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Governo chileno permite que policiais persigam nossa resistência, denuncia grupo Mapuche

Comunidade Mapuche Lafkenche fez a declaração após reivindicarem autoria por ofensiva contra moinho de trigo que terminou com três feridos
Aldo Anfossi
La Jornada
Santiago

Tradução:

A Polícia de Investigações do Chile (PDI) deteve, na noite desta quarta-feira (31), Ernesto Llaitul Pezoa, 26 anos, ativista e filho do dirigente mapuche e porta-voz da Coordenadoria Arauco Malleco (CAM), Hector Llaitul Carrillanca.

A promotora da província de Bío-Bío, Marcela Cartagena, explicou que a captura se realizou após as 20 horas em Tirúa, uma localidade dessa região, distante aproximadamente 700 km ao Sudoeste de Santiago, sobre a costa do oceano Pacífico. Ainda segundo Cartagena, junto ao jovem Llaitul também foram presos outros dois possíveis integrantes da CAM chamados Ricardo Delgado e Esteban Henríquez.

A promotora disse que os três são acusados de “um delito de incêndio consumado e dois delitos de tentativa de homicídio” cometidos em uma empresa florestal na noite de 9 de setembro de 2021, na comuna de Los Ángeles.

“As pessoas que estão detidas estão sendo conduzidas a resguardo policial e devem ser conduzidas necessariamente no dia de amanhã (hoje, 1º/09) perante o Juizado de Garantia de Los Ángeles, em um horário que deve ser determinado pelo tribunal”, acrescentou.

Leia também: Prisão de líder mapuche Llaitul é continuidade da estratégia de repressão do Estado chileno

A prisão de Ernesto Llaitul ocorre apenas uma semana depois da captura de seu pai, atualmente em prisão preventiva por 30 dias, a qual foi formalizada por delitos contemplados na Lei de Segurança do Estado como atentado contra a autoridades e outros de tipo comum, como usurpação de terrenos e roubo de madeira. 

Desde que Llaitul Carrillanca foi preso, as organizações insurgentes que operam nas regiões do Bío-Bío, da Araucanía e de Los Ríos, realizaram pelo menos nove ataques contra madeireiras, queimas de maquinaria e bloqueios de estradas.


Resistência Mapuche Lafkenche

Na segunda (29), outra organização insurgente, a Resistência Mapuche Lafkenche, atacou e incendiou por completo um moinho de trigo, ferindo à bala três pessoas que o resguardavam. “Reivindicamos a ação de sabotagem contra o moinho Grollmus (…), ação de respaldo aos presos políticos mapuche que permanecem em greve de fome em Arauco e Concepción exigindo seus direitos carcerários”, afirmou o grupo, que acrescentou, fazendo alusão à recente captura de Llautul pai:

“Ao povo mapuche em resistência e às expressões de weichan (luta), os convidamos a seguir fortalecendo a unidade, sobretudo em este novo contexto político em que temos visto como o governo tomou um claro posicionamento em favor dos grupos econômicos que insistem em depredar nosso Wallmapu (país mapuche), dando rédea solta às polícias e serviços de inteligência para perseguir e tentar desmantelar a Resistência Mapuche”.

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Os Mapuche Lafkenche também questionaram os meios de imprensa: “mostram como vítimas os usurpadores do território mapuche, colonos alemães que se instalaram com o aval do Estado do Chile a sangue e fogo em nossas terras antigas, assassinando e despojando nossos kiuvikecheyem (antepassados) de seus espaços territoriais da margem do lago Lanalhue”, protestaram.

O conflito mapuche se agrava e domina a agenda nos dias prévios ao plebiscito constitucional, que será realizado no próximo domingo (4) no Chile, enquanto a ofensiva dos Mapuche Lafkenche deu outro impulso à crise de segurança no sul do país, evidenciando a impotência das forças policiais e militares instaladas.

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O centenário Moinho Grollmus e a vizinha casa patronal, na localidade de Contulmo, região do Bío-Bío, a 560 km ao Sudoeste de Santiago, foram arrasados pelo fogo enquanto um dos proprietários, Carlos Grollmus, 75 anos, perdeu uma perna em razão dos ferimentos por à bala.

A polícia disse que foram encontrados aproximadamente 150 cartuchos de espingarda usados. Ao reagir, o governo chileno praticamente reconheceu que sua política de militarização não está funcionando. 

“O Estado de Exceção lamentavelmente até o momento não conseguiu responder com a prontidão que as pessoas requerem e demandam. Vamos voltar a fazer modificações a respeito de como se posicionam as forças na macrozona sul e particularmente na província de Arauco”, declarou o subsecretário do Interior, Manuel Monsalve, que viajou a Contulmo.

Comunidade Mapuche Lafkenche fez a declaração após reivindicarem autoria por ofensiva contra moinho de trigo que terminou com três feridos

Wikimedia Commons

Desde maio, o governo Boric aplica um estado de exceção no Bío-Bío e na vizinha região da Araucanía

Monsalve – a autoridade expressamente a cargo dos temas de segurança e delinquência, designada para tais propósitos pelo presidente Gabriel Boric – considerou provável que se aumentem a “dotação, os pontos de controle, os lugares onde estão localizados e o equipamento disponível”.

Desde maio, o governo Boric aplica um estado de exceção no Bío-Bío e na vizinha região da Araucanía, o que se traduz na alocação de milhares de tropas da armada e do exército que custodiam as estradas e apoiam as polícias.

Leia também: No Chile, revolta mapuche se estende e pode refletir na votação da nova Constituição

Enquanto isso, a defesa de Héctor Llaitu anunciou que “fará uma declaração e uma denúncia na qual será detalhada cada comunicação que houve com o governo. Esta declaração está sendo trabalhada e será firmada por Héctor Llaitul”, para “ter maior clareza e entregar ao país com exatidão o que ocorreu, e se houve ou não contato com o governo e com quem”.

Aldo Anfossi, correspondente do La Jornada em Santiago do Chile.
Tradução: Beatriz Cannabrava.
Revisão: Guilherme Ribeiro


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