Depois da histórica declaração do líder da esquerda separatista basca, Arnaldo Otegi, na qual asseverou que “nunca devia ter-se produzido” a dor provocada pelos atentados do ETA, o dirigente basco instou ao ex-presidente do governo, o socialista Felipe González a reconhecer que ele foi quem “organizou os GAL – Grupos Antiterroristas de Libertação”.
Otegi se refere aos Grupos Antiterroristas de Libertação (GAL), que foram financiados pelo Estado espanhol durante as décadas de setenta e oitenta do século passado para desenvolver um política de guerra suja contra os militantes do ETA, na qual se incluía sequestros, torturas, assassinatos e desaparecimentos forçados.
O País Basco e o resto da Espanha comemoram nestes dias um aniversário crucial na história; o décimo ano de que ETA decretou o final de sua luta armada e com isto se iniciou o processo de pacificação definitivo para o histórico conflito. Assim se punha fim a cinco décadas de luta clandestina, na qual o ETA perpetrou dezenas de atentados que custaram a vida a 850 pessoas e provocaram ferimentos em mais de 2.500.
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Otegi, como máximo representante da esquerda abertzale, a que se situou como o “braço político do ETA”, pela primeira vez se afastou da violência do grupo armado e sobretudo lamentou a dor provocada às vítimas e seus familiares.
“Queremos trasladar-lhes nosso pesar e dor pelo sofrimento padecido. Sentimos sua dor e, a partir deste sentimento sincero, afirmamos que ela nunca devia ter-se produzido e que a ninguém pode satisfazer que tudo aquilo acontecesse, nem que se houvesse prolongado tento no tempo”, declarou na segunda-feira.
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Arnaldo Otegi é o lider da esquerda separatista da Espanha
Um dia depois desta histórica declaração, o próprio Otegi chamou os demais envolvidos no histórico conflito, sobretudo o ex-presidente de governo Felipe González, que ocupou o poder entre 1983 e 1995, precisamente o período em que se registraram os fatos mais sangrentos e numerosos do terrorismo de Estado contra militantes do ETA.
O líder independentista afirmou que seria um “passo qualitativo importante para a convivência que agora outros fizessem suas declarações de 18 de outubro e fizessem sua própria autocrítica, não para pedir-lhes contas ou perseguições penais, mas sim para contribuir à convivência”.
E afirmou: “Que importante seria, por exemplo, que Felipe González dissesse: ‘Eu organizei os GAL’. Não como um reproche, mas sim para que cada um assuma o que fez. Nós não temos nenhum problema em assumir o que fizemos. Queremos saber se eles estão dispostos a fazê-lo. Que grande aporte seria para a convivência que alguém dissesse, como nós dissemos ontem, que nunca jamais nesse país ninguém deveria ter sido torturado, nem desaparecido, nem perseguido”.
Apesar de anteontem, uma parte do governo espanhol e do próprio Partido Socialista Obreiro Espanhol (PSOE) ter celebrado as palavras de Otegi como “históricas”, nesta terça-feira a porta-voz do Executivo do socialista Pedro Sánchez, Isabel Rodríguez, assegurou que são palavras ainda “insuficientes” e que “deveriam pedir perdão”. “Este é um passo insuficiente, além disso deveriam pedir perdão; os gestos estão bem, mas devem ir muito além”, assinalou a representante do governo.
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Entretanto, no Senado, o direitista Partido Popular (PP) manobra para impulsionar uma declaração institucional de condenação expressa ao ETA com motivo do décimo aniversário, sobretudo para tentar que a atual plataforma abertzale EH-Bildu não se some e o politize
O PSOE anunciou que se retirava das negociações, precisamente por essa tentativa de manipulação da direita em um tema tão sensível, motivo pelo qual a moção não será aprovada, ao requerer a unanimidade.
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