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Flickr: Ben Longstroth

Análise: Trump emerge como herói nacional após tentativa de assassinato nos EUA

Se a vitória de Trump já estava fortalecida com o último debate presidencial e o fracasso de Biden, atentado só intensificou seu favoritismo
Danny Shaw
Diálogos do Sul Global
Nova York

Tradução:

É importante ter clareza neste momento sobre o que aconteceu com o atirador. Até agora, parece que ele agiu sozinho tentando assassinar Donald Trump no último sábado (13).
Claro, os conspiracionistas também têm razão em pensar que o Estado, o FBI e outros elementos estavam envolvidos nesse esforço para assassinar o ex-presidente.

Contudo, até agora não há provas disso, pois, lendo os noticiários conservadores, os noticiários da grande mídia dos liberais e todas as perspectivas críticas mais concretas, não está surgindo prova de que havia outros atores envolvidos.

Vale lembrar que, até hoje, não sabemos ao certo sobre o assassinato de John F. Kennedy. Então, sim, há analogias históricas que devemos considerar.
Do meu ponto de vista, foi um jovem de cerca de 20 anos que era Republicano em algum momento e agora está registrado como democrata. Ele fez uma doação de 15 dólares ao partido democrata.
Não há muita informação sobre o atirador. O que sabemos é que a juventude do meu país é muito isolada, muito alienada e capaz desse tipo de coisa.

A resposta da polícia local e dos serviços secretos

A polícia local estava encarregada do prédio onde o atirador estava.

É interessante que Trump está saindo disso como um super-herói. Se a sua vitória já estava fortalecida com o debate passado e o fracasso de Biden, isso só intensificou seu favoritismo.

Ou seja, há um candidato que nem sequer consegue encontrar o palanque, não sabe subir nem descer do palanque, nem falar.

E o outro candidato levou um tiro, que praticamente só acertou a orelha. Se tivesse sido uma polegada para a esquerda, talvez estivéssemos em uma guerra civil.

Eu acredito que o impacto mais significativo do que aconteceu é que agora a classe dominante, tanto os da direita que atacavam Joe Biden quanto os de centro e liberais que atacavam Trump, estão chamando por união porque sabem que este pode ser um sinal para uma guerra civil.

E uma guerra civil aqui, no país que possuiu mais armas e que mais exporta armas e guerra, isso é um problema sério.

A retórica política e a união nacional

Podemos utilizar uma citação a Frantz Fanon: o bumerangue colonial de violência voltou sobre os próprios estadunidenses. Trump sai muito fortalecido. Todas as pesquisas estão dando mais vantagem a ele.

Trump viajou para Milwaukee imediatamente e em nenhum momento caiu. Ele se ajoelhou, pediu um sapato, algo assim. Houve cinco, seis ou sete tiros pelo que se sabe até agora.

A polícia local estava encarregada desse prédio, então parece que foi um fracasso deles e dos serviços secretos.

Como pode ser que, com tanta violência no país mais violento do mundo, onde há 400 milhões de armas em uma população de 333 milhões de habitantes, o FBI e os serviços secretos não o estavam protegendo?

Isso não se explica. Mas a retórica política agora não é de polarização. Os estadunidenses, a classe dominante sabe: a divisão favorece a quem? Aos inimigos dos EUA.

Implicações para a política externa dos EUA

Como vão continuar com seu bloqueio e suas sanções de morte contra Cuba, contra a Venezuela e a Nicarágua e sua pressão por toda a América Latina?

Como vão pressionar países como Mali e Burkina Faso que estão se rebelando? Como vão continuar com sua guerra subsidiária contra a Rússia?

Agora, a classe dominante talvez recue um pouco com os ataques contra Trump porque querem manter a guerra contra a Rússia, onde estão ganhando centenas de bilhões de dólares com a venda de armas.

A Europa é como o quintal que os EUA usam para pressionar mais os russos, utilizando toda a forma de terrorismo contra os interesses russos. E Trump diz que vai acabar com isso.

Acredito que aqueles que estão considerando que o atentado contra Trump possa ter sido um esforço interno devem refletir, mas não vejo prova concreta quanto a isso.

Trump como símbolo de unidade nacional

A mensagem de Trump, Biden e Jill Biden — a primeira-dama que ligou para Melania Trump — de harmonia, de que todos somos estadunidenses, está ganhando força.

Estão convertendo Trump, e é para rir, não para chorar, em um símbolo de unidade nacional. Todo mundo está mandando suas condolências.

É tão triste. Me deu pena. E as condolências para o povo palestino? Condolências para todas as vítimas de todos os bloqueios e guerras provocadas pelos EUA?

Bem… Trump não diz nada. Entre esta segunda (15) e terça (16), ele vai anunciar seu vice-presidente.

O nome mais provável é o de J. D. Vance, que é um jovem extremista, um trumpista. Ele está dizendo que os democratas são responsáveis por essa tentativa de assassinato.

Bem, a retórica democrática dos democratas foi que Trump é a maior ameaça existencial que o país já viu, que ele é um risco para a democracia. Então, a retórica desempenhou seu papel sem dúvida.

Também estão dizendo que Marco Rubio poderia ser o vice-presidente, o que seria obviamente terrível para o Caribe e as Américas. Essas são as informações que temos até agora.

Trump chegou a Milwaukee, em Wisconsin, onde será realizada a conferência Republicana, imediatamente, não ficou descansando.

E o simbolismo de que ele se levantou e ergueu o punho três vezes, imaginem vocês, em uma nação que precisa de heróis e que não confia em políticos… Então Trump saiu dessa história digna de Hollywood como o vencedor.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Danny Shaw É professor de Relações Internacionais da Universidade Pública de Nova York (CUNY), pesquisador do Conselho de Assuntos Hemisféricos e analista de Relações Internacionais pelo TeleSUR, RT e HispanTV. É autor dos livros: "The Saints of Santo Domingo: Dominican Resistance in the Age of Neocolonialism", "Paisagens de amor e combate", entre outras publicações e de dezenas de artigos anti-imperialistas. É também fluente em inglês, espanhol, kreyol haitiano, portugués e kriolu kaboverdianu por ter acompanhado os movimentos sociais desses países.

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