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Ignorar cúpula do Vox no Peru é normalizar o inaceitável: o fascismo deve ser combatido

Muitos não se dão conta do que acontece ou acreditam que o perigo vai se esfumar por si só. Crasso erro, sem dúvida
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul Global
Lima

Tradução:

O recente conciliábulo neofascista celebrado em meio de estritas medidas de segurança, e encerrado na quinta-feira (30) em La Molina, foi apenas a ponta do iceberg. Ainda assim, serviu para anunciar uma violenta ofensiva da ultradireita que decidiu arremeter com tudo contra o povo peruano, usando para o efeito as mais variadas modalidades de ataque. 

A Mensagem do encontro pomposamente denominado “Pela Liberdade e a Democracia”, pretende fazer com que comunguemos com rodas de moinho. Busca nos convencer que todos os males que afetam o nosso país têm uma origem: a esquerda latino-americana culpada da fome, da miséria, do atraso, do subdesenvolvimento, da ignorância, da precariedade, da falta de moradia, dos baixos salários, da destruição do aparato produtivo do país, e tudo o que deriva do sistema de dominação vigente; há que atribuir tudo isso ao Foro de São Paulo, ao Grupo de Puebla, ao Processo Bolivariano, aos Presidentes de Honduras, Bolívia, Colômbia, México, Chile e Argentina, ao embaixador cubano credenciado em Lima e a Pedro Castillo: o Socialismo do Século XXI.

Bolsonarismo, fujimorismo, Opus Dei e Vox se reúnem no Peru em apoio a Dina Boluarte

E nos assegura que eles – VOX, os Franquistas, o PAN do México, os Macristas da Argentina, Bolsonaro, os pinochetistas do Chile, Uribe e Duque da Colômbia, a Janine Añez da Bolívia e outros mais – pulquérrimos expoentes da democracia continental – haverão de nos salvar das garras do chavismo, variante demoníaca que adotou o comunismo internacional em nosso tempo. 

Como garantia suprema de seus nobres propósitos, estes valorosos Cruzados de nosso tempo, nos informam que seus representantes no Peru serão López Aliaga, Jorge Montoya, a senhora Alva, José Williams e alguns mais. Adicionalmente, para que acreditemos cegamente em suas edulcoradas promessas, nos informam que, através de Willax TV, nos falarão seus mais legítimos porta-vozes. Maior generosidade, ninguém podia esperar!

E claro, para demonstrar que sua competência não fica em palavras, nos mostram suas ações: fechado o Museu da Memória, a fim de impedir a apresentação do informe anual da Anistia Internacionalmanifestantes em Miraflores há duas semanas; clausurado ÍMPARES; proibido o ingresso de representantes de organismos de DDHH ao Peru; atacadas as manifestações de protesto em distintas avenidas da cidade; provocada uma nova crise diplomática com a Colômbia; iniciado outro pleito com o México pela Presidência da Aliança do PacíficoDina Boluarte, e protegidos os Congressistas para que se mantenham com ela até 2026, com privilégios desmedidos. 

Muitos não se dão conta do que acontece ou acreditam que o perigo vai se esfumar por si só. Crasso erro, sem dúvida

Combate ao Racismo Ambiental
É grave o desinteresse que demonstram as “capas médias” e os setores formalmente “democráticos”




“Fatos pontuais”?

Há aqueles que não dão importância a esses fatos porque os consideram “pontuais”. E dizem ingenuamente que são risíveis e que não devem ser tomados a sério. A esses, recordamos que no século passado se dizia que Mussolini era apenas um alto-falante com pernas; que Hitler era só “o cabo austríaco”; e que os militares que se levantaram em 1935 contra a República Espanhola eram apenas “quatro generais”. Não. Todos eles levaram o mundo à borda do colapso. Ao fascismo há que tomá-lo a sério.

Não o enfrentar, pensar que logo “vai passar”, ou acreditar que é questão de “dialogar” simplesmente, constitui um erro descomunal. No passado, custou a vida de milhões e arrasou povo inteiros. Deixou na humanidade uma ferida ainda aberta.  

Mas é sim grave o desinteresse que demonstram as “capas médias” e os setores formalmente “democráticos”; é ainda mais preocupante a falta de critério que assoma nas consideradas “forças mais avançadas do movimento popular”. 

Hoje, há quem esteja pensando em suas tarefas orgânicas de tipo partidárias. Ou na criação de uma sigla eleitoral para postular listas parlamentares em eleições futuras. Uns e outros não têm visão estratégica do processo social, não se dão conta do que acontece ou acreditam que o perigo vai se esfumar por si só. Crasso erro, sem dúvida.


Comando Sul, China, Rússia…

No passado 8 de março, a general Laura Richardson, Chefe Supremo do Comando Sul dos Estados Unidos, apresentou um informe do Pentágono ante o Congresso dessa Nação. Disse ali coisas muito graves que devem ser tomadas a sério.

Admitiu que no cenário do nosso tempo, os “inimigos” da Democracia Ocidental, eram a China e a Rússia; que os Estados Unidos, diante deles devia “tomar a iniciativa” e mostrar uma “atitude beligerante” e que nas condições de hoje, a segurança de seu país estará relacionada com a região.

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Assim o reconheceu pela primeira vez de modo explícito, e propôs por isso militarizar a política norte-americana para os países do sul. Textualmente afirmou: “A defesa da Pátria Estadunidense está diretamente vinculada à resiliência, estabilidade e segurança da região da América Latina e o Caribe”. 

Com evidente preocupação apontou que o comércio da China com esta região passou de 18 bilhões de dólares em 2002 a 450 bilhões 20 anos depois, com uma projeção possível de 700 bilhões para 2035. Segundo Washington, Pequim “investe em infraestrutura, portos de água profundas, instalações cibernéticas e espaciais que podem ter um duplo uso, para atividades comerciais e atividades militares malignas”.


Rota da Seda

A iniciativa chinesa da Faixa e a Rota (ou Rota da Seda), acordada já com 21 países latino-americanos inclui desde trens bala que unem a costa atlântica com a pacífica até a construção ou modernização de aeroportos e estradas.

Por outra parte, a Rússia mantém vínculos econômicos e militares com quase todos os países da região; mais de milhão, informam através de RT e Sputnik.

E a General foi além, assegurou que o confronto que viria – com a China e a Rússia – não era geográfica, territorial ou econômica, mas sim ideológica. Desse modo, se referiu à briga pelo domínio mundial entre o capitalismo e o socialismo. Se os militares norte-americanos o enxergam assim, é bom que o digam, e que o saiba o mundo. 

Gustavo Espinoza M. | Colaborador da Diálogos do Sul em Lima, Peru.
Tradução: Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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