposta a aceitar a posto menor: uma cadeira parlamentar, por exemplo, que a poria a salvo, agora que a justiça a requer uma vez mais. Depois de tudo, “em tempo de guerra…”.

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Porque esse é o tema. Se para a classe dominante o que move sua ação é o medo de perder seus privilégios, no caso da senhora o assunto é mais pontual: poderá perder sua liberdade. E talvez por três décadas. 

 No passado, tivemos mandatários com reais questionamentos de ordem ética e moral. Mas ninguém alegou-lhes a vacância, como ocorre no caso de Castillo.

Alejandro Toledo chegou a ter apenas 9% de aceitação cidadã em um momento de sua gestão. E esteve envolvido em falcatruas de diversos tipos, como aquela de resistir a reconhecer sua filha. Mas, alguém pediu a vacância para ele por “incapacidade moral”?

Alan García andou pela mesmo rota tanto no plano pessoal como político. Os acontecimentos de Bagua foram uma circunstância aziaga, mas antes e depois, houve latrocínios de um e outro viés, mas se colocou a vacância para ele? 

 Tampouco se chegou a tema no caso de Ollanta Humala, quem foi difamado apresentando-o como um títere de sua esposa. Lembram disso? Mas, houve pedido de vacância? 

 Agora aparece porque a classe dominante não tolera que Castillo governe “nem um dia mais”, como diz Patricia Chirinos, entre aplausos de uma máfia corrupta e envilecida. E batem palmas gozosos Betho Ortiz e Phillips Butthers, para não falar de alguns outros que dançam com a mesma música. 

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Para alimentar sua demanda, somam tudo e disparam fogo a bombordo e a estibordo. Inclusive atacam com força aqueles — que sem apoiar a Castillo — “ousam dizer que na sua opinião a vacância “ainda não é oportuna”. Pau neles…!

 E a propósito das pauladas, por que goza de impunidade total essa turbamulta rufianesca que se denomina “A resistência”, que ataca covardemente àqueles que não se somam à enlouquecida gritaria Keikista? Buscam talvez “manter à raia seus opositores”? Atacaram recentemente ao populista Lezcano, e Daniel Olivares, que lançou um livro. E nada…?

 Estas quadrilhas se parecem como duas gotas de água aos “fasci di combattimento” da Itália Mussoliniana, ou aos “Camisas Pardas” -os S.A.-  de  Ernst Rohm na Alemanha Nazista

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Em seu tempo, ambos se dedicavam ao mesmo, e houve alguém que não acreditou nisso. Assim se converteram em Poder e se mostraram como eram, simples quadrilhas de assassinos. Esperamos que isso aconteça aqui? 

 Em todo caso, o que é claro é que o tema da vacância não resiste a análise nem ao debate. É questão de votos. Mas o povo não pode ser convidado de pedra. De imediato, já começaram as mobilizações!

*Colaborador de Diálogos do Sul de Lima, Peru.    


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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