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ToggleAs organizações mapuche que operam nas regiões do Biobío, da Araucanía e de Los Rios no sul do Chile – o Wallmapu ou nação ancestral dessa etnia – aumentaram em dias recentes seus ataques nesta zona, desafiando o governo do presidente Gabriel Boric que recorre à mobilização militar e ao estado de exceção constitucional, vigente desde maio, para conter os atos.
São aproximadamente 75 mil km² de extensão, desde a Cordilheira dos Andes até o litoral do Oceano Pacífico, onde ao menos quatro organizações armadas indigenistas realizam ações de “sabotagem”, “resistência” e “recuperação”, principalmente contra dois conglomerados florestais – que exploram até cinco milhões de hectares de pinho e eucalipto – e também contra fazendas agrícolas, escolas, igrejas, cabanas de veraneio: tudo aquilo que consideram símbolo de despejo territorial e colonização cultural.
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Em boa parte desse território, após milhares de atos violentos nos últimos anos e dezenas de mortos entre mapuche, brancos e policiais, o Estado parece ausente, escasseia a lei e a ordem, e são as organizações rebeldes que têm a iniciativa.
Uma análise breve dá conta de que, na última terça-feira (16), o agrupamento Weichán Auka Mapu (“Luta do Território Rebelde”, na língua Mapudungún) disse queimar 19 máquinas florestais em Los Rios. Na segunda-feira (15), encapuzados puseram fogo em 10 veículos em um parque eólico em construção na Araucanía. Na semana anterior, de maneira inaudita, houve um ataque a um prédio florestal na Região de O’Higgins, próxima à capital chilena. E no dia 10/08, a Coordenadoria Arauco Malleco (CAM) destruiu pelo menos 10 equipamentos da Florestal Mininco, na Araucanía.
Revolta do povo mapuche aumenta e conflito contra empresas e governo do Chile se agrava
Além disso, na semana passada foram divulgadas afirmações de Héctor Llaitul Carrillanca, líder da CAM, feitas em junho, nas quais admite a organização se apropria de madeira para financiar sua causa e adquirir armamento.
“Nós efetivamente recuperamos madeira, mas essa madeira não é parte das máfias do roubo de madeira, esse é outro tema. A madeira que nós recuperamos é para ter recursos para gerar os insumos para reconstruir o mundo mapuche. E para ter os ferros e os tiros e para ter os implementos necessários para defender as comunidades e os processos que levamos adiante”, disse.
Tais afirmações de Llaitul, acusado pelo Estado por presumidos delitos de terrorismo e contra a segurança pública, somaram-se a outras recentes onde fez um chamado para “preparar as forças, organizar a resistência armada, pela autonomia, pelo território e autonomia para a nação mapuche”.
La Jornada
A onda de fatos violentos se sucede, restando duas semanas para o plebiscito retificador da nova Constituição
Sexta ampliação do estado de emergência
Todo o mencionado ocorreu às vésperas de o governo pedir uma sexta ampliação, por 15 dias, do estado de emergência, o que foi feito. Segundo o balanço oficial, desde que a medida foi aplicada, os fatos violentos caíram 35%.
Na acalorada discussão do tema, um senador opositor fez a seguinte afirmação: “muitos de nós vamos começar a esgotar estas autorizações; se não somos capazes de tomar decisões, então é melhor que deixemos que o país se arrebente o mais rápido possível para fazer uma troca de governo”, declarou Juan Castro, da coalizão direitista Chile Vamos.
A onda de fatos violentos se sucede, restando duas semanas para o plebiscito retificador da nova Constituição. Pelo menos nas regiões onde transcorrem os conflitos e a população não indígena é majoritária, o impacto é devastador para o “aprovo”. As enquetes mostram que o “recuso” representa o dobro da outra opção. A população mapuche na Araucanía é de 23% (200 mil pessoas).
O presidente Boric declarou interesse em um diálogo de paz com os mapuche e reconheceu que existe uma “dívida histórica” com os povos nativos que deve ser reparada. Ainda assim, as organizações indigenistas por enquanto se negam a qualquer negociação.
Aldo Anfossi, especial para o La Jornada, desde Santiago do Chile.
Tradução: Beatriz Cannabrava.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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