Genaro García Luna passou um segundo dia como espectador no processo de seleção do júri, que se não houver surpresa, emitirá o veredito se é culpado ou não das acusações criminais de conspiração com o narcotráfico por aceitar subornos multimilionários quando era o supremo chefe policial do México, entre 2001 e 2012.
Por instruções do juiz federal Brian Cogan, encarregado do processo judicial contra García Luna, a equipe de promotores sob a direção de Breon Peace e os advogados defensores coordenados por César De Castro oferecerão seus argumentos de abertura diante do júri na próxima segunda-feira (23), com o que se iniciará o desfile de testemunhas e a apresentação de provas.
Surpreendeu a divulgação pela defesa que os promotores lhes haviam informado que ampliaram sua lista de testemunhas a 70; antes só se sabia de 24 (no caso de El Chapo foram apresentadas um total de 53), embora nem todas as testemunhas nessa lista necessariamente serão convocadas a depor.
Ao mesmo tempo, ainda não se sabe quantas testemunhas poderia convidar a defesa para dar resposta às declarações das testemunhas apresentadas pelos promotores, nem que tão extensa será a apresentação de seus argumentos e evidências para confrontar o caso apresentado pelos promotores.
Defesa de García Luna aponta lacuna jurídica, mas justiça dos EUA nega retirar acusações
Uma vez mais, como no primeiro dia, os interrogatórios dos candidatos potenciais ofereceram uma amostra diversa dos cidadãos deste distrito de Nova York, que foram convocados aleatoriamente para cumprir com seu dever cívico em um júri.
Embora um dos princípios do sistema de justiça estadunidense seja que todo acusado de delitos nos Estados Unidos tem o direito de ser julgado por um júri “de seus pares”, neste caso é difícil buscar “pares” de alguém como García Luna. Hoje desfilaram ante ele e a corte desde familiares de policiais a autodefinidos “esquerdistas”, direitistas suspeitos do FBI, e gente a favor e contra a guerra às drogas, e não faltavam um surpreendente anti-mexicano.
“Quando escutamos a palavra ‘cartel’ se diz ‘uau’”, comentou uma mulher que disse que estava muito nervosa ao saber de que se tratava esse caso. Outro par de mulheres disseram que padeciam de “ansiedade” extrema, e que o tema deste caso poderia detonar esses males. No entanto, uma delas confessou que entre suas séries favoritas estavam “The Wire” – sobre o mundo criminoso e drogas em Baltimore – e “Narcos: México”.
Um candidato disse que duvidava que pudesse ser imparcial como membro do júri e, virando-se para ver Garcia Luna sentado na mesa da defesa com seu terno azul marinho, perguntou aos presentes: “Vocês creem que é inocente?”.
Um jovem disse que não poderia julgar o acusado: “sou budista… tenho estado no caminho espiritual durante 15 anos”. Por isso, não acreditava que alguém pudesse julgar outro ser humano.
Um homem opinou que “mexicanos dão um mau nome aos latino-americanos” pelo que acontece com o narcotráfico e a corrupção nesse país, mas o surpreendente era que ele era imigrante naturalizado do Equador.
Foto: Marco Peláez | La Jornada
Advogado do acusado, De Castro, tem reiterado desde o princípio que não se busca, nem se tem buscado, uma negociação com o governo
Vários comentaram que sabiam algo deste caso pelas notícias sobre El Chapo. Alguns comentaram que haviam viajado ao México e que desfrutaram de boas experiências, outros que se alarmaram pelas medidas de segurança incluindo guardas armados nas ruas e temores de sequestros de empresários, entre outras coisas.
Ao ser informado de que se buscava participantes imparciais e sem preconceitos no júri, muitos destes foram eliminados da lista de candidatos. Outros mais foram convidados a regressar nesta quinta-feira para serem parte do grupo final de aproximadamente 40, dos quais se selecionarão os 18 integrantes.
Concluído o processo de seleção, o julgamento de García Luna prosseguirá com os jurados recebendo instruções do juiz Cogan sobre o que estabelece a lei neste caso e como avaliar as declarações de testemunhas e a apresentação de provas da promotoria em torno às cinco acusações criminais federais que enfrenta o ex-secretário se Segurança Pública, e antes diretor da Agência Federal de Investigações, quatro por participar em uma conspiração para traficar cocaína e uma por fazer declarações falsas ante autoridades estadunidenses.
Vale recordar que este julgamento pode ser interrompido a qualquer momento se o acusado, por alguma razão, por exemplo como resultado de alguma negociação com os promotores, decidir declarar-se culpado. Como é de se esperar, o advogado do acusado, De Castro, tem reiterado desde o princípio que não se busca, nem se tem buscado, uma negociação com o governo.
O acusado, sob o sistema de justiça criminal, é presumido inocente até que os procuradores possam provar e convencer um júri de que ele ou ela é culpado dos crimes acusados “para além de qualquer dúvida razoável”.
David Brooks | Correspondente do La Jornada em Nova York.
Tradução: Beatriz Cannabrava.
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