A vice-presidenta de Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, publicou no último sábado (10) uma carta em seu site oficial e nas redes sociais repudiando uma nota aparecida no conservador periódico La Nación, na qual praticamente se pede que seja presa sua filha, a cineasta Florencia Kirchner, acusando a “máfia” dos juízes que estavam a cargo dos casos criados sem provas, e nos quais a menina de 12 anos esteve envolvida quando os supostos “crimes” nunca foram provados.
“Se a máfia e o narcotráfico têm um ponto em comum, é a pressão que se exerce sobre os filhos e familiares das pessoas que eles decretam como inimigos. La Nación, uma vez mais, volta a ameaçar prender Florencia, minha filha. Parece que não bastou à mídia hegemônica deixá-la doente”, afirmou a vice-presidenta.
Florencia, que se especializou em estudos de roteiros e audiovisual nos Estados Unidos, foi vigiada, seguida e aterrorizada por ameaças especialmente depois do nascimento de sua filha Helena Vaca Narvaja Kirchner, que já tem sete anos.
A duas vezes presidenta (2007- 2015) também foi perseguida praticamente desde que era senadora, esposa do presidente Néstor Kirchner (2003-2007), ou seja, há 12 anos.
Foto: Télam
“Devo admitir que o fragmento da nota em questão não nos traz nenhuma originalidade, mas a simples repetição de práticas mafiosa"
A carta, nomeada “De filhos, filhas e máfia”, respondia ao publicado pelo La Nación no sábado (10), sob o título de “Certezas e dúvidas da contra ofensiva cristinista”, escrito por Claudio Jacquelin, destacando um fragmento em que sustentava “a única integrante da família (Kirchner) que não tem foros e que depois desta condenação passa a ser considerada mais vulnerável judicialmente e suscetível a uma condenação que não a livraria do cárcere”.
É evidente a ameaça que contém a nota. Precisamente nos momentos mais duros da perseguição midiática e judicial contra a então presidenta, com titulares ofensivos, fotos trucadas e escandalosas, Florencia estava sob controle médico e foi levada a Cuba para ser internada e atendida, quando se multiplicavam as ameaças e a vigilância.
Cada vez que a presidenta queria visitar suas filhas, tinha que solicitar uma licença especial aos juízes, como Claudio Bonadío, que acumulava causas uma depois da outra, tão falsas como a dos famosos “cadernos” supostamente escritos por um chofer do Ministério da Produção, documentos que disse ter queimado, pelo qual o julgamento e a investigação foram abertos aceitando fotocópias dos cadernos, o que hoje não se pode sustentar.
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Curiosamente, as causas de “Hotesur” e “Los Sauces” armadas pelo juiz Bonadía, já falecido, com base em provas falsas e que foram para as mãos nada menos que do juiz Julián Ercolini, que encabeça o grupo de magistrados convidados por altos executivos do Diário Clarín, junto com um ex-agente de inteligência e dois funcionários do governo da cidade de Buenos Aires, à viagem em uma avião privado para reunir-se na mansão do empresário britânico Joe Lewis no Lago Escondido, apropriado ilegalmente, pelo qual está sob a mirada da Justiça.
É o novo escândalo político que protagoniza o chamado Partido Judicial depois de serem conhecidos os chats deste grupo, que expõe precisamente a ilegalidade e os recursos mafiosos que utilizam com total impunidade os juízes concentrados nos tribunais de Comodoro Py. “Nessas acusações, que o tribunal que interveio unificou, ditou-se a anulação por inexistência de delito”, escreveu a vice-presidenta.
Fernández de Kirchner também apontou ao jornal La Nación, por estar envolvido no caso que o juiz Pablo Cayssials (também implicado na viagem ao Lago escondido) iniciou contra a ex-procuradora Geral da Nação, Alejandra Gils Carbó, do que inclusive se falou nos chats recentemente descobertos.
“Acabamos de saber de punho e letra (literalmente) através de um chat do juiz Cayssials, que a acusação que o dito magistrado levou adiante contra a procuradora fiscal Gils Carbó (última designada constitucionalmente) foi solicitada pelo diretor do diário Julio César Saguier, o que, segundo Fernández de Kirchner, fica claro no texto do bate-papo publicado na web no último final de semana”.
Além disso, apontou o grupo Clarín pelo “assédio e demolição de Gils Carbó”, que se demitiu em 2017, lembrando quando “Héctor Magnetto, o homem forte do grupo Clarín, ordenou a publicação (…) de uma de suas duas filhas, que também havia armado um caso”.
Também se referiu a Fabián “Pepín” Rodríguez Simón, o “encarregado de comunicar pessoalmente ao advogado Gils Carbó que ela deveria renunciar, se ela e suas duas filhas não quisessem ir para a prisão”. Rodríguez, peça chave do ex-presidente Mauricio Macri em todas estas operações, é foragido da justiça argentina no Uruguai e foi expulso do Parlamento do Mercosul.
“Devo admitir que o fragmento da nota (do La Nación ) em questão não nos traz nenhuma originalidade, mas a simples repetição de práticas mafiosas que, à força de permanecerem impunes, continuam”, concluiu Cristina Fernández de Kirchner.
Stella Calloni | La Jornada
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