Todos os meios de comunicação consideraram vencedor do debate o candidato Sergio Massa (até o Clarín), com comentários tão pueris como os da revista Radiolandia quando anunciava uma nova fotonovela.
Certamente, sim, o vencedor foi Massa, principalmente pelo critério das pessoas de raciocínio cognitivoConnan.
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Sem dúvida a pose de rapaz esperto de filme de Hollywood adotada por Massa, ganhou de longe do desalinhado, balbuciante e ruborizado Milei, que em alguns momentos continha a respiração tentando se controlar.
Detalhe este que Massa não aproveitou por não olhar para ele, posando para a câmara. O que fazia olhando para a câmara, quando seu oponente estava falando com ele?
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Milei parecia Bambam dos Flintstones, lutando com a doninha Pepe Pew fazendo de esgrimista. Houve momentos realmente patéticos, nos que Massa decidiu com indulgência não dar a estocada final. Por que conceder esta vantagem, quando o que está em disputa são os destinos de uma nação?
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Quando Milei esquece que Macri é seu aliado neste segundo turno e o acusa de ter feito cair a renda, Massa lhe poupa a vergonha e não o põe no atoleiro de ter que explicar sua atual sociedade com “a casta”; tampouco o fez cada vez que Milei o associou ao peronismo–kirchnerismo.
Foto: Reprodução/X (modificado)
O resultado prático dessa farsa é que os que duvidavam já sabem que Milei é um perigo e não vão votar nele: ponto para Massa
Karina ou Javier?
Mais adiante, depois de vários exercícios respiratórios de Milei para conter-se e quando este traz à baila resultados negativos da mulher de Massa, talvez cumprindo negociações para garantir o debate, Massa não pergunta a Milei pela irmã.
Não seria um desatino, já que quando a mediadora Liliana Canosa perguntou a Milei por sua irmã, este a comparou entre lágrimas com Moisés, dizendo ser apenas o Abrahão que Deus mandou a Moisés para divulgar. Não teria sido bom que os argentinos soubéssemos quem iria governar de verdade caso ganhe as eleições… Karina ou Javier?
Ações concretas de Massa frente ao berreiro de Milei alteram cenário eleitoral na Argentina
Quando Milei o sacaneia com a história da nafta, o compassivo Massa novamente o salva, sem referir-se a Gabriel Bornorini, nem esfregar lhe na cara a batida no banco de Benegas Lynch, a corrida do Dólar a $ 1.200, nem o cartel de Sinaloa, nem a suástica do logo do Banco CMF.
Em outra parte do debate, Milei pede a Massa que lhe explique a mobilidade social, coisa que Massa acabava de explicar e esta foi outra estocada final que Massa decidiu não dar. Mas quando Massa comete o erro de reconhecê-lo presidente, Milei não deixou de aproveitar a oportunidade.
Em várias ocasiões Milei insultou e levou para o nível pessoal questões que deviam ser estritamente políticas, violando os códigos estabelecidos no debate e enunciados pelos dois bonecos, que quando Milei extrapolava, nada diziam.
O resultado prático dessa farsa é que os que duvidavam já sabem que Milei é um perigo e não vão votar nele: ponto para Massa. Também sabem que para garantir que Milei não ganhe não basta não votar nele; deverão votar em Massa, o voto em branco ou não votar são opções perigosas: ponto para Massa.
Dois a um. Ganhou Massa, porque Milei leva o ponto de não ter saído fora; “demonstrou” que não é um louquinho completo e desajustado. Terá sido protegido por um pacto para garantir o debate?
Não é que eu não goste de festejar, é que aprendi que em Tróia ganharam com o cavalo, justo depois dos festejos.
Enrique Box, o Ovelho Negro | Colunista na Diálogos do Sul.
Tradução: Ana Corbisier
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