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ToggleSe a primeira página do New York Times – o mais influente diário do Ocidente – correspondente à terça-feira passada; se nos aproximamos aos programas da televisão francesa ou alemã; se olhamos o que ocorreu recentemente na Espanha – em Madri e Barcelona – diante das representações diplomáticas do nosso país; se ouvimos a rádio Centenário de Montevidéu ou o emissora La Boca de Buenos AiresTelesur, da RFI ou da RTDina Boluarte e em solidariedade ao povo peruano, poderemos perceber que a causa do Peru é apreciada internacionalmente, e que nosso país está hoje diante dos olhos do mundo.
Os acontecimentos registrados nos dias mais recentes não fizeram mais que confirmar isto: a partir de muito distintos confins do planeta, veem esta antiga terra dos Incas com uma mescla de simpatia e terror.
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Simpatia pela capacidade de luta demonstrada por nosso povo; por sua firmeza, sua férrea vontade, e sua integridade, uma vez mais posta à prova; por seu empenho em enfrentar a adversidade com uma invejável dose de valentia. Terror pelo rosto emergente de uma espécie de fascismo crioulo que busca esmagar as grandes maiorias nacionais, para impor o capricho de uma senhora arrogante e soberba.
No Chile, imaginaram que o Peru se bate ante uma perversa versão de Pinochet com saias. Na Argentina, devem pensar que o general que preside o Congresso é uma espécie de Videla em perspectiva. No México e no Brasil devem ter acreditado que López Aliaga e o Congressista Montoya são a expressão de Peña Gómez e Bolsonaro.
Para os novaiorquinos, o que acontece hoje no Peru deve ser algo assim como a sequela do que teria sucedido se Al Capone tivesse alcançado o poder nos anos trinta do século passado no país das listas e estrelas.
Imagem Twitter
Peru, diante dos olhos do mundo
Na ONU e na OEA – e até na União Europeia – o nome do Peru adquiriu outra dimensão. Mas não devemos ter ilusões com o que manejam os altos organismos internacionais. A eles, não lhe interessa o nosso. Lhes importa a Ucrânia e a maneira como usam seu drama para fortalecer a Otan e conquistar o mundo, em um sonho ridículo.
Muitas coisas poderão ocorrer no futuro com a senhora Boluarte e “os 4 seus” – Keiko, Williams, Otárola e Montoya que a acompanham –, mas o que está claro é que nem ela nem eles poderão apagar o estigma que lhes caiu quando resolveram derramar sangue pelas ruas e pelos campos do Peru. O sangue – dizem os ingleses – é mais denso que a água. Por isso não se apaga nem da lei, nem da memória dos homens.
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Porém além desta visão, que não é certamente alarmante, está a daqueles que se sentem donos do Poder, neste país de “desconcertadas gentes”. Para eles, o Peru vive em absoluta calma, salvo que ela é interrompida por “pequenos grupos” de descontentes ou desadaptados, manipulados por uma opção terrorista, e empenhados em semear o caos e a discórdia.
A senhora Boluarte diz que “não entende” por que protestam os peruanos, nem sabe o que é o que pedem. Talvez para sair dessas dúvidas, recentemente convidou os mobilizados desde distintas regiões a visitá-la pacificamente em seu transitório fortim.
Pareceria, no entanto, que a dama dos múltiplos vestidos esqueceu-se de informar seu desejo à Guarda Pretoriana que a protege, porque esta lhe fechou todos os acessos. Quando pôde “conversar” com os manifestantes, estes não puderam chegar. Alberto Otárola, o “homem forte” de seu regime, bateu palmas. É ele quem qualifica os manifestantes, e decide quais são “terroristas” e quais não.
“Pequeno conflito”
Para o governo, este é um conflito pequeno, que carece de apoio cidadão e, por consequência, de importância. Mas só em Lima, em 19 de janeiro, mobilizou algo mais de 12 mil policiais para “controlá-lo” e dezenas de milhares mais tiveram que operar no resto do país porque a jornada, convocada pela CGTP e pela Assembleia Nacional dos Povos, remexeu o país inteiro. Bem poderia falar-se, então, de um “Estado Policial”, por dizer o menos.
Recordam quando se decretou o Estado de Emergência e se dispôs a ação da Força Armada? Isso foi quando o governo assegurou que no país se registravam 52 bloqueios de rodovias, o que teria que “terminar imediatamente”. Mas esses bloqueios somaram 98 depois da matança de Juliaca, e mais recentemente chegaram a 136.
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Antes, se dizia que o conflito se “localizava” no sul do país; hoje sabemos que é no Peru inteiro. A “Grande Imprensa” arguiu que se tratava de um protesto “na zona andina” do país. Agora se somaram a costa, a serra e a selva. Lambayeque, Cusco, Tacna, Tumbes, Pucallpa, Amazonas, Arequipa, Ayacucho, Apurímac, Piura, La Libertad, Loreto, Junín, Huancavelica, Cajamarca, Ica, Puerto Maldonado, San Martín, Puno, Moquegua, Huánuco e inclusive Lima. Todo o Peru combateu pela mesma causa com a mesma bandeira!
Recordam quando em 2000 “os meios” quiseram convencer-nos que o incêndio do Banco da Nação o fizeram “os vândalos”? Agora fazem igualzinho. A polícia fechou a rua e depois veio o incêndio. “Os vândalos” outra vez. Como os desterrados de Koblenz, “nada aprenderam e nada esqueceram”. Não houve mortos em Lima? Desta vez deram a ordem: não matar. Em Ayacucho e Juliaca, a ordem foi contrária.
O que mais terá que acontecer para que a senhora Dina Boluarte e sua corte arrumem as maletas e abandonem suas precárias e efêmeras posições de Poder? Se alegam vitória, não a têm. Até mesmo o Cisne tem seu último canto.
Gustavo Espinoza M. | Colaborador da Diálogos do Sul emLima, Peru.
Tradução: Beatriz Cannabrava.
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