Pesquisar
Pesquisar

Bolívia julga Jeanine Añez e militares por golpe de Estado contra ex-presidente Evo Morales

Áñez não pode fugir dos crimes pelos quais é acusada porque há documentos oficiais e assinados por ela que comprovam todo o acontecido durante seu curto mandato
Boris Acosta Reyes
Estratégia.la
La Paz

Tradução:

Atualizado em 19 de janeiro, às 14h11

Editado: Ao contrário do que foi anteriormente anunciado, o julgamento de Jeanine Añez, na Bolívia, ocorrerá em março — em data a ser definida — e não nesta terça-feira (8), como foi divulgado pelo ministro de governo Eduardo del Castillo. O engano foi esclarecido pelo advogado de defesa de Añez, Luis Guillén.

Começa nesta terça-feira (18) o julgamento contra a ex-Presidenta boliviana Jeanine Áñez e os ex-chefes militares e de polícia do “Caso Golpe de Estado II”, relativo aos fatos ocorridos no país andino em novembro de 2019 contra o presidente constitucional Evo Morales. A informação foi divulgada recentemente pelo atual ministro do Governo da Bolívia, Eduardo del Castillo.

Este primeiro julgamento ordinário e público contra Áñez, que foi imposta na presidência da Bolívia pelas Forças Armadas, e que governou como ditadora entre novembro de 2019 e novembro de 2020, poderia resultar em uma pena de até dez anos de prisão, segundo o procurador Marcelo Valdéz. Atualmente, e desde março do ano passado, Añez é mantida em prisão preventiva, enquanto aguarda sua sentença.

O advogado Valdéz, representante da ex-deputada socialista Lidia Patty, principal acusadora, comentou que neste primeiro julgamento Áñez e os ex-comandantes militares e policiais serão processados pelas violações da Constituição a partir do golpe de Estado contra o ex-presidente Evo Morales (2006-2019).

Por sua parte, a ditadora nega as acusações, alega que o processo faz parte de um plano de perseguição contra ela e pediu que a organizações internacionais que intervenham em seu caso. No processo, Áñez terá que justificar por que se autoproclamou presidenta do Senado, com a ajuda das Forças Armadas e dos comandantes das polícias.

Suas ações durante aqueles dias do golpe de Estado violaram o regulamento do Congresso, e permitiram que ela fosse imposta na presidência da Bolívia. Ademais, a sessão na qual se oficializou sua posse no Legislativo não contou com o quórum suficiente requerido por norma constitucional e pelos estatutos do Senado boliviano.

Áñez não pode fugir dos crimes pelos quais é acusada porque há documentos oficiais e assinados por ela que comprovam todo o acontecido durante seu curto mandato

Facebook / reprodução
No dia 18 de janeiro o julgamento contra a ex-Presidenta boliviana Jeanine Áñez

Defesa de ánez

A defesa de Áñez apresentou 45 testemunhas, que devem ser ouvidas durante o julgamento. A previsão é que a primeira sentença do caso seja proferida dentro de 45 dias. Em 30 de novembro, no âmbito das investigações do “Caso Golpe de Estado II”, a comissão de procuradores da cidade de La Paz apresentou a acusação formal contra a ex-ditadora, pelos crimes de violação de deveres e resoluções contrárias à Constituição e às leis.

Valdéz lembra que um dos argumentos da defesa de Áñez, durante a fase de investigação do processo, foi o de que ela não deveria ser julgada por meios ordinários, e sim por tribunais especiais, dentro de uma figura especial chamada “processo de responsabilidade”, por sua qualidade de ex-Presidenta.

Com prisão de Añez, Bolívia deu exemplo de combate ao golpismo para o Brasil

“Esta situação foi negada. Nós argumentamos que ela nunca foi legalmente empossada como presidenta, além do fato de que o Tribunal Constitucional estabeleceu que ela nunca poderia ter sido oficializada como presidenta constitucional”, disse o advogado.

O Ministério Público espera que o julgamento “seja rápido, porque dentro do processo não há muito o que investigar, são crimes de funcionários públicos, resoluções contrárias à Constituição, com documentos assinados, documentos oficiais que constituem crimes óbvios”, segundo declaração oficial. Portanto, Áñez não pode fugir dos crimes pelos quais é acusada, porque há documentos oficiais e assinados por ela que comprovam todo o acontecido durante seu curto mandato.

“Que testemunhas ela poderia usar contra um documento que ela assinou e que viola a constituição? Um documento que está assinado, como, por exemplo, aquele decreto supremo que autoriza as Forças Armadas a usar a violência, que é uma resolução contrária às leis e aos tratados internacionais de direitos humanos”, indicou o advogado Valdéz.

O defensor acrescentou que, neste primeiro julgamento, apenas Áñez e os ex-comandantes militares e policiais são acusados, devido à sua condição de ex-funcionários que adotaram resoluções inconstitucionais.

Há um segundo processo, também relativo ao golpe de 2019, no qual estão acusados outros líderes políticos da atual oposição conservadora.

Valdéz também ressaltou que o Código Penal estabelece uma pena máxima de 10 anos de prisão para os culpados de resoluções contrárias à Constituição.

Boris Acosta Reyes é sociólogo e jornalista boliviano, colaborador do Centro Latino-Americano de Análise Estratégica (CLAE)

Tradução: Victor Farinelli na Carta Maior


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

Assista na TV Diálogos do Sul

 

Se você chegou até aqui é porque valoriza o conteúdo jornalístico e de qualidade.

A Diálogos do Sul é herdeira virtual da Revista Cadernos do Terceiro Mundo. Como defensores deste legado, todos os nossos conteúdos se pautam pela mesma ética e qualidade de produção jornalística.

Você pode apoiar a revista Diálogos do Sul de diversas formas. Veja como:

  • PIX CNPJ: 58.726.829/0001-56 

  • Cartão de crédito no Catarse: acesse aqui
  • Boletoacesse aqui
  • Assinatura pelo Paypalacesse aqui
  • Transferência bancária
    Nova Sociedade
    Banco Itaú
    Agência – 0713
    Conta Corrente – 24192-5
    CNPJ: 58726829/0001-56

       Por favor, enviar o comprovante para o e-mail: assinaturas@websul.org.br 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Boris Acosta Reyes

LEIA tAMBÉM

Com Trump, EUA vão retomar política de pressão máxima contra Cuba, diz analista político
Com Trump, EUA vão retomar política de "pressão máxima" contra Cuba, diz analista político
Visita de Macron à Argentina é marcada por protestos contra ataques de Milei aos direitos humanos
Visita de Macron à Argentina é marcada por protestos contra ataques de Milei aos direitos humanos
Apec Peru China protagoniza reunião e renova perspectivas para América Latina
Apec no Peru: China protagoniza reunião e renova perspectivas para América Latina
Cuba luta para se recuperar após ciclone, furacão e terremotos; entenda situação na ilha (4)
Cuba luta para se recuperar após ciclone, furacão e terremotos; entenda situação na ilha