As ruas de San Francisco. Assim se denominava uma interessante série da televisão EUA nos anos 70 do século passado. Com Karl Malden e Michael Douglas como protagonistas, mostrava a polícia civil encarregada de combater o crime organizado que enchia as artérias dessa cidade.
Os detetives não contavam com os Esquadrões Especiais, com os que conta hoje a polícia peruana, nem com a parafernália que ostenta. Apenas se valia de sua inteligência própria e sua informação classificada e enfrentava exitosamente as atividades delitivas, pacificando a urbe, uma das mais importantes do país do norte.
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Dina não conheceu essa história, nem pôde percorrer as ruas de San Francisco em sua recente visita à APEC. Não pode desloca-se livremente, e não pela ação de malfeitores aposentadas, mas sim pela mobilização ativa de centenas de coletivos que fizeram uma convocatória paralela ao encontro Ásia-Pacífico prevista pelos organismos oficiais.
Milhares de ativistas de todas as cores estavam mobilizados ali para expressar seu protesto pelas presenças dos “altos dignitários” convocados. Defensores das Biodiversidades e do Meio Ambiente; lutadores contra a contaminação ambiental; inimigos do aquecimento global e lutadores dos direitos humanos somaram-se para levantar a voz contra as ditaduras e repudiar o genocídio palestino em Gaza.
Como não sucedera antes, essas ruas estiveram povoadas por numerosos contestadores. Dina não poderia se deslocar ali, como lhe ocorre quando está por estes lares. Aqui tem que se acomodar, modificar rotas e adequar auditórios preparados para que não lhe mostrem rechaço.
De todo modo, através da TV, escutamos sua cacofônica perorata. E não podemos senão associá-la com a conversa dos charlatões de feira que oferecem os produtos que têm nas mãos assinalando suas qualidades: “comprem esta garrafa, está bem conservada, tem linhas astrais e belas cores”, costumam dizer para enganar aos despistados viandantes.
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Foto: Red Muqui – Wayka Peru/X
O país recorda que em 7 de dezembro, aproveitando um discurso do Presidente Castillo, a Máfia lhe assestou um verdadeiro Golpe
Algo assim disse Dina aludindo às riquezas e bondades do Peru, às suas minas, às suas pessoas e às suas paisagens com a esperança de que alguns incautos lhe comprem sua oferta. E é claro que outra vez estará sem sorte.
Dina não se atreveu a contar a realidade do Peru. Não falou da greve e das mobilizações que se operam em Huanta, nem das manifestações massivas em Andahuaylas; nem da greve dos trabalhadores da saúde; nem da iniciativa dos moradores do Bairro Chino, em Ica, para bloquear estradas; nem das similares ações daqueles que vivem em Chao e Virú; nem das Marchas de Chiclayo; nem dos protestos em distintos lugares da capital.
Dina faz papelão nos EUA enquanto Peru segue de mal a pior
Não lhe disse que hoje Loreto inteiro se mobilizada em defesa do Lote 8 de Petróleo; e Chumbivilcas, no Cusco, arde. Tampouco, claro, do absoluto fracasso da “Emergência” ditada em distritos de Lima e hoje rechaçada por 96% de sua população.
Tampouco disse que as recentes pesquisas lhe reconhecem apenas 10% de aceitação cidadã em um país que não visita – o seu –, razão pela qual em engenhoso em redes lhe recordou que já viajou três vezes aos Estados Unidos, e nem uma só a Puna. E nem tampouco falou da seleção de futebol, que segue “azarada” e voltou a perder.
E claro, até guardou silêncio em torno à censura parlamentar ao seu ministro do Interior, ao que — em conluio com Otárola — cuidou até o fim para salvar-lhe o cargo. Desta vez foram 75 os votos que somou contra Dina, a mais numerosa das quais foi Fuerza Popular.
“Sem nós, não é nada”, pareceram dizer-lhe os fujimoristas, que agora guardam distância para não se contaminarem com o malefício que ataca a presumida “Titular do Executivo”.
Se avizinha logo o 7 de dezembro. E o país recorda que esse dia, aproveitando um discurso do Presidente Castillo, a Máfia lhe assestou um verdadeiro Golpe, e o derrubou sumariamente, confinando-o a uma prisão que aspira que seja perpétua.
Mas se aproxima também outros aniversários. Será um ano da matança de Ayacucho, e da de Andahuaylas; e depois, um ano do massacre de Juliaca, que deixara 21 falecidos; e as mortes em Lima, e no norte. Total, 76.
As ruas de Lima, e as de outras cidades de Peru, parecem mais movidas que as de San Francisco, sem dúvida.
Gustavo Espinoza M. | Colunista na Diálogos do Sul, direto de Lima, Peru.
Tradução: Beatriz Cannabrava
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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