É um orgulho ser neto de quem deu sua vida pela autodeterminação dos povos e ficou inscrito na história do jornalismo, entendido como arma estratégica na busca infinita por justiça, relata hoje Santiago Masetti.
Na capital argentina, o também jornalista e Licenciado em História recorda seu avô, o Comandante Segundo e fundador da Agência Informativa Latinoamericana Prensa Latina, que faria, no último dia 31 de maio, 93 anos.
Jorge Ricardo Masetti nasceu em 1929 na cidade de Avellaneda, na província de Buenos Aires, e morreu em Salta em 1964, não sem antes deixar uma profunda marca na história deste país, de Cuba e da América Latina.
Em diálogo com Prensa Latina, Santiago conta suas primeiras aproximações da figura do avô que não conheceu fisicamente.
“Em minha família, a política sempre esteve muito presente. Ouvir conversas sobre a realidade social, literatura e jornalismo, era algo habitual. Os primeiros comentários que ouvi sobre meu avô falavam dele como um lutador, um revolucionário que desaparecera nas mãos da repressão”, afirma.
“Diziam que ele se sacrificou para que todas as crianças tivéssemos o que comer em um país mais justo e feliz. Sem dúvida, isso foi criando em mim uma imagem dele. Com o passar do tempo, os relatos foram cada vez mais significativos, mais explicativos sobre a razão de sua vida”, acrescenta.
Conta que foi então que começou a pedir detalhes, histórias concretas, dados sobre sua obra e sua dimensão como militante revolucionário.
Assim, soube que foi jornalista, cantor de tangos, amante de futebol, torcedor e ex goleiro nos juvenis do Racing, um clube formado em um bairro que naquela época era de operários do setor fabril e organizações sindicais, relatou.
Não obstante, esclareceu que a aproximação com seu avô, no que diz respeito à política, ao guevarismo, à Revolução cubana e à profissão, desenvolveu-se como influência determinante quando começou o curso secundário e sua militância estudantil, em meados dos anos 90 do século passado.
Nestes tempos em que o algoritmo, as chamadas fake news, a inteligência artificial e a big data nos obrigam a repensar-nos como jornalistas
Naqueles momentos de obscurantismo neoliberal na Argentina e em boa parte da região, começou a ler e a interessar-se pela história da América Latina, suas rebeliões e conflitos. “Encontrei Ernesto Guevara (1928-1967), Fidel Castro (1926-2016) e Cuba. Tudo isso me marcou a fogo, fez com que eu me tornasse o que sou e estimulou minha paixão pelo jornalismo”, afirmou.
Para Santiago, a leitura dos que lutam e dos que choram e conhecer o trabalho de Jorge Ricardo Masetti na nação caribenha constituíram momentos fundamentais, que o marcaram para sempre.
Em 1958, seu avô foi o primeiro argentino a chegar à Sierra Maestra e entrevistar Che e Fidel como enviado especial de Rádio El Mundo. Desde aquele momento, sua vida ficou vinculada a Cuba e um ano mais tarde, depois do triunfo dos rebeldes, convocou Rodolfo Walsh (1927-1977) para criar, junto com Guevara, uma agência de notícias a serviço da verdade, da qual foi o primeiro diretor.
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Assim, em 16 de junho de 1959, nasceu Prensa Latina, um projeto de comunicação de alcance internacional com uma visão alternativa da realidade da região.
“O que mais me chama a atenção em meu avô – comenta Santiago – é que se tornou, de certa forma, um ator importante na política latinoamericana do século XX e integrou-se à Revolução cubana.
Além disso, fundou, junto com Che e Fidel uma agência de notícias, divisor de águas na história do jornalismo regional, e fez parte de um projeto político na Argentina e no continente ao dirigir o Exército Guerrilheiro do Povo em Salta”, afirma.
Para ele, os ensinamentos de Masetti como jornalista resumem-se ao conceito formulado na inauguração de Prensa Latina: “Nós somos objetivos, mas não imparciais. Consideramos que é uma covardia ser imparcial entre o bem e o mal”.
Esse enunciado é que trato de manter em minha vida profissional e como militante, garantiu.
Prensa Latina é de alguma maneira minha grande mestra porque me ensinou a pensar e narrar meu próprio país, nossa região e o mundo de uma perspectiva latino-americana, com tudo o que isso implica, afirmou.
Segundo Santiago, não é possível a prática do jornalismo assim entendido fora de um projeto revolucionário.
A agência que meu avô pensou e pôs em prática e a Prensa Latina de hoje só se explicam pela presença de Fidel, do Che e da Revolução em geral, disse.
Nestes tempos em que o algoritmo, as chamadas fake news (notícias falsas), a inteligência artificial e a big data nos obrigam a repensar-nos como jornalistas, é quando mais se impõe a necessidade convocante daquela audácia e daquela originalidade, sentenciou.
Redação Prensa Latina
Tradução de Ana Corbisier
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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