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Sob narcoestado, Equador pode reviver violência política no 2º turno das eleições

País vive uma onda de assassinatos, inclusive contra candidatos, intensificada nos dias que antecederam as eleições presidenciais em seu primeiro turno
Bruno Beaklini
Monitor Do Oriente Médio
Porto Alegre (RS)

Tradução:

O primeiro turno das eleições presidenciais no Equador ocorreu no domingo 20 de agosto. O resultado levou ao segundo turno a Luis González, candidata por Revolución Ciudadana (de centro-esquerda e representante de Rafael Correa, o ex-presidente exilado), com 33,33% dos votos. A segunda colocação ficou com o filho do poderoso empresário Álvaro Noboa (que já concorreu para a Presidência algumas vezes), Daniel Noboa Azin, representante da direita empresarial (e com uma agressiva agenda econômica neoliberal e ainda mais subordinada aos investimentos dos EUA). Totalizando 23,64%, supreendentemente, o herdeiro da fortuna “bananeira” teve mais votos na serra do que na costa, de onde vem sua família e fortuna.

Para chegar ao dia das eleições, o Equador viveu dias dramáticos, e nada indica que isso não volte a ocorrer no segundo turno. 

A violência política como fator de instabilidade permanente

O Equador vive uma onda de violência, inclusive política, e justamente nos dias que antecederam as eleições presidenciais em seu primeiro turno (domingo, 20 de agosto de 2023). No ano de 2022, foram 25,32 homicídios por 100 mil habitantes, o maior número de sua história.

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Segunda-feira, 14 de agosto, o partido político Revolución Ciudadana (cuja candidata Luísa González ia primeiro nas pesquisas até então), liderado pelo ex-presidente equatoriano Rafael Correa (2007-2017), denunciou o assassinato de Pedro Briones, dirigente local na paróquia de San Mateo, na província de Esmeraldas, no norte, na fronteira com a Colômbia.

Isso ocorreu 5 dias após o assassinato do candidato presidencial Fernando Villavicencio. Em 9 de agosto, o ex-líder sindicalista petroleiro e jornalista que se entusiasmava com operações do tipo Lawfare foi baleado por pistoleiros colombianos. Não foi o primeiro ataque político do ano.

Leia também: Vencedora do 1º turno, Luisa convoca Equador a derrotar multimilionário Noboa, o “Lasso 2.0”

O dia 24 de julho marcou o atentado contra o prefeito de Manta, Agustín Intriago. Foi numa cerimônia pública e o suspeito foi preso horas depois. Não por acaso, Intriago foi o quarto servidor público em exercício a ser assassinado e o primeiro prefeito de uma cidade tão grande e economicamente importante quanto a dele. Munição real também foi disparada contra a casa do governador de Los Ríos, além de Anderson Boscán, do jornal La Posta, tendo que deixar o país devido ao constante assédio do crime organizado – de fato no poder.

É preciso lembrar que esse importante município litorâneo, Manta – com instalações portuárias – voltou a contar com a presença de uma base militar norte-americana. Com a justificativa de “cooperação” e humanitarismo, as forças militares dos EUA retornaram ao Equador em 2018, após uma década de expulsão. Esta presença renovada não só reativou a missão da Base de Manta (1999-2009), como desencadeou uma nova fase de ingerência militar no país. O que se concretizou, em 2 de agosto de 2018, com a abertura de um Gabinete de Cooperação em Segurança (OCS) entre as duas nações.

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País vive uma onda de assassinatos, inclusive contra candidatos, intensificada nos dias que antecederam as eleições presidenciais em seu primeiro turno

Foto: Reprodução/Twitter
Absolutamente todas as opções estão em aberto, incluindo uma sociedade militarizada até completar a transição

Lasso, o Narcoestado e os “custos da insegurança”

Sempre há uma inflação ou dificuldade fática elevando o custo para as operações comerciais quando o risco da integridade física e da defesa de ativos afeta o dia a dia da “comunidade empresarial”. Como se observa há pelo menos duas décadas no México e antes na Colômbia, cobram-se “direitos de piso” (criando um imposto paralelo para os comércios seguirem abertos, por exemplo), ou então os riscos de perda de liquidez por sequestro ou extorsão.

Segundo a Corporação dos Grêmios de Corporações Exportadoras do Equador (Cordex), cerca de 500 pessoas ligadas ao setor foram vítimas da insegurança nos últimos 12 meses, ou seja, entre julho de 2022 e julho de 2023. Desse número de vítimas, pelo menos 20 morreram em decorrência de atos criminosos, afirma Camposano, que também preside o Conselho de Administração da Cordex. O diretor executivo da Associação dos Exportadores de Banana (Acorbanec), Richard Salazar, diz que, apesar dos estados de emergência, produtores, exportadores, trabalhadores e fornecedores, como cartoneras, continuam vítimas da insegurança.

Tanto a insegurança quanto as raras conexões estrangeiras estão intimamente relacionadas à imagem do candidato Jan Topic e sua dupla, a jovem advogada e comunicadora Diana Jácome. É importante notar que o pai do neófito designado na política é Tomislav Topic, dono de uma empresa de telecomunicações e julgado como suspeito de crimes empresariais. A parte mais controversa do passado de Topic é sua suposta formação em economia na Universidade da Pensilvânia, e ele obteve um MBA em Finanças Quantitativas em Londres. Ele também possui uma pós-graduação em segurança internacional e outra em gestão de negócios, obtidas pela Harvard Extension School e pela Harvard Business School. O filho do multimilionário atuou como presidente de uma empresa privada em nível regional e em sua própria companhia de segurança, Cajamarca.

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Supostamente ele próprio teria sido operador da Legião Estrangeira da França, com ações na Síria, Ucrânia e Costa do Marfim. Nenhum tipo de interpelação legal foi registrada na Justiça Eleitoral do Equador para impedir que esse cidadão equatoriano tenha a chance de concorrer a um cargo eletivo como veterano de guerra de outro país. Cabe perguntar, a lei equatoriana permite que seus cidadãos operem em outras forças regulares e depois concorram a cargos públicos? Há registros formais dessas operações com a participação do filho de um magnata das telecomunicações? É possível ir mais adiante.

Considerando que seu pai é dono de empresas e um renomado empresário da internet no país, uma eleição “justa” é possível em meio a uma escalada de violência política, num contexto de violência entre os pobres e ameaças ao funcionamento da economia comum? E o uso de recursos cibernéticos por Topic, está em “paridade de armas” com a candidata do partido Revolución Ciudadana, Luisa González? Sinceramente, o indicado pelo ex-presidente Rafael Correa (2007-2017) estava em absoluta desvantagem nas semanas anteriores ao primeiro turno da corrida presidencial.

Leia também: Luisa denuncia obstáculos para voto de equatorianos no exterior e exige que autoridades “corrijam erros”

A mesma vantagem comparativa tem Daniel Noboa, já na sua quinta disputa competindo pela Presidência, e dotado de uma estrutura enorme financiada pelo conglomerado comandado por seu pai Álvaro Noboa, conhecido como o Magnata da Banana. Os longos braços empresariais do clã Noboa, uma das famílias dos “capitais da Costa” que de fato comandam o país e têm sérias acusações de paramilitarismo, podem ser instrumentos tanto na campanha política.

Apontando conclusões

As capacidades operacionais dos cartéis equatorianos, aliados dos modernos cartéis mexicanos, conectados com a máfia albanesa e vinculados a mercenários (sicarios) da Colômbia podem representar um ativo político no segundo turno. Absolutamente todas as opções estão em aberto, incluindo uma sociedade militarizada até completar a transição, com quem chegar vivo ao final da disputa eleitoral. Os termos aqui são absolutos e não relativos.

Bruno Beaklini | Monitor do Oriente Médio


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Bruno Beaklini

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