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Anúncio de retirada de tropas de Kherson pode ser estratégia russa, dizem analistas

Ninguém sabe o que se passou e ao longo da última terça-feira (14) circularam todo tipo de hipóteses
Juan Pablo Duch
La Jornada
Moscou

Tradução:

Duas agências noticiosas oficiais do Estado russo – TASS e Ria Novosti – quase ao mesmo tempo difundiram nesta segunda-feira (13), citando informação do ministério da Defesa, que a Rússia decidiu começar o “reagrupamento” das tropas na região de Kherson, onde do outro lado do rio o exército ucraniano está instalado há semanas. 

“Ao analisar a situação que havia, o comando do grupo de exércitos Dnieper (na frente de Kherson) decidiu mover as tropas para posições mais favoráveis ao leste do Dniepre“, informou o ministério da Defesa. “Uma vez reagrupadas as tropas, poderão ser utilizadas para atacar em outras direções da frente, agregaram”, reportou a TASS, em termos similares à notícia que foi dada pela Ria Novosti.

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Dez minutos duraram estes telegramas nos serviços das agências oficiais russas, que se desculparam por difundi-los “por erro”. Ninguém sabe o que se passou e ao longo desta terça-feira circularam todo tipo de hipóteses.

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O próprio ministério da Defesa assegurou que se tratou de uma “provocação ucraniana”, sem mencionar com que fins o fez; vários analistas pró-ucranianos sustentam que teve todas as características de uma “armadilha russa”, mas se perguntam porque só durou 10 minutos; na TV pública, não faltou quem a atribuísse a um “erro humano das duas partes”; e os blogueiros militares pró-russos acreditam que pode ter sido um “golpe baixo ao general Mijail Teplinsky” (a cargo das tropas russas na frente de Kherson) de seus inimigos no Estado Maior do exército da Rússia.

Nenhuma destas possíveis versões parece mais crível que a única de rechaçar o Kremlin: as tropas, nessa zona, tiveram que retirar-se a posição menos ruim, opina o especialista Yuri Fiodorov. 

Ninguém sabe o que se passou e ao longo da última terça-feira (14) circularam todo tipo de hipóteses

SIC
Situação na frente de batalha está estancada e nem Ucrânia, nem Rússia, podem ganhar a guerra, afirma militar ucraniano




Do outro lado

Do outro lado das barricadas, o general Valeri Zaluzhny, comandante em chefe do exército ucraniano, declarou à revista inglesa The Economist que se estancou a situação na frente de batalha e nem Ucrânia, nem Rússia, podem ganhar a guerra. A partir do escritório do presidente Volodymyr Zelensky choveram críticas ao militar mais respeitado pela população ucraniana. 

Dizem na cara de Zalushny para lavar a roupa suja fora de casa, embora – coincidem os observadores – só disse o que parece óbvio: se não for feito algo para romper o atual equilíbrio de forças, a Rússia acabaria por impor-se por seu potencial econômico, arsenal, número de habitantes, extensão e outros fatores. 

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A imprensa ucraniana detecta estranhos movimentos a partir da presidência em torno à figura de Zalushny: por um lado, Zelensky não pode destituí-lo por ser o militar mais popular na Ucrânia e, por outro, salta à vista a intenção de reduzir sua influência mediante a remoção de alguns de seus colaboradores mais próximos, apesar do efeito bumerangue que isso pode ter.

Nesse contexto, o mandatário ucraniano, sem explicar os motivos, destituiu na semana passada o general Vikor Horenko, titular do comando de operações especiais do exército, e neste momento continuam as especulações sobre o que vai acontecer com outras três figuras-chave do entorno de Zalushny:

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Tatiana Ostashenko, chefa dos serviços médicos do exército; Oleksandr Tarnavsky, comandante do grupo operativo-estratégico de tropas “Tavria”; e Serhiy Nayev, chefe do grupo unificado do exército. Segundo o diário Ukrainskaya Pravda, os três têm os dias contados. 

Diante disso, concluem os analistas, Moscou e Kiev querem que nada nem ninguém questione a liderança de Putin e Zelensky, toda vez que emergem no horizonte encontros com as urnas dentro de meio ano (na Rússia haverá com toda segurança eleições presidenciais; na Ucrânia, ainda não é seguro e tudo indica que se optará por adiá-las), e ambos aspiram manter-se no poder.

Juan Pablo Duch | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
Juan Pablo Duch Correspondente do La Jornada em Moscou.

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